Esses craques não ganharam uma Copa do Mundo. Azar da Copa.

Raphael Evangelista
Enciclopédia das Copas
11 min readAug 25, 2022

Johan Cruijff

Imagem: Shutterstock/The New Yorker

É inegável que a Holanda dos anos 1970 foi revolucionária no futebol mundial. O jeito diferente de jogar, a ofensividade, o esquema e até a numeração dos jogadores chacoalharam o esporte.

Só faltou serem coroados com um título de Copa do Mundo, que quase veio com a ajuda gigantesca de Cruijff, um dos pilares dessa revolução.

Johan foi um dos líderes da geração que ficou com o vice em 1974 e 1978 (ele não foi à Copa da Argentina em protesto contra a ditadura, conforme contou em seu livro, mas esteve na preparação da equipe), também ganhou a bola de ouro em três oportunidades (71, 73 e 74).

A Holanda bateu na trave três vezes para conquistar o título e privou o mundo de ver grandes craques sendo campeões mundiais.

Também sofreram dessa ausência de títulos holandeses: Marco Van Basten, Dennis Bergkamp, Arjen Robben e Ruud Gullit.

Ferenc Puskás

Imagem: Wim van Rossem for Anefo — Nationaal Archief

Se tem um craque dessa lista que é até pecado nunca ter ganhado uma Copa é esse.

Puskás era o líder da inovadora seleção Húngara que fez história na primeira metade da década de 1950, quando ficaram quatro anos invictos (pra ter uma ideia, a um mês da Copa, os magiares somavam 23 vitórias, 4 empates, 114 gols a favor e 26 contra), ganharam a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1952 e terminaram a Copa de 1954 com o vice após derrota contra a Alemanha. O curioso é que na fase de grupos quando “não valia nada”, os hungaros golearam a Alemanha por 8 a 3. Ao lado de Kocsis, outro craque daquela geração, Puskas fazia chover em campo.

Em 1956 estourou na Hungria uma revolução e muitos jogadores optaram por não voltar ao país. Ele e a delegação de sua equipe, o Budapeste Honvéd, estavam na Espanha para uma partida da Liga dos Campeões e foi por lá mesmo que ficou e acabou se naturalizando espanhol.

Com isso, ele foi jogar pela seleção da Espanha, mas não chegou a ir à Copa pois a seleção não conseguiu se classificar para 1958.

Já em 1962, a história foi diferente e aos 35 anos, ele esteve no Chile com uma atuação bastante apagada, diferente de oito anos antes. A última partida dele em Copas foi na derrota para o Brasil que eliminou a Espanha.

Uma curiosidade sobre a fase espanhola de Puskas, é que na repescagem contra o Marrocos valendo vaga para a Copa de 1962, Puskas fez seu primeiro jogo pela seleção ao lado de ninguém menos do que Di Stefano. Imagina só um ataque desse no auge?

Alfredo Di Stéfano

Imagem: Max Cooper/Sports Illustrated

Uma lenda do futebol mundial, ídolo supremo do Real Madrid, multi campeão, craque, goleador, etc.

Mas a carreira dele tem uma pequena lacuna: ele nunca conseguiu entrar em campo em Copa do Mundo, quem dirá ter sido campeão.

Di Stéfano defendeu três seleções diferentes.

Naquela época jogadores que disputavam a liga local jogavam pela seleção do país em alguns casos, como foi o dele.

Por seu país natal, jogou pouco: foram seis partidas em 1947, quando era do River Plate. Pela Colômbia, estreou em 1949, realizando quatro partidas, durante o período em que fez história nos Millionários.

Ficou bastante complicado para Di Stéfano ir para uma Copa, já que nos anos 1940 não tivemos Copa do Mundo por conta da 2a. Guerra Mundial, além disso, o futebol argentino passava por alguns problemas, por isso os hermanos não participaram das eliminatórias para 1950 e os colombianos por sua vez, viviam uma fase política turbulenta, que também atingiu o futebol.

