Risco moral e avaliações de desempenho “Prova”

O problema do risco moral na remoção de provas para avaliação de desempenho em disciplinas

Jozias Rolim de Araújo Junior
Economia da Informação
4 min readApr 19, 2021

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Fonte: Envato, Licença: Blog Medium Economia da Informação

Risco Moral: Definição

Segundo Ducat, Risco moral consiste no perigo que se origina de motivos para a destruição da propriedade [bem] por incêndio ou que permita a sua destruição depois que um contrato se estabelece (DUCAT, 1865, pp. 164–165, em BAKER, 1996, p. 249). No geral, risco moral é quando um indivíduo passa a ter uma segurança (contrato), fazendo com que não exista ou diminua o seu incentivo para se prevenir (dado que sua condição mudou com o contrato). No dia a dia temos vários exemplos de risco moral:

  • Um indivíduo que não possui uma apólice de seguro de automóvel, tende a guardar seu carro em garagens, se preocupa com o estado geral do automóvel e se o mesmo se encontra em segurança. Entretanto, à medida que adquire uma apólice de seguro, o indivíduo passa a estacionar em qualquer lugar, sem se preocupar com o estado do veículo, ficando com uma sensação de tranquilidade, uma vez que existe uma apólice que o protege em caso de sinistro.
  • Um evento universitário onde a presença é suficiente para entrega de um certificado de participação, o indivíduo pode se fazer presente mas não se preocupar em aprender com o que está sendo apresentado, pois não há incentivo além de sua presença. Ele pode fazer o mínimo, assinar folhas de presença, por exemplo, e terá o mesmo benefício que os que se esforçaram mais para aprender.

Avaliações de desempenhos e o risco moral

Conhecida como o terror de todos os alunos, as provas, tem por objetivo criar um incentivo para o aprendizado e também avaliar o desempenho dos alunos quanto a absorção do conhecimento necessário para cumprimento do objetivo docente. Remover a etapa da “prova” e avaliação de desempenho, cria um problema de risco moral. Este problema de risco moral pode ser descrito da seguinte forma: Dado que temos alunos de alta performance e de baixa performance, vamos avaliar a remoção da prova para os dois tipos de públicos:

  • para os alunos de baixa performance (pouco interesse), o incentivo para estudar (antes definido pela prova) passará a não existir, o que pode fazer com que seus desempenhos no aprendizado possam ser ainda piores — Não existe um incentivo para que eles se esforcem.
  • já para os alunos de alta performance (auto-interessados), a remoção da prova não surtirá efeito, uma vez que o seu motivador não é a prova e sim ter uma nota máxima ou aprender o máximo com o conteúdo.

Neste momento, nasce um dilema: “Como remover a prova do processo avaliativo de aprendizagem e ainda manter/criar um incentivo para que os alunos de baixa performance sejam motivados a ter notas acima da média ?

Avaliações de desempenho alternativas a “prova”

Existem alguns processos pelos quais os alunos podem ser avaliados, e que apresentam resultados satisfatórios, quando comparado a uma prova, por exemplo: Seminários, escrita de resumos, resenhas, listas de exercícios, mesas redondas, escrita de artigos em blogs, metodologias ativas de aprendizagem e etc.

  • Seminários: são apresentações sobre um tema pesquisado, podem ser realizados individualmente ou em equipe;
  • Resumos: escrita de texto, apresentando os principais pontos de um conteúdo visto;
  • Resenhas: escrita de texto, apresentando seu ponto de vista sobre o conteúdo visto;
  • Lista de exercício: questões problemas a serem resolvida com base em um conhecimento adquirido;
  • Mesas redondas: discussões sobre um tema específico onde pontos de vistas são levantados e defendidos ou retrucados por um conjunto de pessoas com opiniões simulares ou não;
  • Artigos em blogs: similar ao que você está lendo, para que um artigo seja bem escrito, o escritor precisa conhecer sobre o assunto que está discorrendo, sem a pressão de uma avaliação de artigo científico, onde existe uma banca avaliadora. O escritor é motivado e falar sobre o seu tema com suas próprias palavras e de acordo com seu entendimento, o que fica, de certa forma, fácil para quem detém o conhecimento (neste caso o docente), avaliar se o aluno compreendeu bem ou não o conteúdo.

Conclusão

Como podemos ver, não é possível simplesmente remover a “prova” do processo de avaliação de aprendizagem, pois iremos criar um problema de risco moral.

A alternativa encontrada para que não exista o problema do risco moral e que os alunos de baixa performance continuem a ter um incentivo, substituindo o mecanismo de avaliação “prova” por outro(s), como por exemplo escrita de artigos (como este) em blogs, o que de certa forma, remove a pressão sobre o “bicho papão” das provas e ainda mantém um incentivo, tanto para alunos de alta performance, quanto para alunos de baixa performance a escreverem ainda mais sobre os temas pesquisados, levando-os assim a obterem notas acima da média.

Leituras recomendadas pelo escritor

Risco Moral — Daniel Pereira

Moral Hazard e a Crise Hipotecária — Luís Felipe

Dicionário do Minuto: Assimetria Informacional — Minuto Econômico

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Jozias Rolim de Araújo Junior
Economia da Informação

Gerente de Data & Analytics no Grupo Carrefour. Cientista de Dados. Mestrado em Sistemas da informação pela USP