Foto: Mahila Ames de Lara

Apadrinhamento afetivo

Mahila Ames de Lara
Esquina On-line
Published in
5 min readJun 21, 2017

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Programa visa colaborar positivamente com a formação social de crianças

O Apadrinhamento Afetivo é um programa para crianças e adolescentes com remotas chances de retorno à família de origem ou adoção. Tem como principal objetivo desenvolver ações para a construção e a manutenção de laços entre padrinhos, madrinhas e afilhados. Apadrinhar uma criança é passear, fazer o dever de casa e trocar experiências com ela sem formar nenhum vínculo jurídico.

Atualmente, existem em Brasília cerca de 30 instituições de acolhimento para crianças e adolescentes que não possuem um lar definitivo. Estes orfanatos e abrigos acolhem crianças de todas as idades que esperam pela adoção ou recebem apoio do governo e da sociedade durante seu crescimento e formação. Confira abaixo o mapa que mostra a localização dos abrigos e orfanatos do Distrito Federal.

O apadrinhamento é destinado para crianças acima de 10 anos de idade, ou seja, crianças que são incluídas no cadastro de apadrinhamento também já estão inclusas no cadastro de adoção. Porém, como existe um perfil para se adotar uma criança, sabe-se que aquelas com mais de 10 anos raramente voltarão para a família de origem ou serão adotadas. Quem explica isso é Carla Kobori, psicóloga clínica e voluntária da ONG Aconchego.

Na ONG, Carla faz um trabalho com as crianças e os adolescentes do programa de apadrinhamento afetivo. A psicóloga esclarece que as crianças que participam já sabem, muitas vezes, que a adoção é muito rara nessa idade, então se agarram na ideia de que irão ter um padrinho ou uma madrinha, um cuidado e um carinho. “Quando a gente propõe o apadrinho para elas e explica qual a função deles na vida dela, que vai ser um suporte, um tutor, ela fica esperançosa que vai ter alguém que vai realmente olhar por ela e dar um cuidado individualizado. Então, eles se agarram a essa oportunidade”, pontua.

Carla conta que o padrinho é essencial inclusive para respaldar os sonhos e o projeto de vida dos afilhados. “Procuramos trabalhar com as nossas crianças não só o apadrinhamento, mas também um encaminhamento de vida. Buscamos inseri-las no mercado de trabalho, encaminhar para cursos profissionalizantes avaliando os desejos, os gostos, as habilidades para que elas possam, ao completar a maioridade, viver por conta própria”. Segundo Carla, os padrinhos costumam acompanhar os afilhados por muito tempo, e são de extrema importância para auxiliá-los na transição da adolescência para a vida adulta.

Ao conversar sobre uma dúvida comum no ambiente de apadrinhamento e adoção, Carla esclarece a questão apadrinhar versus adotar. Se você também tem esta dúvida escute o áudio e saiba qual é o programa mais indicado para você.

O olhar individualizado, o referencial de família e o respaldo dado às crianças e aos adolescentes é a característica mais marcante deste programa. Segundo Art. 227 da Constituição Federal “é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.

Segundo o advogado especialista em Direito das Famílias e Sucessões e vice-presidente da Comissão de Direito da OAB/DF, João Paulo de Sanches, o apadrinhamento é uma solução saudável para que as crianças não fiquem na desesperança a espera da adoção. “O apadrinhamento nada mais é do que uma aproximação afetiva, do que a possibilidade de dar uma esperança a essas crianças que estão institucionalizadas para que elas possam ter um horizonte”, observa.

Confira na íntegra o ponto de vista do advogado:

Indignada com as coisas que presenciava no dia a dia, Patrícia Gerard resolveu “partir para ação” e ajudar as pessoas ao seu redor. Ela se informou sobre o programa de apadrinhamento e pesquisou instituições onde pudesse conhecer um afilhado. Através da internet, chegou a página da ONG Aconchego. “Eu e meu marido nos inscrevemos no programa de apadrinhamento afetivo e iniciamos um curso preparatório de 5 sábados enquanto as crianças, de 4 diferentes casas de acolhimento, também se preparavam para serem apadrinhadas”.

João procura ovinhos de chocolate no jardim de Patrícia na época da páscoa

Hoje, Patrícia e o marido são padrinhos de uma criança de 13 anos, a quem iremos chamar nessa matéria de João, para resguardar a imagem. Juntos, assistem filmes e desenhos, brincam na piscina, passeiam, vão ao cinema, shopping, parques, museus, exposições, sempre na tentativa de ampliar o repertório cultural de João.

“O mais importante é a criação de vínculo afetivo forte para que possamos ajudá-lo a superar suas dificuldades e que seja um cidadão de bem, trabalhador”. Patrícia ressalta que as crianças só podem ficar no orfanato até os 18 anos, e que por isso se preocupa com a formação do afilhado, para que ele possa se sustentar após a maioridade.

Os encontros ocorrem de 15 em 15 dias, quando João vai para casa de Patrícia. Quase um ano depois do primeiro contato, Patrícia conta que o convívio com João é natural, e o considera um membro da família. “Posso te garantir que tudo isso está fazendo muito bem a ele e a nós. Estamos felizes. Ele é um menino maravilhoso, educado, sério, interessado e curioso. Isso que só nos incentiva a ir cada vez mais longe com ele”, afirma.

Por fim, Patrícia conta que não sabe explicar os motivos que a levaram ao programa de apadrinhamento afetivo. “Não quero parecer piegas ou demagoga, mas a verdade é que um dia me senti quase que na obrigação de retribuir a vida tudo de bom que ganhei”, reflete.

Para apadrinhar uma criança, além dos requisitos acima é necessário seguir alguns critérios. Primeiro, o candidato deve preencher a ficha de cadastro com os dados pessoais. Depois, participa de uma palestra aberta para a comunidade, onde se esclarecem dúvidas básicas como a metodologia do programa. Logo em seguida, existe a formação do grupo para a capacitação.

A segunda etapa consiste nas oficinas de preparação. Grupos de até 30 pessoas se reúnem em 6 encontros para discutir um tema pré-determinado. Segundo a ONG aconchego cada grupo é orientado por uma equipe formada por psicólogos e assistentes sociais.

Dia 8 de julho, sábado, às 10h, ocorrerá no colégio Leonardo da Vinci, na Asa Sul, uma conversa sobre o apadrinhamento afetivo. Para participar basta confirmar presença através do e-mail contatos@aconchegodf.org.br.

Para mais informações entre em contato com a ONG Aconchego:

Telefones: (61) 3963 5049 e (61) 3964 5048

e-mail: contatos@aconchegodf.org.br

Veja também reportagens sobre direitos trabalhistas das mulheres grávidas e exame pré-natal nesta edição do Esquina On-line.

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