Em 1953 ele se transferiu para Madrid, onde viraria um dos maiores nomes de todos os tempos do Real e consequentemente acabou indo defender as cores da seleção espanhola à partir de 1957.

Infelizmente pegou uma fase bem ruim da Fúria, que acabou ficando de fora da Copa de 1958.

Já veterano, conseguiu a oportunidade de disputar a Copa de 1962, porém, chegou ao Chile lesionado e não conseguiu se recuperar antes da eliminação da Espanha.

Lev Yashin

Imagem: Fifa.com

Pra muita gente é o melhor goleiro da história do futebol.

É verdade que ele era muito avançado para sua época, quando não existiam graaaandes goleiros e não foi por um acaso que o “Aranha Negra” (por causa de seu uniforme todo escuro, que na verdade era azul escuro) é até hoje o único goleiro a ter vencido o Ballon D’Or da France Football, aliás, a revista francesa criou um prêmio especial para os goleiros, que leva o nome de Yashin.

Defendeu as cores da União Soviética em quatro Copas do Mundo (de 1958 a 1970). O mais perto de um título foi a semifinal de 1966, quando a URSS foi eliminada pela Alemanha.

Não ganhou a Copa, mas recebeu o reconhecimento da FIFA diversas vezes em vida, inclusive com o prêmio de melhor goleiro do século XX.

George Best

Imagem: EMPICS Sport

George é um dos mais celebrados jogadores da história do Manchester United e há quem atribua a ele a fase ascendente do clube nos anos 1960 e 1970.

Apesar de ser um popstar na Inglaterra, craque, habilidoso, goleador e uma figuraça, Best era natural da Irlanda do Norte, um país com uma tradição quase nula em Mundiais e por isso ele sequer jogou uma Copa.

Seu país teve um promissor oitavo lugar na Copa de 1958, mas Best só estrearia por seu país em 64. Em 1966 quase conseguiram a classificação para jogar “em casa”, mas não rolou por um ponto na eliminatórias. Ele ainda ainda lutaria para ajudar seu país ir para Copas seguintes, novamente sem sucesso. A Irlanda do Norte só iria novamente para uma Copa em 1982.

Eusébio

Imagem: Nostalgia Futbolera

O “Pantera Negra” de Portugal era o principal jogador do Benfica nos anos 1960. Ganhou 11 títulos de campeão nacional e 1 Liga dos Campeões.

No seu auge foi o principal nome de Portugal na Copa de 1966 e um dos destaques daquele Mundial, onde anotou 9 gols em seis jogos e fez Portugal atingir um — até então — inédito terceiro lugar vencendo adversários fortíssimos como a União Soviética, a Hungria e o Brasil de Pelé.

Quem sabe se estivesse 40 anos depois, junto com a geração de 2006, que também chegou ao terceiro lugar com Cristiano Ronaldo e Figo na equipe, já imaginou?

Michel Platini

Imagem: Gerard Rancinan; Pierre Perrin/Gerard Rancinan; Pierre Perrin/Sygma/Corbis/The Guardian

A França teve algumas boas gerações que faziam campanhas medianas em Copa ao longo do tempo e umas que vez ou outra encatavam, como foi a de 1958, liderada pelo artilheiro Just Fontaine, que chegou até a semifinal do Mundial.

Mas foi nos anos 1980 que Le Bleus sentiu o gostinho de que era questão de tempo até o título Mundial vir e a esperança era nos pés de Michel Platini, especialmente por ele ter sido o destaque na campanha da Euro-1984, primeiro grande título francês, além de deitar e rolar pelos clubes.

No entanto, nas três Copas em que esteve (78, 82 e 86) Platini não conseguiu repetir o sucesso e o melhor que sua geração conseguiu foram chegar à semi em 1982 e 1986 perdendo ambas para a Alemanha.

