De sofá em sofá

Munike Ávila
Exploradores
Published in
3 min readApr 1, 2019
Créditos a imagem: tookapic

Cheguei na casa do Bugra e logo me deparei com a bagunça. Comida, cigarros e bebidas espalhados pela casa, sofá quebrado e colchões no chão. Olhei pro meu amigo, que me olhou de volta com cara de “acho que entramos numa roubada”. Couchsurfing tem dessas coisas.

Diferente de ficar na casa de um amigo ou conhecido, onde já se tem certa intimidade, ficar na casa de desconhecidos é uma aventura com surpresas: imaginar como a pessoa vai te tratar, como é a casa, se o bairro é tranquilo, entre outras coisas.

Apesar da bagunça, o Bugra nos recebeu muito bem e deu várias dicas sobre Atenas. Turco, mora na Grécia há uns três anos e me disse que apesar da crise, a vida ali é bem melhor, se sente mais livre. Além de nós, também estavam hospedadas duas eslovacas aproveitando as férias de inverno, o que me lembrou o casal de gregos que conheci na casa da Rachel, em Glasgow. A Rachel tem uma casa grande, por isso conseguia hospedar mais de uma pessoa no mesmo período, o que tornava tudo mais divertido. Aliás, ela era uma inglesa de Cambridge, primeira cidade onde morei sozinha. O mundo é mesmo um lugar muito pequeno…

Uns dias depois de me hospedar no Bugra, encontrei a Johanna, uma alemã muito querida que me recebeu de braços abertos na sua kitnet em Berlim. As paredes do apartamento cheia de cartões postais me fizeram viajar para lugares que nunca pisei. Ela me disse que esse era mesmo o propósito. Como não pode viajar o tempo todo, pede pra amigos enviarem postais de onde estão, assim ela acaba conhecendo um lugar novo de certa forma. Descobrimos coisas em comum, como voluntariado. A Jo já passou um ano no Afeganistão ensinando alemão para crianças. Um ano depois do nosso encontro ela resolveu ir para o Quênia participar do projeto Escola Kabiria, do qual faço parte.

Em Londres fiquei na Maiara, uma amiga de intercâmbio, quando ela ainda alugava um quarto na casa de uma família ucraniana e eu tinha que tomar banho com um gato preto me encarando. Foram dias divertidos relembrando tempos de república estudantil. A Manon, colega de mestrado, me acolheu no seu apê em Amsterdam, com um terraço incrível! Me explicou que, por lei, quem prefere fechar o terraço com paredes deve fazer tudo de vidro pois não se pode tampar a visão das outras pessoas; enquanto eu expliquei pra ela que a melhor maneira de tirar o detergente da louça é passando água e não apenas pano. Em Dublin eu era a bendita na casa do Thiago, já que ele dividia com mais três amigos, assim como em Israel, quando decidi morar num bunker na casa de um amigo do Felipe B Cabral. Todos fizeram eu me sentir em casa.

Se não posso viajar, trago a viagem até mim. Foi o que aconteceu quando recebi a Marce em minha casa por quase dois meses. Ela trouxe a Colômbia em forma de comida, livro, idioma, lembrancinhas e, é claro, muitas histórias! A Kamila, amiga de faculdade, levou um pouquinho do Brasil até mim quando me visitou por um mês na Itália e depois levou a Itália pro Brasil em forma de Nutella. Longa história…

O que mais me motiva a viajar são as pessoas que conheço no caminho, as que reencontro e as que vem ao meu encontro. Ouvir suas historias me faz entender um pouco mais sobre sua cultura. Dormir em seus sofás, mesmo que por poucas noites, ou recebe-las em minha casa já é uma forma de imergir nos seus mundos, muitas vezes tão diferente dos que conheço.

Ah, pode ser que surja uma leve dor nas costas no outro dia, mas a gente acostuma porque vale a pena.

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