Buda reclinado no Monte Phou Si, Laos (arquivo pessoal)

Viajando sozinha pela Ásia: Laos e Camboja

Munike Ávila
Exploradores
Published in
10 min readSep 16, 2019

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Já era tarde quando cheguei em Luang Prabang, no Laos. A impressão que tive foi de que tudo era pequeno e parado no tempo: o avião de hélice, o aeroporto com cadeiras de lanchonete, o caminho curto do aeroporto até o centro da cidade e as pessoas. Sim, as pessoas são literalmente pequenas, e eu, pela primeira vez na vida, experimentei a sensação de ser alta por alguns dias. Eu meço 1.56mt.

Mas com o amanhecer do dia seguinte a cidade se revelou algo surpreendente: um lugar de beleza simples repleto de natureza — com certeza a minha cidade favorita deste roteiro.

Assim que saia do albergue, sentia o cheiro das comidas locais do Morning Market, que acontecia bem na frente de onde estava hospedada — Golden Lotus Place, um lugar simples e barato mas com uma das melhores localizações da cidade.

Morning Market (arquivo pessoal)

Meu primeiro destino foi atravessar o Rio Mekong de barco para conhecer a Pack Ou Cave e Buddah Cave — duas cavernas budistas. A Renata Alchorne escreveu mais sobre esses lugares aqui (além de ter falado outras curiosidades como a comida que é ótima!).

Pack Ou e Buddah Cave no Rio Mekong (arquivo pessoal)

Mas antes passei pela Vila Xanghai, onde mulheres produzem tecidos em teares manuais, uma técnica quase que esquecida atualmente nos países ocidentais. Tem tamanhos e padronagens diversas, é um mais lindo que o outro!

Arquivo pessoal

Depois disso, foi hora de visitar a Kuang Si Falls. No caminho para a cachoeira é possível observar ursos pretos asiáticos na reserva florestal dentro do parque. Eles são pequenos e foram resgatados de tráfico ilegal de animais, prática ainda comum na região.

O caminho até a cachoeira principal é tranquilo e relaxante. No período de monções (junho a novembro) a correnteza das águas fica mais forte, mas isso não impede quem quiser tomar um banho e se refrescar. A água azul turquesa e os diversos níveis de piscina naturais tornam essa uma das cachoeiras mais lindas e límpidas que já vi.

Arquivo pessoal

Voltando à cidade ao fim do entardecer, já estavam montando as tendas para o Night Market na Sisavangvong Road, um mercado com produtos e comidas locais em uma das ruas principais de Luang Prabang (e não a toa, a dois passos do meu albergue). Caminhar por ali é uma ótima forma de aproveitar a noite, já que a rua é fechada para carros e oferece restaurantes e barzinhos para todos os gostos!

Night Market na Sisavangvong Road (google)

No dia seguinte fui até khuathineng village, uma vila afastada dentro de Luang Prabang, onde conheci Shee Vang, uma costureira de bolsas que trocou a vida de vendedora em mercados de rua por ensinar seu trabalho a quem quiser aprender.

Tirei meus chinelos e entrei em sua casa, onde ela me recebeu com um sorriso seguido de “sabaidi”, olá em laosiano. Sua mãe e seu filho pequeno dormiam em uma cama na mesma sala enquanto eu me juntava a ela em um tapete no chão.

Thor Vang, um jovem laosiano que estava aprendendo inglês, nos acompanhou, aproveitando a oportunidade para praticar o idioma ajudando na tradução.

Shee usava os dedos e os braços como réguas para medir, eu usava os fios de trama e urdume como linha imaginária para cortar o saco de cimento. Sentei na máquina e fui seguindo suas indicações, enquanto Thor com muita dificuldade tentava traduzir. No fim das contas era eu quem ensinava ele os termos técnicos de costura em inglês enquanto Shee me ensinava seu método simples e rápido de fazer bolsas a partir de materiais reciclados. Uma bela troca de conhecimento!

Khuathineng village e Shee Vang com as bolsas que costuramos :)

Voltando à cidade, decidi subir o Monte Phou Si, uma colina de 100 metros de altura no coração da cidade, delimitada de um lado pelo rio Mekong e do outro lado pelo rio Nam Khan.

Escadaria no início do Monte (arquivo pessoal)
Vista do alto do monte (arquivo pessoal)

A subida do monte é tranquila e a vista do alto vale muito a pena! A maioria das pessoas escolhe este ponto para ver o pôr do sol, o que pode não ser uma experiência tão íntima caso você queira curtir o caminho e a vista silenciosamente. Eu optei por ir no início da tarde, quando estava vazio e o tempo estava nublado — o que não significa que minha camiseta não tenha ficado encharcada de suor, já que a umidade do ar chega a 90% no período de monções.

Decidi subir pelo lado do rio Mekong e descer pelo outro lado, onde descobri uma casa de monges e santuários budistas em meio a natureza.

