A verdadeira masculinidade

Matheus Marques
Essentia
Published in
7 min readJul 23, 2020

Caso você já acompanhe o Essentia, sabe que o nosso foco está na busca pela nossa essência como pessoas, como seres humanos. Assim, não podemos deixar de falar sobre duas características que nos são inerentes: a masculinidade e a feminilidade.

A Gabriela Vieira já escreveu sobre feminilidade. Agora, apesar de não ser um grande núncio e modelo de masculinidade para o mundo, vou tentar, mais uma vez, levantar pontos de reflexão para você que acompanha este texto.

Quero já começar corrigindo um erro muito comum. Masculinidade e feminilidade não são aspectos opostos! São atributos perfeitamente complementares, que nos levam à integralidade do ser.

Essa não é apenas uma questão de opinião. É uma determinação que a natureza nos impôs. Não apenas a nós, seres humanos, mas à maior parte dos animais. A harmonia e o equilíbrio ambiental estão diretamente ligados à relação dos sexos, a relação entre o feminino e o masculino.

Cabe então a nós buscar entender essas características que estão presentes dentro de nós e que nos moldam.

O que a masculinidade não é

Semana passada, vi uma publicação sobre masculinidade em uma rede social. O post, apesar de apresentar alguns pontos importantes, terminava afirmando que parte da verdadeira masculinidade está em “aceitar sua feminilidade”.

Masculinidade não é feminilidade. E isso é muito importante, porque ambas são muito boas, mas possuem características distintas e complementares.

Na semana passada, também aconteceu uma grande discussão sobre um influencer que é mundialmente famoso nas redes sociais. Sempre em fotos cercado por mulheres, muitas vezes nuas, com armas, dinheiro e ostentação.

Masculinidade não é ser “machão”. Não à toa esse tipo de comportamento é conhecido como “masculinidade tóxica”. Infelizmente, esse pensamento acaba sendo generalizado como se fosse o padrão do comportamento masculino. Mas isso não é o “ser masculino”.

Podemos perceber duas grandes descaracterizações da masculinidade: o homem machão e o homem feminino.

Também na semana passada, a Maria Paula Reis publicou seu texto de estreia aqui no Essentia falando sobre um pensamento muito comum às mulheres atualmente: “Onde estão os homens?” É algo normal, tristemente, que as mulheres não encontrem, nos homens, as características que esperam de uma verdadeira masculinidade.

Mas, então, o que é a masculinidade?

Mais uma vez citando a semana passada (claramente a semana anterior gerou reflexões em mim), ficou bastante conhecida a história de Bridger Walker. Um menino de 6 anos que protegeu sua irmã mais nova do ataque de um cachorro, conforme a tia deles relatou:

Bridger salvou a vida de sua irmã ao ficar entre ela e um cachorro que avançou sobre eles. Após ser mordido diversas vezes no rosto e na cabeça, ele agarrou a mão da irmã e correu com ela para deixá-la segura. Mais tarde ele disse: ‘Se alguém tinha que morrer, achei que deveria ser eu’.

O menino levou cerca de 90 pontos no rosto. Nos comentários da publicação da tia, muitos chamavam Bridger de “um verdadeiro homem”. Mas como pode um menino tão jovem, que ainda não possui total capacidade de escolha e decisão, ser não apenas um homem, mas um exemplo de homem? Porque vemos nele a essência da masculinidade: proteção e entrega.

É importante ressaltar que todas as virtudes são para ambos os sexos, mas algumas se sobressaem para cada um conforme sua essência — isso é, ao chamado específico inscrito nos corpos e psiquês do homem e da mulher.

O homem e a mulher devem ser corajosos, mas a expressão da coragem em cada um se difere da outra. Os dois devem ser carinhosos e ternos, mas a ternura masculina não é a mesma da feminina; e assim por diante.

Um exemplo claro é como cada um demonstra amor e afeto. Mulheres tendem a demonstrar através de emoções, sentimentos. Homens, por sua vez, têm uma tendência de expressar o amor através de atos. Se você está ou esteve em um relacionamento, deve ter experimentado algo assim.

Analisando a história da humanidade em suas diversas culturas, podemos achar um arquétipo comum do “homem ideal”. Um homem com coragem e que, independente dos desafios e dificuldades que se apresentam, possui força de vontade inquebrável.

Ele busca sempre o bem maior, ainda que sob as penas de sacrifício pessoal, sempre colocando o bem-estar dos demais antes do próprio. Não tem medo de chegar às últimas consequências para lutar por aquilo que acredita. É a figura do “herói”.

E não pense que esse é um modelo ultrapassado. Qual a franquia de filmes mais assistida de todos os tempos? Vingadores, uma série de películas sobre super-heróis. Pergunte a um menino: “se você pudesse ser qualquer personagem, quem você seria?”. Hoje quase todos responderão Homem de Ferro, Capitão América, Hulk, Thor, Batman, Homem-Aranha, etc. Afinal, ainda hoje, vemos neles o arquétipo do homem ideal.

