Jardim de monges em Luang Prabang, Laos (arquivo pessoal)

Viajando sozinha pela Ásia: Tailândia e Vietnã

Munike Ávila
Exploradores
Published in
9 min readAug 19, 2019

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Este ano decidi fazer minha primeira viagem à Ásia, só eu e minha mochila. Criei um roteiro entre Vietnã, Laos e Camboja com um pulo rápido na Tailândia.

Não sabia muito bem o que esperar, mas lendo o relato de outras mulheres percebi que eram países bem tranquilos, e são mesmo! As pessoas são muito acolhedoras e foi uma das regiões que mais me senti segura viajando sozinha, mais que em muitos lugares da Europa inclusive.

Minha primeira parada foi em Bangkok, Tailândia, onde eu tinha 12 horas de conexão entre vôos. Decidi explorar um pouco a cidade utilizando apenas o transporte público. O objetivo era chegar ao Grande Palácio e ao templo Wat Pho.

Grande Palácio (arquivo pessoal)

Foi assim que tive meu primeiro choque cultural: o comportamento asiático no trem. As pessoas fazem fila indiana para entrar e sair e ocupam os espaços do trem devidamente, sem parar no caminho nem deixar vão entre os bancos. Parecia uma dança sincronizada. E o silêncio? Pra quem mora na Itália e pega o trem todo dia, foi uma experiência sonora incrível! Ou, nesse caso, a ausência dela.

Fila para entrar no trem (arquivo pessoal)

Na placa dos assentos preferenciais, além dos quatro símbolos comuns (mulher grávida, idoso, pessoa com criança de colo e deficiente físico), tem um quinto: um bonequinho com o corpo enrolado em faixas de cor laranja. Fiquei um tempo me perguntando o que significava, até ver um monge do lado de fora da janela. É isso, assento para monges!

(google imagens)

Depois do trem, troquei para o BST, que é outro sistema de trens parecido com metrô de superfície. Por último peguei um barco, um meio de transporte bem comum por lá. Vou explicar como fazer tudo sozinha no próximo post, com informações úteis. ;)

Dentro do barco (arquivo pessoal)

Demorou em torno de uma hora e meia pra chegar do aeroporto até o Grande Palácio, mas foi uma ótima maneira de conhecer a cidade e sua cultura em pouco tempo, até porque me encontrei sendo a única turista usando o transporte público, o que chocou algumas pessoas. Como é um percurso longo que atravessa a cidade, foi possível ver muitos de seus contrastes. Me lembrou São Paulo, prédios abandonados e arranha-céus modernos; de um lado do rio Chao Phraya barracos, do outro grandes shopping centers de luxo.

O Grande Palácio não é grande só de nome. Dá pra passar ao menos uma hora dentro desse complexo que serviu de residência oficial para o rei da Tailândia desde o século XVIII até o século XX. Construído em 1782, ele ainda é um centro de cerimônias e da monarquia.

Planta do Grande Palácio (wikipedia) e fotos do complexo (arquivo pessoal)

As torres e templos são imensos e caminhar entre eles foi uma experiência nova e incrível. Além disso, tem um jardim muito bonito. Pra minha sorte o sol resolveu sair nessa hora, tornando a paisagem ainda mais deslumbrante.

Arquivo pessoal

A 10 minutos de caminhada dali, se encontra o templo Wat Pho, famoso pelo Buda reclinado de 46 metros, além de abrigar a maior coleção de imagens de Buda na Tailândia, onde muitos locais vão fazer suas preces. O templo é considerado o primeiro centro de educação pública do país e também é conhecida como o berço da tradicional massagem tailandesa que ainda é ensinada e praticada ali.

Arquivo pessoal
Buda reclinado: não importa a sua posição, os olhos do Buda sempre estarão direcionados para os seus. (arquivo pessoal)

Como estava sem dormir há um dia e tinha que reatravessar toda a cidade, decidi voltar para o aeroporto e me preparar pro próximo destino: Hanói, no Vietnã.

Hanói foi o ponto de partida de toda a viagem por um motivo especial: visitar uma amiga indiana/americana que está morando lá.

Jital me recebeu em sua casa no bairro West Lake, um lugar majoritariamente frequentado por imigrantes (ou expats, como você preferir chamar). Me surpreendi com a quantidade de ocidentais que decidem morar na capital do Vietnã, a maioria trabalha como professor de inglês.

O West Lake é o maior lago de Hanói e por ali se encontram barzinhos e restaurantes de diversos estilos: comida local, coreana, vegetariana, cerveja artesanal, show ao vivo, etc.

Lago West Lake e comida coreana com cerveja local (arquivo pessoal)

Meu segundo dia em Hanói começou com chuva, e assim aconteceu com todos os outros dias ali, devido a Agosto ser período de monções nessa região da Ásia. Mas isso não impede exploradores de explorar, não é mesmo? ;)

Almoçamos no restaurante Nha Hang Chay An Lac, um restaurante local com buffet vegetariano. Pra minha felicidade a comida local não é nada picante e é deliciosa!

