12 dias pelo sul do Chile de motorhome
Sempre fui fascinado em motorhomes e por 2 anos planejei, li e reli o relato de uma família que fez uma viagem super parecida, fiz orçamentos, assisti vídeos no youtube de como eram os motorhomes e, por fim, achei duas companheiras, minha melhor parceira e companheira de sempre (minha mãe) e Ana Claudia — uma estimada amiga que o RJ me deu, que toparam participar e dividir essa experiência de morar 12 dias em um motorhome pelo sul do Chile.
Desde o início da viagem pensei em fazer este relato pois achei apenas o relato da família acima e enfrentei muitas dúvidas durante todo esse tempo. Contudo, o interesse cresceu exponencialmente quando, ao publicar as (muitas) fotos durante a viagem, uma quantidade surpreendente de pessoas me cobraram dicas, histórias e impressões desta experiência. Então abaixo segue um relato de pontos específicos dessa viagem, em outra postagem, irei relatar o nosso dia-a-dia e todo o nosso itinerário "planejado".
A motivação
Viajar, pra mim, sempre foi mais que um fuga do dia-a-dia, sempre foi uma oportunidade de conhecer novos lugares, novas culturas, novas pessoas e tentar enxergar o mundo de outra perspectiva. Desde a graduação, sempre viajei bastante pelo Brasil. Ao final do mestrado, já conhecia o distrito federal e 19 dos 26 estados brasileiros e quase toda a costa brasileira, daí nasceu um plano de aposentadoria no qual viajaria o mundo abordo de um motorhome. Depois de muitas conversas, sonhos e planejamento para financiamento da aposentadoria, surgiu a maior dúvida: Como é morar em um motorhome? Foi querendo responder essa pergunta e todas as que vem acompanhada com ela que surgiu essa experiência.
A escolha do destino foi fácil. O Chile é um país com uma frota considerável de motorhomes (e empresas de aluguel), um país com vários parques e campings propícios para a visitação com esse tipo de transporte, um clima super agradável, estradas muito boas e, o melhor, passagem relativamente barata. Afinal, é como eu costumo falar:
Quanto menor o custo, mais viagens a fazer. Viajar bastante requer saber viajar com pouco dinheiro.
Aluguel do motorhome
Não existe nenhuma grande rede de aluguel de carro que alugue motorhome no Chile. Entrei em contato com todas as empresas de aluguel que exitem na internet: Chile Motorhomes, Motorhomes Chile (Sim, são diferentes), Andes Campers e Nómade Motorhomes. É uma verdadeira odisseia fazer esse levantamento, visto que existem vários tipos de motorhomes, com todas as configurações possíveis, os orçamentos são dados em peso chileno, dólar e, até, em euro. Esteja com uma calculadora, as taxas de conversão a mão e sempre super estime/arredonde os valores.
Depois de inúmeros e-mails, acabei fechando com a Motorhomes Chile que deu o orçamento mais justo, diária a 175 dólares, e pagamento apenas ao retirar o motorhome.
Dica: Sempre negocie! Quem não chora, não mama! ;)
O motorhome
Ficha técnica: Ford Chateau, triton 6.8 cc, ano 2009, capacidade para 6 pessoas, 3 camas, 8 metros de comprimento, refrigerador com freezer, cozinha, microondas, ar condicionado, banheiro, sistema de gás, transmissão automática, tanque de 200 litros.
A cabine do motorista é bem confortável e espaçosa, o espaço interno é legal pra ficar batendo papo mas não pra 3 ou mais pessoas ficarem transitando, a volta das compras era um problema, tinha que fazer linha de produção. Para dormir, foi bem tranquilo: minha mãe ficou na cama de casal (mais confortável) ao fundo do motorhome, eu fiquei na cama de casal que é formada ao desmontar a mesa da "sala" e a Ana Claudia ficou na cama que fica acima da cabine.
Na estrada
Dirigir um motorhome é bem diferente de dirigir um carro pequeno. Nos dois primeiros dias, andava a apenas 80 km/h onde a máxima girava em torno de 120 km/h. Na minha primeira ultrapassagem quase coloquei um caminhão pra fora da estrada (ops!). Com o tempo, aprende-se a utilizar os dois espelhos do retrovisor (apareceu no angular (o de baixo), pode voltar pra a pista com segurança) ;)
A maior parte da viagem foi na Ruta 5 Sur, uma estrada que corta todo o sul do Chile, de Santiago a Chiloé. Completamente duplicada, muito bem sinalizada e com mais pedágios do que eu gostaria.