Não à toa o menino Bridger Walker recebeu ligações de vários dos atores que interpretam esses personagens nos filmes, inclusive ganhando um escudo do Capitão América enviado pelo próprio ator que o interpretou nos cinemas. Bridger agiu como “um herói da vida real”, um “verdadeiro homem”.

Vemos, então, uma silhueta do que pode ser considerado um exemplo de homem: corajoso, resiliente, disposto a se entregar pelos demais, protetor, desapegado dos bens materiais, leal e fiel — e muito mais. Essa é a masculinidade, um chamado inscrito em nossa essência para buscarmos ser esse “homem ideal”.

É claro que há uma variedade de características que definem uma pessoa e que não é possível encaixar todos os homens em um único padrão, mas todos devem se espelhar em um modelo e este é o modelo que a Humanidade, através da História, escolheu como molde de um homem que apresenta a masculinidade em sua plenitude.

No mundo fantástico construído por Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis e O Hobbit, de todas as diversas criaturas presentes na narrativa, a mais simples, mais fraca e mais baixa ocupa o papel de “herói”. Os hobbits não possuem relevância social, tamanho, inteligência elevada ou capacidade física. Ainda assim, conseguem apresentar todas as características de uma verdadeira masculinidade.

Se você já viu os filmes do universo da Terra Média ou leu os livros, sabe que os hobbits não têm nada de “machões”. São simples, pequenos. E isso não os torna menos homens. São puros e inocentes, características mais presentes em arquétipos femininos, mas não são exemplos de feminilidade.

A feminilidade é muito boa e essencial para contrapor e complementar a masculinidade e vice-versa. Contudo, essa essência feminina possui suas características e qualidades mais marcantes diferentes das masculinas.

Por isso, a falta de uma figura paterna ou materna para uma criança gera, com grande frequência, falhas no desenvolvimento emotivo e psicológico de jovens. O equilíbrio humano está na complementariedade do masculino e do feminino. E ambos são muito bons.

É exatamente nos bons pais e mães que encontramos os melhores exemplos de uma verdadeira masculinidade e de uma verdadeira feminilidade. Um é mais rígido, mais protetor, mais vigilante. O outro é mais amável, mais carinhoso, mais cuidadoso. Um está preparado para dar a vida pelos filhos e pela família. O outro dá sua vida a todo instante por eles. É a expressão da essência inscrita na natureza de cada um.

Como posso aprimorar minha masculinidade?

Você não precisa embarcar em uma grande epopeia, enfrentar monstros e criaturas lendárias como os heróis dos contos. O desenvolver da masculinidade está aí no seu dia-a-dia. Nas suas atitudes com seus familiares e amigos. Na maneira como você trata e se relaciona com os demais, principalmente pessoas do outro sexo. Está em como você se comporta como homem.

Eu posso, através dos meus atos, demonstrar melhor meu amor pelas pessoas próximas? Posso ajudar mais os outros, colocando o bem-estar deles antes do meu próprio? Posso ser um refúgio de proteção e confiança para quem precisa de mim? Sou leal e fiel às pessoas e àquilo que acredito? Tenho agido como um homem ou como um garoto, uma criança?

A verdade é que nem tudo é lindo e belo. A masculinidade traz consigo, naturalmente, uma série de fraquezas que, se não combatidas, corrompem a natureza do homem. Atualmente, existem dois desvirtuamentos mais comuns.

O primeiro é a arrogância, a soberba. Como é comum, infelizmente, homens que se acham donos do mundo. A corrupção pelo poder, pelo domínio. As mulheres são as que mais sofrem com esse aspecto desvirtuado. Aqui, é necessária uma luta pelo domínio pessoal, pelo controle das vontades. É necessário praticar a humildade e a caridade.

Por outro lado, temos a fraqueza, a covardia. Homens que vivem uma vida corrompida pelo medo, pela falta de atitude. Um medo tão grande de assumirem sua forças e qualidades, que se tornam fracos, vulneráveis, incapazes de ajudarem a si mesmos e aos demais. Por isso, muitas mulheres se perguntam “onde os homens foram parar?”. É necessário, nesses casos, lutar contra a inércia, contra o desânimo, contra os medos que te limitam. É necessário praticar a entrega e a resiliência.

Desde o primeiro texto aqui no Essentia, insisto em um ponto: podemos melhorar, basta querer. Pratique o serviço, a entrega, a dedicação aos demais, a coragem, a resiliência. Lute contra os seus medos. Nenhum de nós é o homem perfeito, somos todos falhos. Mas, com a verdadeira masculinidade inscrita dentro de você, não desista diante das fraquezas e das dificuldades que te impedem de se tornar um verdadeiro homem.

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Matheus Marques
Essentia

Publicitário, jornalista e designer. Escrevendo sobre investimentos e mercado financeiro para o Finis. Discutindo sobre o que nos faz humanos no Essentia.