Ao menos em 1986 terminaram a Copa com o terceiro lugar.

Paolo Maldini

Foto: Imago

Maldini esteve na seleção italiana entre 1988 e 2002.

Representou a Azzurra em quatro Copas: em 1990, onde foi terceiro colocado; 1994, com o vice-campeonato; 1998, onde foi treinado por seu pai Cesare Maldini; e 2002, quando, após a eliminação dos italianos, se aposentou da seleção.

Recebeu um convite para voltar em 2005, com chances de ir para a Copa de 2006, mas não aceitou pra poder cuidar do seu físico ao longo da temporada. A essa altura Maldini já era bastante veterano. Perdeu a oportunidade de merecidamente estar no grupo do tetra. Coisas da vida.

Mas ele não é o único italiano lendário que não sentiu esse gostinho, dá pra citar também outros nomes: Roberto Baggio e Gianni Rivera, que eram os um dos melhores jogadores do mundo quando foram vice em 1994 e 1970, respectivamente.

Guillermo Stábile

Imagem: talksport.com

Stábile foi um dos primeiros ídolos do futebol argentino tanto quanto como jogador e como treinador. Ficou marcado como o primeiro artilheiro de uma edição de Copa do Mundo ao marcar oito gols em quatro partidas, inclusive um na final, vencida pelo Uruguai por 4 a 2.

O mais curioso é que ele nem era titular na Copa de 1930. Stábile entrou a partir do segundo jogo por conta de uma crise nervosa do titular Roberto Cherro.

Messi & Cristiano Ronaldo

Imagem: Goal.com

Desde 2006 que o Mundo vê essa dupla brilhando em campo e fazendo chover em seus clubes. Não é por um acaso que os prêmios de melhor jogador do mundo sempre estiveram com um dos dois na maior parte dos anos, desde então.

Messi bateu na trave em 2014 e não ficou com o título, em uma Copa que parecia escrita para ele ganhar, levando a Argentina nas costas.

Já CR7, chegou perto em sua primeira Copa, comandado por Felipão e sendo coadjuvante de uma equipe que tinha Figo (outro que ficou sem o título) como o principal craque. Na ocasião, Portugal se contentou e comemorou muito um honroso quarto lugar.

2022 pode ser a última chance de um deles conseguir o feito. Você apostaria em quem?

Também tivemos craques de seleções de menor tradição no futebol que dificilmente teriam condições de título.

George Weah

Melhor jogador do Mundo em 1995, o craque nasceu na Libéria, que nunca cheogu perto de se classificar para a Copa.

Hristo Stoichkov

A Bulgaria até teve presença constante nas Copas, especialmente nos anos 1990. Muito graças à esse cara, que jogava o fino da bola no seu auge. Tanto que brilhou no Barcelona e foi Ballon d’Or, o segundo melhor do mundo da FIFA em 1994 e um dos artilheiros da Copa, onde levou seu país a um sensacional quarto lugar.

Andriy Shevchenko

Quem nunca colocou o rápido artilheiro no seu time do video game nos anos 2000? E com razão, o ucraniano era um craque nos clubes, mas não repetiu as mesmas atuações pela seleção em Copas do Mundo, esteve em 2006, mas tinha muita gente melhor naquela edição...

Gareth Bale

Finalmente conseguiu junto com o País de Gales chegar à uma Copa e estará no Catar em 2022, mas cá pra nós, o craque que fez história no Real Madrid dificilmente vai sair com a taça.

E outros que não estiveram nas melhores gerações de seus países:

Rummenigge, da Alemanha

Era um monstro do futebol alemão no começo dos anos 1980 e o principal nome da seleção que até ia bem, mas ficou sem taça.

Butrageño e Gento, da Espanha

É bem verdade que apesar da “Fúria” só conseguir seu primeiro título em 2010, os espanhóis sempre surgiam com equipes promissoras e com craques que acabaram ficando pelo caminho, como essa dupla, em épocas diferentes.

