5 séries de ficção especulativa para conhecer a Escotilha NS

Jacob Paes
Escotilha NS
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9 min readMay 6, 2019

Nós aqui da Escotilha sabemos que uma das primeiras perguntas que vêm à mente de quem se depara com um clube de assinatura é “mas será que vou gostar do que vou receber?”. E apesar de uma das coisas mais bacanas desse tipo de iniciativa ser o ato de descobrir algo inesperado, ter contato com aquilo que não esperávamos, com paradigmas diferentes daqueles com os quais já estamos acostumados, também sabemos que se trata de um questionamento válido, afinal você estará investindo em uma proposta nova e recebendo frequentemente uma série de itens que precisarão ser aproveitados por você para não correr o risco de bater aquela sensação de que não valeu a pena.

Pensando nisso, ao longo do mês de março (na verdade, atrasamos um pouquinho… 😅) vamos publicar aqui uma série de posts que ajudarão a entender melhor as nossas referências da ficção especulativa para que você possa nos conhecer cada vez mais e, assim, imaginar o tipo de livro que poderá receber em nossas caixas-pretas. São dicas de filmes, séries, livros e quadrinhos que nos inspiraram e continuam a nos inspirar por sua inventividade, originalidade e pioneirismo, mas, acima de tudo, por suas ótimas histórias. É claro que nós sempre vamos tentar surpreender você, porque esse é um dos nossos objetivos, mas ter boas referências é sempre válido, não é mesmo?

Depois de a Renata Mello ter apresentado os filmes, chegou a hora das séries de televisão!

Atenção: embora os itens estejam numerados, as séries foram elencadas aleatoriamente, sem qualquer espécie de ranking, ok?

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1. Penny Dreadful

Poderia me limitar a dizer que esta série acompanha o explorador Sir Malcolm Murray (Timothy Dalton), o pistoleiro americano Ethan Chandler (Josh Hartnett), o cientista Victor Frankenstein (Harry Treadaway) e a médium Vanessa Ives (vivida de maneira estupenda por Eva Green), que se unem para combater ameaças sobrenaturais na Londres vitoriana. Porém, Penny Dreadful é muito mais do que isso: a série reúne personagens e elementos de clássicos da literatura, como o já citado Frankenstein ou os lobisomens ou Dorian Gray, para ficar no começo, a uma narrativa viciante, surpreendente e muito bem planejada, capaz de agradar aos fãs tanto do terror quanto da fantasia, seja por sua qualidade ou pela criatividade, que deve ser reconhecida mesmo com a série bebendo de fontes há muito tempo já exploradas pelo cinema e pela TV. Foi exibida de 2014 a 2016 pela HBO no Brasil (nos Estados Unidos, pela Showtime) e conta com 27 episódios. No ano passado, foi anunciado que a atração ganhará um spin-off, que deve ser lançado neste ano.

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2. Hannibal

Ah, Hannibal… O que dizer desta série brilhante, inventiva e artisticamente bela? Como se não bastassem todas essas qualidades, foi a atração responsável por trazer de volta Hannibal Lecter, até então saturado e desgastado pelo cinema, que usou e abusou das sequências questionáveis do ótimo O Silêncio dos Inocentes (das quais o próprio Hopkins se arrependeu e Jodie Foster nem mesmo participou). Pelas mãos do loucasso Brian Fuller, dr. Lecter ganhou uma nova roupagem, elegante, cínica e esteticamente impecável. Trouxe um sopro de vida para o canibal, vivido por Mads Mikkelsen, que deu o seu próprio tom ao personagem, bem diferente do de Hopkins. Adaptada a partir do livro Dragão vermelho, de Thomas Harris, a série explora a relação inicial entre o renomado psiquiatra e seu paciente Will Graham (Hugh Dancy), um jovem analista do FBI assombrado por sua capacidade de empatia com serial killers. Mesmo com um final — beeem diferente de tudo o que já tínhamos visto em relação a Hannibal —, até hoje existem campanhas para que a série ganhe uma nova temporada, graças ao status cult que recebeu dos fãs e da crítica. Ela conta com 39 episódios, exibidos de 2013 a 2015 e, no Brasil, disponíveis na Netflix.

