Notas de uma viajante
Ano passado completou-se 10 anos da minha primeira viagem sozinha (e desde então não parei mais). Sempre que arrumo minha mochila, faço questão de checar que esteja levando o necessário: passaporte, carteira, uma caneta e um diário de viagens.
Caso a memória falhe ou o diário se perca, vou começar a registrar aqui apanhados de notas sobre o que aprendi com as pessoas que cruzaram meu caminho e minhas experiências.
Na Colômbia, quando uma pessoa espirra, não se deseja apenas “saúde”, como no Brasil.
No primeiro espirro — “saúde”
No segundo espirro — “dinheiro”
No terceiro espirro — “amor”
Acho bem válido, principalmente quando se tem rinite.
“Erre (R) con Erre cigarro. Erre con Erre barril. Rapido corren los carros cargados de azúcar al ferrocarril.” É a música que ensinam na Colômbia para aprender a pronunciar a letra R no espanhol.
“No”(escrito “ano”) significa “sim” na língua Tcheca. Acho que descobriram um jeito simples de complicar uma conversa.
Uma vez uma amiga italiana falou algo e eu concordei com um “joinha”. Ela respondeu: “um?”. Aí eu lembrei que eles começam a contagem nos dedos com o polegar. Aliás, muitos gestos que pra gente significam uma coisa, pra eles significam outra ou não significam nada mesmo.
As vezes parece que ouço todas as línguas do mundo dentro de um único vagão de trem em Milão. Sempre tive a curiosidade de saber como o português brasileiro soaria à meus ouvidos se não fosse minha madre língua. Já que isso não é possível, acabo descobrindo pelas outras pessoas.
Tirando o fato de que temos uma diversidade de sotaques — e nunca entenderei porque insistem que catarinenses falam “cantado” — já ouvi que nosso português “parece francês”; “É só colocar “inho” no fim das palavras”; “É só colocar “ão” no fim das palavras”; “parece um gay falando russo” — esse com certeza foi o mais curioso.
Viajar sem planos e destinos definidos é basicamente sair de um deserto de quase 40 graus para uma cidade com frio de 8 graus, tudo no mesmo dia. Nada novo para quem veio de Criciúma.
Tutto il mondo è paese
A política pode funcionar de várias maneiras, mas o descontentamento é o mesmo. Corrupção é global.
O grito de gol pode ser diferente, mas o entusiasmo é igual.
O Deus em que você acredita não é o mesmo do outro, mas o fanatismo leva ao mesmo fim.
O padeiro acorda cedo pra fazer o pão. A avó te enche de comida. Adolescentes falam alto e gostam de chamar atenção. Taxistas ultrapassam sem medo. Colegas fazem Happy Hour. Existe gente morando em mansões. Existe gente morando na rua. E existe um provérbio italiano que diz que o mundo inteiro é como um bairro.
Acho esta a melhor definição de mundo.
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