Os desafios na liderança de times remotos em uma startup early stage
Para as pessoas envolvidas no ecossitema de startups e empresas de tecnologia não é novidade que o modelo de trabalho remoto (qualquer que seja o termo XPTO-office usado) veio pra ficar, e é cada vez mais uma demanda para os profissionais de tecnologia; mas quais os desafios que esse modelo trás para uma startup early stage?
Nesse artigo vamos falar de alguns desafios que identificamos como sendo os principais e como estamos enfrentando eles na Estoca, sempre buscando conduzir da melhor maneira — para os times, para o negócio e para os clientes.
Mas antes de começar vou ambientar você sobre nós : A Estoca é uma logtech que atua com fulfillment e tem como foco em e-commerces; temos dois anos de vida; o nosso time de tecnologia está em constante evolução e crescimento e estamos aqui para revolucionar o ecossitema de logistica para e-commerces.
Dado esse contexto, acredito que não seja surpresa dizer que acreditamos muito no modelo de trabalho remoto para os times de tecnologia. Os motivadores são vários: desde questões mais conhecidas como o tempo economizado em deslocamento, diminuição de estresse, e alguns outros motivos que já foram bem pesquisados nos últimos anos. Também acredito que exista um relacionamento com um dos nossos valores, o “Formamos time dos sonhos”. Formar um time dos sonhos não deve ser restringido por questões como localização em que o profissional mora ou o quão distante ele está de um determinado lugar.
Disclaimer: desse ponto em diante não existem receitas de bolo, e o que falaremos aqui demanda contexto, empatia com as pessoas e entendimento do negócio.
Nos próximos paragrafos vou trazer os principais desafios que temos encontrado e algumas formas de como temos lidado eles.
Problemas de comunicação
O primeiro e maior desafio é algo que impacta inclusive empresas que operam no formato presencial (irônico não?). Uma pesquisa de 2019 — antes da pandemia de COVID-19 — conduzida com 403 executivos dos Estados Unidos pelo The Economist, mostra que 44% acreditam que problemas de comunicação causaram impactos diretos (atrasos ou falhas) em seus projetos. E 52% afirma que os problemas de comunicação contribuiram para estresse.
Para lidar com esses problemas em um ambiente remoto é muito importante que os times criem novos e hábitos e entendam que se você tem uma pessoa do time trabalhando de maneira remota a comunicação deveria ser TODA tratada como se o time inteiro estivesse remoto. Isso ajuda que ninguém se sinta excluído de uma discussão ou sinta que sua opnião tem menos peso.
Principais pontos de atenção até agora:
- A comunicação deve acontecer por texto e de maneira assíncrona — aquela que não espera uma resposta no mesmo instante em que foi enviada. Isso é fundamental já que as pessoas tem tempos diferentes;
- Clareza na comunicação. Passar uma mensagem por texto escrito não é simples, principalmente quando precisamos expressar pontos de vista ou ter discussões técnicas, quanto mais contexto puder ser passado melhor, e aqueles 5 minutos a mais escrevendo a mensagem evitam horas de discussão desnecessária;
- Alinhamento de objetivos de maneira transparente para todos da empresa. Quando estamos trabalhando no formato remoto existe uma percepção de que as coisas não ‘acontecem’ então dar visibilidade para todos sobre as iniciativas em curso ajuda a tirar uma fricção desnecessária;
Lembrando que em uma startup early stage como a Estoca a comunicação é parte da estratégia e precisa ter uma atenção, especial principalmente pela necessidade de velocidade e quantidade de decisões que os times tomam no dia a dia.
Resolução de conflitos
O segundo grande desafio é como lidar quando ocorrem conflitos. E uma das poucas certezas que temos no dia a dia é que conflitos vão acontecer.
Lidar com conflitos em ambientes remotos tem uma complexidade maior já que o que acontece no espaço remoto pode muitas vezes ficar ofuscado, diferente do presencial onde é perceptivel quando algo está fora do eixo.
Aqui cabe muita atenção aos problemas de comunicação. Grande parte dos conflitos são gerados por não entender algo que foi dito ou por não se ter clareza do contexto.