Arquivo pessoal

Saindo do monte, fui explorando as ruas da cidade e comecei a encontrar plaquinhas para o restaurante Utopia. As placas foram me levando para vielas muito bonitas até chegar ao restaurante às margens do rio Nam Khan.

O Utopia não é apenas um restaurante, mas um local que oferece diversas atividades como aulas de Yoga durante a manhã e festas durante a noite. O ambiente é relaxante e você pode beber, comer ou apenas aproveitar o espaço como preferir.

arquivo pessoal

Vi muitas pessoas sozinhas curtindo o local, algumas no celular, algumas com livro, algumas com notebook. Eu aproveitei para escrever enquanto me refrescava com uma Laosbeer, no embalo da música ambiente que contava com Weezer, Smashing Pumpkins e Bowie cantando Space Oddity.

“Now it’s time to leave the capsule if you dare.” — acho que resume essa viagem.

Fazia anos que não viajava sozinha para um lugar tão fora da minha zona de conforto, só para reaprender que talvez seja essa a minha zona de conforto.

Bar Utopia (arquivo pessoal)

Continuando minha caminhada pela cidade, visitei alguns templos budistas como o Wat Mai Suwannaphumaham, o maior templo da cidade construído no século XVIII, e o Haw Pha Bang, que se encontra dentro dos jardins do Palácio Real.

Wat Mai Suwannaphumaham (arquivo pessoal)

A cidade conta com muitos templos budistas, basta caminhar pelas ruas para encontrá-los. Foi assim, por acaso, que descobri um pequeno centro de artes tradicionais e etnologia, que conta com exposições permanente e temporárias sobre a história e cultura do país. Ali aprendi que o Laos é dividido em quatro grupos étnicos — Akha, Hmong, Tai Dam, and Kmhmu — e que tocar dadoula (um tipo de flauta ) é muito difícil. Eu tentei, na exposição temporária sobre os instrumentos tradicionais do Laos.

Jardins do Palácio Real e templo Haw Pha Bang (arquivo pessoal)

Minha próxima parada foi Siem Reap, no Camboja. A cidade é porta de entrada para os templos de Angkor, antiga capital do Império Khmer, Estado antecedente ao Camboja atual, que floresceu aproximadamente entre o século IX e XV. Durante os anos 1010–1220, a cidade contava com 0,1% da população global.

Arquivo pessoal

As ruínas de Angkor estão localizadas em meio a florestas e terras ao norte do Lago Sap e ao sul dos montes Kulen, e são consideradas Patrimônio Mundial da UNESCO. Na área de Angkor foram encontradas mais de mil ruínas de templos, entre eles o Angkor Wat, considerado o maior monumento religioso do mundo.

Arquivo pessoal

Ao centro de Angkor se encontra o templo Bayon, construído entre os séculos XII e XIII. Sua característica principal são os rostos sorridentes esculpidos nos quatro lados de cada rocha, que se elevam cada vez mais à medida que você se aproxima da enorme torre central.

Arquivo pessoal

O templo que mais me chamou atenção foi o Ta Prohm, um antigo monastério budista e universidade fundado pelo rei Khmer Jayavarman VII entre os séculos XII e XIII. Assim como toda a cidade de Angkor, este templo foi encontrado em ruínas tomado pela natureza mas, diferente dos outros, ali as árvores nasceram em cima dos templos, se entrelaçando em meio as rochas.

Arquivo pessoal

A mistura entre as rochas antigas de uma cidade perdida e as raízes e troncos de árvores centenárias tornam o templo Ta Prohm um lugar mágico. Pra quem acha essas fotos familiares, foi o cenário escolhido para a gravação do filme Tomb Rider.

Arquivo pessoal

Uma coisa interessante é a forma como eles trabalhavam os blocos de rochas, eram todas encaixadas uma na outra, uma característica que eu tinha visto apenas em ruínas no Peru.

Arquivo pessoal

Além dos templos, resolvi explorar outra parte da região, há cerca 48 km de Siem Reap: o Parque Nacional de Phnom Kulen. Sua localização, a montanha Kulen, é considerada pelos Khmers como a mais sagrada do Camboja, tornando este um lugar muito popular entre os locais.

Não é apenas as montanhas e florestas que tornam essa visita interessante, mas os vários sítios arqueológicos dentro do parque como o Vale das 1000 Lingas e o Preah Ang Thom, uma estátua de 8 metros de altura do Buda reclinado esculpida em uma enorme pedra de arenito.

(google imagens)

O passeio se estendeu pelas vilas da região, onde alguns locais vendiam souvenires em suas tendas enquanto outros eram benzidos por monges, até chegar nas cachoeiras do Parque — não tão lindas como a do Laos, mas, segundo locais, com águas sagradas.

(wikipeida)

Depois de duas semanas viajando sozinha pela Ásia, era hora de dizer até logo! Com certeza uma experiência que me fez descobrir novos mundos!

No próximo post vou compartilhar informações úteis para quem tá planejando se aventurar por esse lugar incrível! :)

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