Quais uniformes da seleção brasileira deram mais sorte na história das Copas?

Raphael Evangelista
Enciclopédia das Copas
8 min readJun 23, 2022

Quando a gente fala em seleção brasileira na Copa, você provavelmente visualiza o Brasil entrando em campo com a camiseta amarela, os calções azuis e os meiões amarelos. A mais tradicional das combinações do uniforme canarinho. Aquele que — como dizem os românticos do futebol — entorta varal e é pentacampeã.

Vale lembrar que essa combinação na verdade não é penta. É “apenas” tri. Afinal de contas, nossa seleção teve várias versões diferentes de seu uniforme, desde o longínquo ano de 1930, quando a Copa do Mundo começou a ser disputada e a gente explica isso agora:

Foto: designboom

13 versões diferentes do Brasil.

De 1930 até 2018 nossa seleção entrou em campo com 13 combinações de fardamento diferentes (e sem mencionar as diversas roupas de goleiro, a conta aí aumentaria consideravelmente), sempre alternando entre as tão conhecidas cores: amarelo, azul, e branco. Mas também rolou (acredite): preto e cinza também nessa conta.

Puxa da memória e você vai lembrar de várias delas, como a clássica já mencionada Amarelo/Azul/Branco. Ou então a Azul/Branco/Azul. Amarelo/Branco/Branco e etc.

Ao longo dos anos a seleção fez várias alternativas para o uso das cores principais e curiosamente, o verde, maior na nossa bandeira, só ficou em destaque mesmo em uniformes de goleiro.

Os primórdios.

A primeira combinação de uniforme da seleção brasileira em copas era formada por camisa branca que seguia firme e forte desde os tempos em que a seleção brasileira foi criada — em 1914 — quando oito federações de futebol nacional se juntaram, além do calção azul e meião preto. Sim, nessa época o Brasil usava meiões pretos.

Ao todo foram sete jogos com esse uniforme entre 1930 e 1938 e rolou um desempenho bastante razoável: foram 3 vitórias, 1 empate e 3 derrotas.

Em pé: Píndaro de Carvalho (Técnico), Brilhante, Fausto, Hermógenes, Itália, Joel e Fernando. Ajoelhados: Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Teóphilo, a Seleção brasileira da Copa de 30

Branca é a segunda camisa mais usada em Copas.

Se te perguntarem na rua qual foi a segunda camisa mais usada pelo Brasil em Copas, você vai sem titubear responder “azul”. Você estaria cometendo um enorme engano. Depois da amarelinha, o Brasil foi a campo em Copas dos Mundo usando o branco mais vezes.

Já a combinação de uniforme TODO branco só aconteceria na Copa de 1950, quando a seleção usou durante toda a competição essa versão do uniforme. Exceto em um jogo, 2x2 contra a Suíça quando o calção era azul.

Foto: Gazeta Press

Sai, zica!

Diferente do que se acredita, a camisa branca não foi imediatamente aposentada após a Copa de 1950 e a derrota para o Uruguai. O Brasil voltaria a usar a combinação branca no Campeonato Pan Americano de 1952 onde — com o time base de 1950 — venceria o mesmo Uruguai na competição e ficaria com o título. Ok, não é exatamente uma vingança à altura, mas digamos que a camisa branca não teve um final tão trágico quanto contam.

Ela até voltaria a ser usada em outras ocasiões, mas em Copa do Mundo realmente nunca mais após o Maracanazo. Acabou ficando com fama de azarada e substituída. O uniforme amarelo, azul e branco foi escolhido em um concurso feito pela CBD e um jornal em 1953.

Foto: Reprodução/Folha

A amarelinha tetracampeã do mundo

Se a gente falar apenas da camisa amarela, os números são impressionantes. Usando a “canarinho” foram 85 jogos, 58 vitórias, 15 empates e apenas 12 derrotas.

A primeira vez dela em Copas foi na vitória por 5 a 0 contra o México na estreia da seleção no mundial de 1954. De lá pra cá ela ganhou variações que acompanharam a seleção ao longo de muitos anos, ora com calções brancos, ora com calções brancos, vez ou outra com outras cores de meiões e por aí vai.

Seleção brasileira na Copa de 1954 (Foto: CBF)

“Mas tetra? Como assim?”. É fato que o Brasil usou o uniforme amarelo durante toda a Copa de 1958, mas na grande final acabou conquistando o primeiro título usando azul e não amarelo. Dos cinco títulos, “apenas” quatro estávamos com nossa cor de camisa mais tradicional.

A lendária seleção de 70 (Foto: El Gráfico)

Quando o Brasil entra de amarelo, azul e branco, esquece.

A clássica combinação camisa amarela, calção azul e meiões brancos é mundialmente famosa e conquistou o mundo a partir de 1954. Não por um acaso, foi a mais utilizada pelo Brasil. Até 2018, foram 63 jogos, 43 vitórias, 12 empates e 8 derrotas.

Foi usando essa combinação que levantamos três títulos (1962, 1970, 1994), além do vice de 1998. E ela deixou sua marca na Copa, desde a estreia, quando a Seleção goleou por 5 a 0 o México na primeira partida do mundial de 1954.

Seleção brasileira na Copa de 1994 (Foto: AFP)

A partir dos anos 1990, entra em campo a vitoriosa combinação camisa amarela, calção azul e meião azul.

Na Copa da Itália foi a primeira vez em que passamos a usar essa composição de uniforme que faria parte de momentos marcantes da história do futebol brasileiro.