Além disso , lidar com conflitos nesse cenário demanda a construção de alguns alicerces (e que são de longo prazo):
- Uma cultura de empatia, já que muitos conflitos acontecem por que não escutamos e nos colocamos no lugar da outra pessoa;
- Uma relação de confiança entre as pessoas dos times. As pessoas dos times precisam sentir que estão em um ambiente seguro e que podem se expressar para que os conflitos sejam resolvidos e não ‘jogados para debaixo do tapete’;
Motivação e engajamento do time
Quando falamos de trabalho remoto sempre surge alguém dizendo “mas o engajamento do time remoto não é o mesmo do time presencial”, e aqui cabe dizer que particularmente não acredito nisso e na nossa experiência isso não se provou.
Motivação e engajamento vem em decorrência de uma série de aspectos como desafios, reconhecimento, alinhamento de propósito. Esses aspectos precisam ser alinhados, não só durante o processo seletivo como também no dia a dia.
Mas para que isso aconteça algumas ações são importantes:
- Ter 1:1’s constantes. O conceito de momentos recorrentes entre lider e liderado para criar confiança e assegurar que as coisas estão no eixo se tornou o principal pilar para que tudo acontece;
- Fortalecer o relacionamento entre as pessoas. Isso é muito importante para que os times remotos tenham contato e façam parte do dia a dia das outras pessoas. O pertencimento não pode ser apenas um sentimento, mas precisa ser uma realidade;
- Confiança nas pessoas. Uma vez que os times estão remotos as lideranças podem facilmente cair na tentação de ‘microgerenciar’ só pra garantir que as coisas estão acontecendo. Mas a confiança nas pessoas se provou uma forma muito mais efetiva de engajar o time;
- Fomentar os feedbacks entre as pessoas do time. O time se mostra muito mais engajado quando sente que tem abertura e pode dar feedback entre si para melhorar o dia a dia;
- Dar suporte. Mesmo que exista um alinhamento, a confiança e as ferramentas necessárias, estar disponível para dar suporte sempre que necessário é fundamental para manter esse engajamento;
Resultados
Assim como o engajamento, quando falamos de resultado existem pessoas que tem dúvidas sobre os resultado gerados por times remotos, na nossa experiência o resultado tem sido expressivo. Na minha leitura, isso acontece por que o resultado é consequência dos planos de ação que falamos acima :D .
Outro problema que existe é que alguns líderes ainda confundem resultados com entregáveis. Aqui estamos falando da eficácia do que foi entregue e não da quantidade de entregas.
Os principais pontos que identificamos que permitiram ter bons resultados foram:
- Alinhamento dos objetivos. Quanto mais clareza de objetivos os times tiverem, mais resultado será gerado, isso por que as pessoas não querem (e não devem) ser apenas executores, elas querem propor soluções, formas alternativas de chegar no resultado, e quanto mais falarmos de objetivos e menos de entregáveis melhores serão os resultados.
- Autonomia e Responsabilidade. Para que os times consigam fazer entregas alinhadas com os objetivos ele precisam muito de autonomia, mas também de responsabilidade. Quando estamos em um modelo remoto o padão de trabalho das “9hs as 18hs” não funciona bem, e ter autonomia pra ajustar seu horário e responsabilidade sobre combinados e entregas é fundamental.
- Métricas. O maior desafio de qualquer time (presencial ou remoto) é conseguir saber se as coisas estão caminhando na direção correta, e como elas estão acontecendo. Sem o uso de métricas esse trabalho se torna um grande ‘microgerenciamento’ e se torna insustentável. Então é importante que cada liderança entenda quais são as principais métricas do seu time e acompanhe-as e trabalhe para evoluir.
Resumindo tudo
De maneira resumida posso dizer que os grande pontos que tem ajudado a Estoca a superar os desafios gerados pelo modelo remoto são:
- Máximo de transparência possível;
- Empatia com todos;
- Clareza nas comunicações;
- Todo o contexto e mais um pouco;
- Objetivos alinhados;
- Prioridades claras;
- Dados para suportar tudo isso;
