Capítulo IV — Processos eleitorais são terreno fértil para manipulação

Rariane Costa
Editorial J Famecos
3 min readJul 17, 2018

Após eleição de Donald Trump nos EUA, questão ganhou força no cenário político global

Em 2016, a maior potência mundial (EUA) iniciou processo eleitoral para eleger o próximo presidente da República. Em meio às polêmicas que cercavam o debate político envolvendo os então candidatos Donald Trump e Hillary Clinton, um termo ganhou destaque: fake news. Considera-se fake news, mentiras ou inverdades publicadas on-line, revestidas de artifícios que as fazem convincentes o suficiente para se passarem por verdades. No entanto, uma das questões que as tornam fenômeno complexo é justamente a ausência de uma definição formal. Hoje, elas são uma das peças na disputa política global.

Crescem as preocupações relacionadas à influência de notícias falsas em processos eleitorais como exemplo, o peso que essas estratégias de informação teriam tido na vitória do atual presidente dos Estados Unidos ainda é objeto de debate. Impulsionado pelo interesse na vitória de Trump, o governo russo é acusado de ter financiado a prática de fake news para prejudicar a candidatura da opositora, Hillary Clinton. Os russos, no entanto, negam envolvimento.

Foto por Joakim Honkasalo

No caso do Brasil, existe hoje um cenário político de polarização, além do crescimento de posicionamentos extremistas. A proximidade das eleições para presidente da República, senadores, deputados federais e estaduais, mais os governadores estaduais — que serão em outubro — se torna um agravante neste contexto. Para o professor e pesquisador em jornalismo Rogério Christofoletti, as fake news podem e vão influenciar no debate político.

“No meio da campanha, as fake news podem trazer temas ou enviesar esses assuntos nas discussões públicas, fortalecendo ações para negativar certos candidatos ou propostas”, adverte Christofoletti.

As notícias falsas se tornaram uma ferramenta utilizada por partidos políticos para divulgar ou denegrir a imagem de determinados candidatos. Para Christofoletti, “campanhas de difamação são sempre muito comuns nesses períodos”. Essa prática se torna frequente principalmente no ambiente virtual, uma vez que os veículos digitais têm um maior poder de alcance, devido à facilidade e a rapidez na publicação de conteúdo.

As fake news, principalmente no ambiente virtual, são elemento relevante no cenário das eleições. Para Christofoletti, essa questão pode trazer instabilidade para o debate político, pois “as redes sociais, associadas a sofisticados mecanismos de propaganda e fake news, podem interferir na disputa de pontos de vista, desequilibrando o debate, tornando cada vez mais assimétricas as forças políticas”. Ainda, segundo ele, também causam preocupação os bots, que são “sistemas automatizados que são programados para fazer o que milhares de pessoas poderiam fazer, em muito menos tempo”. Com eles, é possível realizar campanhas coordenadas de difamação ou exaltação de candidatos, envio em massa de spam entre outros serviços.

Visando diminuir a influência de notícias falsas nas próximas eleições, a justiça eleitoral adotou medidas de combate a esse conteúdo. Em resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aprovada em 18 de dezembro de 2017, foi permitida a remoção de conteúdo sem veracidade da internet. A resolução também pode ser utilizada como ferramenta de censura, se acionada por políticos incomodados por denúncias jornalísticas. A mesma resolução, no entanto, abre a possibilidade de ser impulsionado conteúdo em redes e plataformas digitais pelos candidatos, como em anúncios do Facebook. É a mesma estratégia que supostamente teve influência russa para a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Nestes casos, candidatos podem pagar pelo direcionamento e potencialização de conteúdo divulgado.

Considerando esta questão, Christofoletti aconselha “nas próximas eleições, sugiro que as pessoas se segurem um pouco e não compartilhem tudo o que lhes chega pelas redes sociais ou serviços de mensagem instantânea”.

Confira os capítulos anteriores:

Capítulo I — Notícias falsas escondem interesses.

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