12 dias pelo sul do Chile de motorhome — O dia-a-dia (Parte 2)
Está é a segunda parte do meu relato do dia-a-dia no motorhome pelo sul do Chile, caso não tenha lido a primeira parte, recomendo fortemente: 12 dias pelo sul do Chile de motorhome — O dia a dia
Histórias! É isso que você vai ler aqui. Histórias tensas, hilárias e inusitadas que aconteceram nesses 12 dias viajando com minha melhor parceira de viagem, minha mãe, e a querida amiga Ana Claudia. Relembrar é viver! Se arruma na cadeira, pega uma água/café/cerveja/vinho e vem relembrar e rir comigo!
Onde vamos estacionar?
Depois das nossas aventuras no Parque Nacional de Conguilio, partimos ainda mais para o sul do Chile em direção a famosa Pucón, uma cidade conhecida por suas termas, espécie de hotel/pousada com piscinas de “águas termais” (nem todas!). Pucón é uma cidade super bonita, moderna, com vários barzinhos e restaurantes, um lago enorme e várias montanhas ao fundo.
Em contra ponto, Villarica, uma cidade que passamos antes de chegarmos a Pucón, era uma típica cidade do interior do Chile, simples, pequeno comercio, alguns parques e praças e poucas pessoas na rua.
Nosso objetivo era parar em um camping para motorhome e curtir um pouco dessas duas cidades. Porém, e se não tivesse um porém, essa história não estaria sendo contada, o camping simplesmente não existia. “Onde vamos estacionar?” Já falei que motorhome não foi feito pra ficar na cidade? Pois é! Simplesmente ficamos rodando entre essas duas cidades durante horas a fio procurando algum lugar para estacionar o motorhome e passar a noite. Ou era proibido estacionar ou o tamanho do motorhome era muito grande para as vagas que estavam livres.
Por fim, nos rendemos e pegamos um airbnb na casa de uma senhora super simpática que tinha um espaço gigante em frente a sua casa onde estacionamos o motorhome.
Saber encontrar alternativas faz parte da viagem também!
Vamos dormir na praça!
Chega de cidade! Viemos aqui pra curtir os parques! Próximo destino? O Gaúcho falou do Parque Nacional de Huilo Huilo em Puerto Fuy. #partiu! No caminho, vamos pesquisando:
- Lago Panguipulli, com várias corredeiras, cachoeiras e trilhas a beira do lado.
- Nawelpi Lodge, um hotel sensacional, com cabanas no meio da floresta, lugar para camping e que acabamos conhecendo todo ele ao sair de uma das trilhas que fizemos no parque.
- Puerto Fuy, uma cidade minúscula de onde saí um catamarã que faz a travessia até a cidade de Pirihueico que faz fronteira com a Argentina.
Foi um dia incrível de muita caminhada, natureza, corredeiras, clima super agradável e visuais simplesmente incríveis! Ao fim do dia, estávamos bem cansados mas super felizes pelo dia. Mas e onde vamos dormir? Já era noite, zero movimento de carro (ou pessoas) na cidade e eu logo soltei: “Vamos dormir na praça!”
Estacionei o motorhome ocupando duas vagas na praça, peguei uma cerveja, combinamos de fazermos uma noite de frios e vinho. Enquanto isso, saí pra olhar a pequena cidade: Casinhas super simples, uma com uma charmosa chaminé, outra com uma pequena vendinha. Todas as ruas de barro, exceto a principal. Muito verde, o lago se extendendo entre grandes montanhas e, ao fundo, na direção da pista de onde viemos, se destacava o imponente vulcão Shoshuenco.
A visão, o churrasco e a trilha!
Com absoluta certeza, as paisagens das montanhas e vulcões emoldurados por uma natureza quase intocada é o diferencial do Chile. Mas a melhor visão dessa viagem com certeza foi em Petrohue aos pés do vulcão Osorno, me digam vocês:
Depois de muitos minutos contemplando toda essa visão, resolvemos caminhar pelos arredores e descobrimos que aquele era um lugar que as pessoas costumam se reunir para se reunir e fazer churrasco, várias cabanas com churrasqueiras de tijolos. Um pouco mais a frente, encontramos uma placa que descrevia toda a trilha que queríamos fazer. A trilha é dividida em 3 partes: inicio, subida e rodar o cume. Ao total, ida e volta, são 25 km. Na placa, dizia que levaríamos 8 horas. Já era começo da tarde então optamos pelo segundo plano para o dia: O churrasco! Já tínhamos comprado carne, carvão e algumas garrafa de pisco. Voltamos ao motorhome, pegamos as coisas e fomos ocupar uma das cabanas. Com toda nossa habilidade de fazer fogo, demoramos quase 1 hora mas fogo aceso, carne queimando, muito pisco e conversa sobre como estava sendo sensacional fazer essa viagem e o que nos esperava na trilha no outro dia.