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3. Fringe

Fringe é a minha série queridinha, confesso. Ela flerta com um pouco de tudo que está presente na Escotilha: criaturas bizarras, terrorismo biológico, universos paralelos, loucura, controle da mente… e por aí vai. É uma espécie de sucessora espiritual de outro grande clássico da TV, Arquivo X, e também se inspira em Além da Imaginação. Mas por mais que lide com todos esses assuntos, é uma série inspiradora, que nos traz relações humanas profundas, nos faz pensar nas nossas próprias atitudes e que, na esteira de Lost, deu profundidade a um gênero muitas vezes trabalhado de maneira superficial (ainda mais na sua época de lançamento, uma década atrás…). Além de ser divertida para quem gosta de uma boa ficção científica! É a última série cuja criação foi assinada pelo mestre J.J. Abrams (em conjunto com Alex Kurtzman e Roberto Orci); depois disso, ele foi para o cinema e só produziu algumas séries, sem de fato tê-las criado. Gira em torno da badass Olivia Dunham (Anna Torv, hoje em Mindhunter, outra série ótima), uma agente do FBI que se vê obrigada a trabalhar com Walter Bishop (John Noble), um cientista institucionalizado por quase 20 anos em decorrência de suas experimentações de ética duvidosa, e seu filho, Peter Bishop (Joshua Jackson), a fim de racionalizar uma série de fenômenos inexplicáveis, que transformam o mundo num grande laboratório para experimentos perigosos. Conta com pouco mais de cem episódios e foi exibida de 2008 a 2013 pela Fox nos Estados Unidos e pela Warner no Brasil. Também passou no SBT com o nome Fronteiras.

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4. Lost

Eu sei, polêmico… Mas independentemente de gostar ou não do desenvolvimento da série (e acredite, eu não sou dos maiores fãs de como ela terminou), é inegável a importância de Lost para a TV. Ela nos trouxe uma nova maneira de acompanhar esse tipo de produto, uma experiência que vai muito além da narrativa linear tradicional, e até hoje se busca por uma "nova Lost". Fringe, por exemplo, surgiu como uma das candidatas a ocupar esse posto e herdou muito dos mistérios e easter-eggs da série mais antiga (desenvolvendo até um sistema próprio de hieróglifos para transmitir mensagens aos seus telespectadores). E, de alguma maneira, muitas outras séries se beneficiaram do jeito como Lost se estabeleceu, trazendo também camadas de profundidade às séries de TV, que andavam muito procedurais, superficiais; elas não exigiam que o público pensasse. Sem contar os idealizadores da série, que hoje lideram franquias multimilionárias, escrevem séries renomadas ou criam um projeto mais bacana que o outro. Dela saíram nomes como J.J. Abrams (Star Wars: O Despertar da Força, Star Trek, Missão Impossível), Damon Lindelof (The Leftovers, Prometheus, Watchmen), Bryan Burk (Star Wars: O Despertar da Força, Cloverfield: O Monstro, Missão Impossível: Protocolo Fantasma) e Carlton Cuse (Bates Motel, Jack Ryan), que ajudaram a idealizar a série exibida de 2004 a 2010, com 118 episódios. A história seguia os sobreviventes de um acidente de avião, que se veem forçados a trabalhar juntos para sobreviver em uma ilha tropical aparentemente deserta e cheia de mistérios. Em um dos momentos mais memoráveis, esse grupo se depara com… uma escotilha! Ela representa segredos, potenciais e perigo, mas também esperança. Não à toa, é a inspiração para o nome da nossa plataforma. Mais uma vez, isso reforça o ponto de como Lost foi fundamental para a TV e para a cultura pop como um todo, tendo sido exibida pela ABC nos Estados Unidos e, no Brasil, pelo AXN e pela Globo.