Lineker, Gascoine, Owen, Rooney, Beckham e tantos outros da Inglaterra

Quantas vezes a gente não olhou para a seleção inglesa no papel e pensou “agora vai!”? Nomes de peso na equipe, craques que brilham nas competições europeias de clubes, etc. Quando chega na Copa, ficam devendo.

E os brasileiros?

Bom, para nós é quase revoltante que tenhamos TANTOS craques sem Copa do Mundo, afinal de contas, o melhor futebol do planeta está aqui e quem discordar não nasceu no Brasil ou é de uma geração criada à PlayStation e TV a cabo, certo?

Galhofas à parte, na história das Copas sempre tivemos seleções competitivas e que nos deram esperanças de título, o que naturalmente, nos faz crer até hoje que é um pecado alguns dos maiores jogadores do nosso país não terem levantado o caneco.

A geração de 1982

Imagem: Reprodução

Você deve ter entrado no post babando para ver o nome de Zico, um dos maiores camisas 10 do Brasil e para muitos, um injustiçado pela bola por não ter sido campeão de um Mundial.

E claro, o melhor time para ter trazido ao galinho a glória era aquele de 1982, que além dele também tinham outros nomes fortes da história do futebol mundial como Sócrates, Falcão e Júnior, que também poderiam ter vencido a Copa.

Ademir de Menezes

Imagem: Reprodução

E por falar em geração de ouro, a de 1950 liderada por Ademir de Menezes também bateu na trave na conquista do título.

Ademir foi o grande nome daquela Copa com 9 gols marcados e uma seleção que fez uma campanha avassaladora, parando apenas na final, para o bravo time do Uruguai. Além de Ademir, o Brasil tinha em 1950 outros craques que poderiam ser lembrados como campeões mundiais, como: Zizinho, Jair da Rosa Pinto, Friaça e Bauer.

Dos vice-campeões de 1950, Nilton Santos e Castilho foram os único que se tornariam campeões mundiais anos depois.

Arthur Friedenreich

Imagem: Acervo Estadão

“El Tigre” foi o primeiro grande astro do futebol brasileiro nos primórdios do esporte no país. Tanto que detém um recorde de gols muito superior ao de Pelé. Considerando dados extra-oficiais, Fried teria marcado 1.329 gols, somando partidas oficiais e não-oficiais. Foi o principal jogador dos títulos da Copa América de 1919, 1922 e o vice de 1921.

Com todas essas credenciais, era natural que estivesse também no primeiro Mundial de 1930, certo? Errado.

Uma briga besta entre paulistas e cariocas na política, acabou causando um racha na Seleção e a CBD era formada marjoritariamente por cariocas e na ocasião não convidou membros da APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos) para a delegação que iria para o Uruguai.

Em retaliação, o presidente da APEA, Elpídio de Paiva Azevedo, não permitiu a ida de atletas de clubes paulistas. Sem poder contar com craques como Friedenreich, Feitiço e Del Debbio, a seleção brasileira fez uma campanha medíocre.

Leônidas da Silva

Imagem: Reprodução

O ‘Diamante Negro’ foi o primeiro craque brasileiro na história das Copas. Com uma preparação conturbada para a primeira Copa em 1930 e uma campanha curtinha em 1934, o Brasil viu surgir nele a grande esperança de gols em 1938. Dito e feito, fez gol até descalço e ajudou a seleção chegar à melhor campanha até então, no terceiro lugar.

É difícil cravar, mas se tivessemos Copa em 1942 e 1946, possivelmente Leônidas também seria um destaque e quem sabe até campeão?

Fontes

The New Yorker

90min

Gazeta Esportiva

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Raphael Evangelista
Enciclopédia das Copas

Escrevo algumas coisas. Já fui redator lá naquele site das listas, adoro pizza, cachorro quente e paro a vida por um mês a cada quatro anos para ver a Copa.