A trilha foi um dos momentos mais introspectivos e sensacional da viagem. Eu já fiz muita trilha, grande e pequena mas jamais uma de 25 km, contudo, na época eu estava em boa forma física, correndo 10 km, com uma boa bota de trilha, eu ia conseguir chegar ao final. Ana já tinha comentado no dia anterior que não sabia se ia até o final mas que tentaria chegar até a segunda parte da trilha. Minha mãe! Uma jovem de, nada mais, nada menos, que 62 anos, à época, super ativa, sempre falava: "Vou até onde der". Minha preocupação era ela. Uma trilha subindo um vulcão, 25 km, precisa-se guardar energia pra a volta, não é fácil! Mas decidi que a decisão seria sempre dela, não iria colocar mais barreiras do que ela já tinha enfrentado a vida toda. A decisão era dela, eu tava ali só pra suportar ela.
As 8 da manhã, iniciamos a jornada! A primeira parte fomos andando bem, fazendo brincadeiras e tentando espantar o frio. Chegamos na parte da subida, muita pedra mas até aí tudo bem. Apenas nessa hora, notei que a Ana e minha mãe estava apenas com um tênis de caminhada e comecei a me preocupar bem mais onde elas pisavam para não escorregar ou torcer o pé. Após mais um tempo subindo, chegamos a uma subida ainda mais íngreme de uma areia fofa, onde o tênis delas afundavam e dificultava ainda mais pra caminhar. Tomei a frente e fui tentando deixar um caminho mais batido ou pegando caminhos mais próximo a vegetação onde a areia não afundava tanto.
Chegamos ao final da subida, Ana visivelmente muito cansada. Minha mãe incrivelmente bem, sem nenhuma dor e super empolgada em continuar. Eu estava bem mas ainda bem preocupado com ela. Me certifiquei que ela tava bem e seguimos. Ficar tão perto do cume parece que dá ainda mais energia pra seguir. Caminhar olhando pra ele é simplesmente sensacional!
Chegamos ao final da trilha, passamos algum tempo apreciando a belíssima vista, comemos algo e iniciamos a caminhada de volta. Na volta, identificamos o caminho que a larvar do vulcão fez e optamos por seguir ela até o nosso motorhome. Ao todo, levamos 6 horas e 15 minutos. Uma aventura sensacional, hoje eu sei muito bem a quem eu puxei esse espírito aventureiro.
❤ Mãe, você é uma inspiração, sempre! Te amo! ❤
Vamos até o fim!
Dormimos bastante cansados. Acordamos no outro dia e, o único objetivo era: Vamos até o fim! Inicialmente tínhamos planejado ir até Puerto Montt, última grande cidade no continente, mas decidimos ir até a ilha de Chiloé. A viagem foi tranquila, chegamos a balsa e atravessamos acompanhado de vários caminhões até a ilha já a noite. Não tínhamos onde dormir e procuramos alguma praça mas acabamos nos rendendo a um posto de gasolina no meio da cidade. Só queríamos descansar e, no outro dia, ir atrás dos pontos turísticos. Chiloé é uma ilha até que bem habitada, bem conhecida pela pesca de salmão. Conhecemos vários povoados e fortificações isoladas. No fim, optamos por andar pela cidade principal, Ancud, e encontramos um mercado super bonito, com muita variedade de temperos e frutos do mar. Logo após o almoço, resolvemos iniciar a volta que seria um bocado longa!
Eu vivi um sonho ❤
Minha percepção, no final da viagem, é que foi uma experiência de vida, não apenas uma viagem. Por 12 dias eu não tive rotina, por 12 dias eu não acordei no mesmo local, por 12 dias eu estava vivendo uma realidade diferente em um local diferente com pessoas diferentes. Por dias, eu estava em contato direto com a natureza, por dias eu respeitei o desafio que era minha mãe de 62 anos nos acompanhando em loooongas trilhas sem querer colocar limites que não fossem o do próprio corpo dela, por dias eu brinquei de falar espanhol, por dias eu vivi um sonho.
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