Várias noites dormimos nos postos da rede COPEC, uma rede que se aproxima com a rede de postos GRAAL que é super comum nas estradas do sul e sudeste do Brasil. Todos os postos que passamos tinham banheiros super limpos, chuveiros, restaurante e/ou lanchonetes, mini-supermercados e não vendiam cervejas pra relaxar depois do dia dirigindo :( Chato se acostumar com o certo. Segurança? Todos os pátios que paramos eram muito bem iluminados e limpos. Tirando o dia que escutamos Simone e Simara e Alexandre Pires, de um motorista mais empolgado, foi tudo super tranquilo.
Uma atenção especial a dois detalhes super interessantes das estradas chilenas:
1 - As placas. Todas eram sempre sugestivas. "Velocidad sugerida: 100 km/h". Ou apelavam para o lado emotivo: "Papá no atiende el teléfono, te estoy esperando".
2 - Não passei por um único radar de velocidade. Mesmo assim, não vi nenhum carro muito acima da velocidade permitida.
Reflexão: Devemos educar através de punições ou através do apelo ao lado emotivo?
Passeios e trilhas
Uma das maravilhas de viajar de motorhome é poder conhecer os lugares mais remotos sem se preocupar com a estrutura do local, é poder acordar a cada dia com um quintal diferente, é poder estar sempre em contato com a natureza.
Nesses 12 dias de viagem, conhecemos um total de 2 parques, 3 vulcões, 6 lagos e 19 cidades, em 2.770 km. Nos dois parques que visitamos fizemos as maiores trilhas (12 km cada) e subimos o vulcão Osonor em uma trilha com nada mais, nada menos que 24 km. Muito desafiador mas também muito recompensador pelos visuais que encontramos pelo caminho.
Um ponto super importante a ser levado em consideração nesse tipo de viagem é você gostar do caminho que está fazendo, saber apreciar a paisagem, saber apreciar um vulcão crescendo na sua frente quanto mais você se aproxima da cidade, saber notar as folhas de outono caídas no chão, os detalhes dos locais onde está passando, a mudança na vegetação, no costume das pessoas, na arquitetura das casas, nas estradas e, principalmente, ficar atento as oportunidades, afinal, o caminho é aquele que você está fazendo, não precisa ser, necessariamente, o planejado!
Custos
Não é uma viagem barata, não foi a toa que passei tanto tempo planejando e querendo encontrar pessoas para dividir os custos. Os maiores custo que tivemos é óbvio: aluguel, gasolina e pedágio. Lembrando que os gastos são datados de maio/2018. Vamos aos valores (Levando em consideração que 1 real = 180 pesos):
- Aluguel: $ 2100 dólares
- Gasolina: $ 584.512,00 pesos = R$ 3.247,28
- Total de litros abastecidos: 763 litros
- Preço médio do combustível: $ 766,0707733 pesos = R$ 4,25
- Total Pedágio: $62.050,00 pesos= R$344,72
- Preço médio do pedágio: $ 2.585,41 pesos = R$ 14,36
Gastos com relação a comida não vai ser relatado mas foram relativamente ok. Optamos por fazer a maioria das refeições no próprio motorhome, afinal, isso também faz parte da experiência. Contudo, vale ressaltar que o preço das refeições em restaurantes no Chile nos assustou um pouco.
Uma experiência de vida, não apenas uma viagem!
Minha percepção, no final da viagem, é que foi uma experiência de vida, não apenas uma viagem. Por 12 dias eu não tive rotina, por 12 dias eu não acordei no mesmo local, por 12 dias eu estava vivendo uma realidade diferente em um local diferente com pessoas diferentes. Por dias, eu estava em contato direto com a natureza, por dias eu respeitei o desafio que era minha mãe de 62 anos nos acompanhando em loooongas trilhas sem querer colocar limites que não fossem o do próprio corpo dela, por dias eu brinquei de falar espanhol, por dias eu vivi um sonho.
O dia a dia
Fiz um relato sobre o nosso dia a dia durante essa viagem, você pode ler ele aqui: 12 dias pelo sul do chile de motorhome — O dia a dia