Preciso financiar minha startup? Parte 1

Felipe Sertorio
EquitasVC
Published in
5 min readJun 14, 2022

Recentemente, publicamos um artigo falando sobre Como levantar capital para sua startup, sem contar com a sorte. No entanto, será que sua startup realmente precisa de financiamento externo no momento? Se sim, qual valor você precisa / consegue levantar no mercado e quais são as opções de financiamento?

É sabido que toda empresa, para rodar, precisa de dinheiro. Seja para comprar equipamentos, contratar colaboradores, pagar aluguel, etc. No entanto, há uma crença de que, mesmo no início da startup, é fundamental que ela receba capital de investidor como condição Sine qua non para seu sucesso. Será que isso é realmente verdade??

Como investidor de VC, percebo que, por inúmeras vezes, não é de dinheiro que a companhia precisa. Os casos a seguir são exemplos de empresas em que mais capital não traria tantos impactos positivos:

O problema “cabelo pegando fogo” não foi validado com o mercado em potencial

  • Em geral, processos de discovery demandam tempo e esforço dos fundadores, mas não dinheiro
  • Nesse sentido, caso o problema ainda não tenha sido mapeado e validado, levantar capital com um fundo vai apenas trazer mais pressão externa e, possivelmente, ocasionar na queima de etapas importantes de validação do problema e mercado

Construção do MVP não necessita de muito capital

  • Esse cenário não é verdade para todas as startups, porém, quando é, também evita que dinheiro seja desperdiçado na tentativa de validação da solução
  • Times de fundadores com background técnico têm a vantagem de não precisar contratar soluções de fora para desenvolver o MVP
  • Caso a solução ainda não tenha sido validada e o time fundador tenha capacidade de desenvolver o MVP sem gastar dinheiro, é preferível deixar o fundraising on hold

O time fundador possui as habilidades necessárias para o estágio da empresa

  • Dificilmente haverá algum time fundador que possua todas as habilidades para construir uma empresa. No entanto, até que o time tenha de fato encontrado product market fit, o foco deve ser encontrar problemas, validar soluções e canais de distribuição. Dessa forma, qualquer contratação fora desses temas seria desperdício de recursos (tempo e dinheiro)

Os canais de distribuição já foram testados e validados?

  • Como falamos recentemente no nosso artigo Por que as startups morrem, um erro comum (e super perigoso) acontece quando, na concepção do produto, os canais de distribuição não são levados em conta
  • Nesse sentido, antes de pensar em investir dinheiro no produto / serviço, mesmo que o problem / solution fit tenha sido validado, é aconselhável também validar os canais de distribuição

Considerando que o seu caso seja diferente dos exemplos acima, isto é, você de fato precisa de capital para seguir, quais opções de financiamento sua startup possui? Qual se encaixa melhor no seu perfil? Quanto de capital? Por qual valuation?

Bom, vamos lá. Apesar de tudo isso parecer complexo, com diversos termos específicos, a ideia em si é relativamente simples, desde que os conceitos estejam claros na cabeça.

O primeiro conceito importante é o chamado Cap Table, isto é, lista de sócios (ou acionistas) de uma empresa com suas respectivas participações societárias (%), direitos e deveres. A imagem abaixo mostra um exemplo típico de cap table saudável, com as diluições em cada rodada e a diluição final dos fundadores, investidores e funcionários (ESOP — stock option pool).

Vale mencionar que, principalmente no início, é fundamental que o time fundador se atente a manter o cap table saudável, não diluindo mais que 15 / 20% da empresa nas rodadas pre-seed e seed.

O próximo conceito importante é o de Valuation, que nada mais é do que o quanto sua empresa vale. Aqui, por mais que algumas pessoas gostem de discutir diversas metodologias mirabolantes para se chegar a um “valor justo”, em EquitasVC preferimos pensar nele como um output. Isto é, se você precisa de R$1 milhão para rodar sua operação até a próxima rodada (geralmente de 12–18 meses), e está disposto a diluir 10% do seu equity, o valor da sua empresa será de R$10 milhões.

Com esses dois conceitos na cabeça, podemos classificar os principais tipos de financiamento:

  • Dívida conversível: Instrumento que permite ao investidor emprestar dinheiro para uma startup que está começando, com a possibilidade de converter essa dívida em participação na empresa futuramente, via ações preferenciais. O preço por ação geralmente é dado pelo menor valor entre: (i) desconto no valor da ação da próxima rodada precificada e (ii) valuation cap, isto é, um limite máximo (teto) para o valuation da empresa
  • SAFE: Em troca de aporte inicial, o investidor passa a ter o direito de converter o investimento em participação societária após a ocorrência de um evento específico. Assim como na modalidade de Dívida Conversível, não há precificação no momento do SAFE e sim um acordo de desconto e valuation cap que definirão preço por ação a ser pago pelo investidor no momento da conversão
  • Equity: Uma rodada de ações significa emitir e vender novas ações da empresa para investidores a um valor (valuation) previamente estabelecido. Isto é, diferente dos outros dois modelos, no momento em que acontece a transferência do dinheiro do investidor para a startup, já há a conversão em ações a um preço estipulado

Novamente, apesar de entender que um fundo de VC serve como um validador externo de que sua startup tem potencial, muitas vezes esse relacionamento pode ser prejudicial, principalmente no início, em que decisões importantes são tomadas diariamente. Caso vá por esse caminho, é extremamente importante conhecer bem os fundos com quem está conversando, entender qual a forma de trabalhar deles, conversar com empresas investidas, ou seja, fazer sua própria diligência.

Por outro lado, caso você tente receber investimento e não consiga, não ache que sua empresa não tem potencial. Fundos de VC erram o tempo todo, principalmente quando se trata de inovações e produtos de tecnologia intensiva. Nesses casos, vale pensar em ir para um caminho de breakeven, se possível, mesmo desacelerando as vendas. No final das contas, o melhor funding que existe é o do seu cliente.

Para os próximos posts, traremos com maiores detalhes o funcionamento de cada uma das modalidades de financiamento, assim como seus prós e contras e melhores casos de uso. Fiquem ligados!!

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