Yummy!! (arquivo pessoal)

Caminhamos pelo Old Quarter, que me lembrou os famosos “calçadões” das cidades brasileiras com muitas lojinhas e grandes letreiros coloridos. A diferença é que ninguém insiste em chamar cliente pra dentro e o trânsito não para, literalmente. A quantidade de motos e mobiletes por metro quadrado em toda a cidade é incalculável e dirigir por aqui é uma arte. Vi criança dormindo enquanto a mãe dirigia, três pessoas em uma mobilete só, gente fazendo selfie no caroneiro e até gente comendo no meio do trânsito! E por incrível que pareça, não vi nenhum acidente.

arquivo pessoal

Atravessar esse trânsito caótico a pé não é tarefa simples, mas se dá um jeito. No último dia, enquanto eu caminhava pela cidade tive que atravessar uma grande avenida fora da faixa, não que a faixa fizesse diferença. A minha tática foi me posicionar do lado de uma senhora e atravessar ao mesmo tempo. Pra minha surpresa, ela pegou na minha mão e lá fomos nós!

Após o Old Quarter, decidimos atravessar a ponte do lago Hoan Kiem e visitar o templo Den Ngoc Son, um templo dedicado aos filósofos confucionistas e taoístas e ao grande príncipe Hưng Đạo,

Templo Den Ngoc Son (pinterest)

Como a chuva não parava, encontramos um evento no facebook de uma apresentação de uma Orquestra e resolvemos ir até o auditório comprar os bilhetes. Chegamos na hora do evento, já achando que tinham fechado as portas, e pra nossa surpresa encontramos muitas pessoas vestidas elegantemente na entrada do lugar.

“Vai ver a gente errou de porta, né?” — pensamos, e fomos em direção a outra sala onde, eventualmente descobrimos, estava rolando uma festa de carnaval para crianças.

Definitivamente a gente tava no lugar errado, mas perguntar não custa nada.

Voltamos à porta principal e fomos barradas porque estávamos sem convite. Provavelmente os chinelos e as pernas sujas de lama também não ajudaram (chinelos tem essa grande desvantagem de respingar lama em toda a perna enquanto caminhamos na chuva).

Mas, se brasileiro não desiste nunca, indiano insiste até conseguir! E, como diriam os grandes pensadores da nossa geração “se juntas já causa, imagina juntas!”, né?

Conseguimos os convites e entramos com nossos looks de gala luxuosos!

look de gala versão mochileira (arquivo pessoal)

A apresentação não era apenas de uma orquestra, mas a cerimônia de abertura do campeonato internacional de música para violino. Foi uma belíssima apresentação, com uma orquestra cosmopolita. Por que diabos colocaram um evento apenas para convidados no facebook continua um mistério.

arquivo pessoal

No dia seguinte visitei o Templo da Literatura, um templo dedicado ao conhecimento e aos professores, tendo como principal influência Confúcio. Construído em 1070, o templo abriga a Academia Imperial, primeira universidade nacional do Vietnã.

Templo da literatura (arquivo pessoal)

A próxima parada foi na rua Ngo 224 Le Duan — a famosa rua onde passa o trem para Ho Chi Minh.

Com a quantidade crescente de turistas, o local atualmente é cheio de bares na beira dos trilhos para poder ver o trem passar com uma visão privilegiada — e muitas vezes perigosa. A rua é tão estreita que os toldos dos bares devem ser fechados ou correm o risco de serem levados pelo trem.

(pinterest)

O trem passa em 4 faixas horárias durante o dia, que podem variar de acordo com a época do ano, então vale checar no Google antes de ir. Nós chegamos um pouco depois do previsto mas aproveitamos para tomar um smoothie de manga.

Pausa para um aviso importante: as frutas aqui são deliciosas, mas a manga eu não encontro nem palavras pra descrever, apenas sinto saudades.

Saudade smoothie de manga! (arquivo pessoal)

Esperamos a chuva dar uma trela para seguirmos caminho, e pra nossa surpresa o trem passou assim que saímos da rua — 1 hora atrasado. Conseguimos vê-lo apenas do lado de fora da rua, mas valeu o passeio.

Por último, demos uma volta no Hang Da Market, um mercado enorme com diversos produtos a venda: comida, tecidos, roupas, eletrônicos, souvenires, artigos para crianças, etc. As pessoas passam o dia todo dentro de suas minúsculas ilhas, geralmente olhando o celular. Assim como no Oriente Médio, a barganha faz parte do processo de negociação, você não tem como evitar.

Hang Da Market (arquivo pessoal)

A noite aproveitamos para caminhar na rua em torno ao lago Hoam Kiem, que fica fechada para carros no fim de semana. A cidade se transforma e todo mundo ocupa a rua. Senhorinhas fazem aula de dança, músicos se apresentam, crianças brincam entre elas, pessoas se alongam, meditam, observam o movimento sentados nos bancos à beira do lago. A vida floresce a noite.

Meus últimos dias em Hanói foram de muita “pernada”. Com o mapa da cidade baixado no celular, resolvi caminhar alguns quilômetros e descobrir a cidade sozinha. Passei por ruas de chão batido, vi lixo no asfalto assim como ruas limpíssimas, grandes avenidas e praças arborizadas.

Arquivo pessoal

E nessa caminhada encontrei o Museu das Mulheres — um museu que conta a história das mulheres vietnamitas dividido em três partes: mulheres na família, mulheres na história e história da moda feminina. Muito interessante!

Women’s Museum (arquivo pessoal)

Faço uma pausa para o texto não ficar longo e cansativo. Nos próximos posts contarei sobre as experiências no Laos e Camboja e dicas que podem ser úteis caso você esteja planejando viajar pela Ásia sozinha/o. Até lá! ;)

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