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5. Westworld

Confesso que fiquei um pouco em dúvida com esta seleção, pois Westworld é a única da lista ainda em exibição e, embora tenha apresentado duas temporadas muito boas, não se pode prever se ela manterá o nível de qualidade apresentado até aqui. No entanto, tal como Fringe, esta série reúne muitos elementos do que buscamos na Escotilha e, portanto, achei importante contar com a sua presença aqui. Isso porque a trama, criada por Jonathan Nolan (sim, irmão do Christopher e criador de outra série maravilhosa e meio esquecida, que é Person of Interest) e Lisa Joy (Pushing Daisies), sua mulher, situa-se na interseção do futuro próximo e do passado reimaginado, explorando um mundo em que todo apetite humano pode ser desfrutado sem consequências. Ela mistura elementos da ficção científica, que está na base da premissa da série, com outros de fantasia e até de terror, passando por diversos subgêneros da ficção especulativa. Talvez possa ser resumida a uma mistura de Game of Thrones com Blade Runner (e uma pitada de Lost), alguns dirão, mas faz um bom trabalho em estabelecer a sua própria narrativa, centrada em mulheres fortes e na discussão do que é ser humano, trazendo também os mistérios que tanto adoramos para além da TV. Produzida por J.J. Abrams, conta com 30 episódios, exibidos pela HBO e disponíveis no serviço HBO GO (quando ele funciona); a terceira temporada deve estrear só em 2020.

Menções honrosas

Gostaria de dizer que fazer essa seleção de apenas cinco séries foi muito doloroso para mim, por isso não pude evitar de tentar amenizar a minha crueldade com algumas que deixei de fora. Além das citadas ao longo da seleção, reservo especial atenção para:

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Game of Thrones, em vez de Westworld. Porque é uma série tecnicamente estupenda, que virou um fenômeno e traz suas peculiaridades. Destacaria, como mais importante na trajetória da série, o incrível feito de ter derrubado o preconceito das Academias para a ficção especulativa e ter entrado para a história como a maior vencedora de prêmios Emmy. Depois dela, mais atrações do gênero passaram a ser indicadas ou até a vencerem; ainda estamos longe do ideal, mas isso representa um grande avanço, já que mesmo as indicações de atrações do gênero eram extremamente raras. Como ponto negativo, aponto a queda na qualidade dos roteiros por volta da quinta temporada, presente na série até hoje, infelizmente. Foi o que a retirou da minha seleção acima, apesar de ser uma das maiores — senão a maior — série de fantasia da história, mas indo, claro, muito além do gênero.

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Além da Imaginação (The Twilight Zone), em vez de Fringe. Porque fez o que fez muito antes de todos os outros e dita até hoje o tom de narrativas da ficção especulativa. Sua influência está presente em praticamente todas as citadas na lista, além de Black Mirror, Philip K. Dick’s Electric Dreams e muitas outras. Não à toa, está de volta mais uma vez (porque a série original da década de 1960 ganhou um revival também em 1985), agora no Prime Video, da Amazon.

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Pushing Daisies, em vez de Hannibal (ambas as séries têm o mesmo criador e compartilham da estética apurada, mas de maneira diametralmente oposta, é bom dizer). Porque mostra — de maneira brilhante — um outro lado da ficção especulativa, delicado mas inventivo, sem ter como base a violência ou o gore. É uma série pouco conhecida, mas fundamental por trazer sutileza a um gênero muitas vezes estereotipado e pesado. É uma pena que tenha durado pouco: foi exibida por duas temporadas, entre 2007 e 2009, pela ABC nos Estados Unidos e, no Brasil, pela Warner e pelo SBT, onde ganhou o subtítulo Um toque de vida. Sugestivo, porque, às vezes, é apenas disso que precisa a ficção especulativa.

É lógico que existem muitas outras séries de TV que ajudam e ajudaram a moldar a história da ficção especulativa, e seria quase impossível listar todas aqui, mas acreditamos que esse é um resumo (e, como todo resumo, um ato falho) que ajuda a deixar você por dentro do nosso estilo. Então, se gostou, clique aqui e venha fazer parte do nosso clube; e não deixe também de nos contar qual série você acha que ficou faltando na nossa lista!

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Jacob Paes
Escotilha NS

Editor de livros, graduado em Produção Editorial e estudante de Letras/Italiano. No tempo livre, curte séries, filmes, carros e, claro, livros @tresemeiopodcast