Ronaldo comemora um de seus dois gols que deu o Penta no Japão (Foto: Matthew Ashton/Getty Images/Placar)

É bem verdade que ela não deu muita sorte nesta mesma Copa quando fomos eliminados para a Argentina, mas usando esse conjunto foram sete vitórias e apenas duas derrotas, a já mencionada para os rivais e a eliminação da Copa de 2006 para a França.

Antes de você achar que ela não deve ser usada em jogos importantes, lembre-se que levantamos o Penta de 2002 usando essa combinação.

A combinação camisa amarela, calção e meiões brancos é a segunda mais usada junto com a camisa canarinho.

Durante muitos anos quando jogamos contra a Espanha era batata: nossa camisa era a amarela, os calções brancos e o meião branco, para ficar diferente deles. A primeira vez em que isso aconteceu foi lá em 1962, ano em que usamos esse conjunto pela primeira vez. De lá pra cá foram 10 jogos, com cinco vitórias, três empates e três derrotas.

2014 foi o ano em que mais vezes vestimos essa formatação de uniforme.

Seleção de 2014 antes da partida contra a Colômbia (Foto: Danilo Borges/copa2014.gov.br)

Pode ser coincidência, mas se você é daquele tipo de torcedor supersticioso, vai achar um paralelo entre o vexame que foi a Copa que jogamos em casa com a ausência do nosso fardamento principal. Por vários motivos, foi neste ano em que dos sete jogos, o Brasil usou quatro vezes o calção branco em vez do azul. Inclusive na decisão do terceiro lugar, o dolorido 3 a 0 contra a Holanda. (No 7 a 1 fomos com o tradicional amarelo, azul e branco, caso você esteja se perguntando).

Outro fato curioso, é que as duas derrotas que temos usando esse uniforme foram em disputas de terceiro lugar, além de 2014, também tem a derrota para a Polônia em 1974.

“Vesti azul, minha sorte então mudou”

Como diz a música de Wilson Simonal, quando o Brasil vestiu azul o aproveitamento foi incrível. Apesar de ter sido usado menos vezes do que a camisa Branca, a nossa seleção usando a camisa número 2 sempre levou mais sorte do que azar. Afinal de contas, é a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do país.

Os campeões do mundo de 1958 (Foto: Getty Images / mantosdofutebol)

Pelo menos é isso que Paulo Machado de Carvalho — chefe da delegação brasileira nas Copas de 1958 e 1962 que hoje dá nome ao seu, o meu, o nosso Pacaembu — fez os jogadores acreditarem quando perdemos o sorteio de qual uniforme seria utilizado na final de 1958 contra os anfitriões da Suécia, que também usavam camisas amarelas.

De qualquer maneira, com ajuda da Santa, o nosso primeiro mundial veio de azul.

Em Copas, só perdemos duas vezes usando azul e as duas para a Holanda (1974 e 2010, duas eliminações), mas calma lá, antes de criticar, lembre-se de 1994 quando vencemos os laranjas rumo ao tetra.

De azul foi quando tivemos nosso melhor aproveitamento: 75% dos pontos disputados, contra 74% do uniforme amarelo e 58% do branco.

Meiões cinzas?

Essa é uma história curiosa e um tanto quanto interessante. Já falamos acima que os primeiros uniformes que usamos em Copa tinham os meiões pretos. Até aí, ainda era tudo mato na história do futebol brasileiro.

Também já é sabido que a partir de 1954 sempre estávamos de camisas amarelas, calções azuis e meiões brancos. Exceto em 1970, quando por duas (e as únicas) vezes, o Brasil entrou em campo de meiões cinzas.

Jogadores brasileiros no jogo contra o Peru (Foto: Fifa.com)

Qual a razão disso ter acontecido? Existem duas hipóteses: a primeira é de que com as TVs finalmente ganhando cores, rolava aquela preocupação dos times não terem as mesmas cores e quando o Brasil enfrentou Inglaterra e Peru, ambos os adversários tinham meiões brancos que poderiam gerar confusão com o nosso.

A outra hipótese, que parece ser a mais razoável, sem dúvidas, é de que diante desse cenário foi Zagallo quem teria optado pelo cinza por pura superstição. O velho Lobo técnico da Seleção tricampeã havia pouco antes de treinar aquele timação sido campeão pelo Botafogo que usava… meiões cinzas.

Outras combinações de uniforme bem raras.

Não foi só o meião cinza que teve vida curta. Algumas variações dos uniformes brasileiras foram usadas uma vez apenas:

  • Camisa amarela, calção branco e meião azul: em 2002 na vitória contra a Costa Rica por 5 a 2;
Foto: Acervo/Gazeta Press
  • Camisa azul, calção azul e meiões pretos: em 1938 quando ganhamos da Polônia por 6 a 5, nas oitavas de final. Foi a primeira vez em que a seleção usou uma camisa azul em Copas — mais clara do que estamos acostumados — graças a uma derrota no sorteio. Na época a camisa titular ainda era a branca, mesma cor do adversário;
Foto FIFA/trespontos.blog
  • Camisa azul, calção azul e meiões brancos: em 1974, na eliminação para a Holanda na segunda fase após derrota por 2 a 0;
Brasil que entrou em campo contra a Holanda em 74 / Foto: Gazeta Press
  • Camisa branca, calção azul e meias brancas: em 1950 no empate por 2 a 2 contra a Suíça na fase de grupos.
Foto: fifamuseum.com

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Raphael Evangelista
Enciclopédia das Copas

Escrevo algumas coisas. Já fui redator lá naquele site das listas, adoro pizza, cachorro quente e paro a vida por um mês a cada quatro anos para ver a Copa.