Vulcão Villarica

Renata Alchorne
Exploradores
Published in
7 min readFeb 24, 2020

A pequena aventura que quero compartilhar hoje com vocês é sobre subir até o cume do Vulcão Villarica, o mais ativo da América do Sul.

Foto do Villarica, a partir do centro de Pucón, quando cheguei na cidade.

Na foto acima, é possível ver uma fumacinha saindo dele, a última erupção ocorreu em 2015! As visitas são liberadas e regulamentadas, pois há monitoramento constante sobre as atividades vulcânicas.

Fiz esse passeio em dezembro de 2018, após a prova de corrida de montanha El Cruce de Los Andes, motivo pelo qual fui até Pucón. Para quem ainda não leu, fiz um post sobre essa prova incrível aqui. Dando uma breve recapitulada, essa prova de corrida ocorre todos os anos entre Chile e Argentina. Em 2018, foi sediada em Pucón, uma cidade muito charmosa, que fica a uns 750 km de Santiago. Muito provavelmente, se não fosse pelo fato desta prova ter ocorrido lá, não a teria como um destino provável. Por outro lado, depois que fui lá, pensei "como não conheci esse lugar antes?". Trata-se de uma cidade que atrai os apaixonados por esporte, é super conhecida pela forte prática de trekking, hiking, atividades aquáticas, como rafting e caiaque, além dos esportes no gelo, como skiing e snowboarding.

Após 3 dias de prova do El Cruce (sexta, sábado e domingo), eu fiquei mais 4 dias em Pucón. Após um dia e meio de recuperação pós prova, eu e Marcelo queríamos, obviamente, aproveitar esse espírito aventureiro de Pucón, de tanta natureza a nossa volta. Logo que olhei para aquele vulcão, fiquei muito impressionada, não tem como ter a real dimensão do quão grande ele é.

Comparação entre uma montanha que subi durante a prova (à esquerda) e o Villarica (à direita).

Observando as fotos, vi o tamanho do "bichinho". A montanha à esquerda nós subimos no trajeto da prova com muito esforço, o Villarica é o da direita.

Pois bem, fomos ao centro de Pucón, onde existem várias agências de turismo com pacotes para os passeios na cidade e aos arredores. Encontramos uma agência que tinha uma brasileira e ela nos explicou todo o processo de visita, horários, procedimentos de segurança, alimentação, prova dos equipamentos e etc. Demos mais um volta por outras agências, mas depois voltamos para fechar lá (infelizmente, eu não lembro o nome…). Era uma agência que demonstrou muito profissionalismo. O pacote do passeio incluía translado da porta da agência, saindo às 6h da manhã, até o teleférico, na base do vulcão. Depois, retornada com o grupo até a agência novamente, em torno das 17h.

Antes do dia do passeio, a agência pede que façamos a prova dos equipamentos: as botas (para checar se o tamanho está apropriado e não irá incomodar durante a subida), avaliar o peso da mochila (que é bem pesadinha), que contém uma série de itens, como ganchos para acoplar às botas, caso esteja muito deslizante o gelo, capacete, calça, casaco e luvas (além da nossa própria roupa), porque, quanto mais alto, mais frio fica; além das instruções de segurança. Uso de protetor solar é indispensável; o lanche e a água é por nossa conta, levamos tudo dentro da mochila.

Estávamos em dezembro e a melhor época de visitação é entre novembro e abril. Mas, a região do vulcão tinha bastante gelo, apesar do sol constante. Vi em alguns posts de outras pessoas em outros anos e a paisagem estava bem diferente, com o cume do vulcão praticamente sem neve. Eu, particularmente, achei mais bonito quando fui :)

Eu na base, onde sai o Teleférico.

A van nos deixou, então, na base do vulcão, onde tem um teleférico que pode te levar até um outro ponto que equivale a 1h de caminhada. O pequeno "translado" custa o equivalente a 80 reais. Eu já tinha pago 450 reais pelo passeio e, para quem correu 100km, o que era 1h a mais de caminhada? :P Decidimos partir desde o teleférico. Alguns colegas do grupo foram adiantando e outros (como nós) foram com o guia caminhando.

A subida dura, em média, 5h, já incluindo as paradas para colocar roupa, ganchos das botas (caso necessário) e lanche. Tudo isso ocorre ao longo da subida, não existe ponto de apoio, a gente senta na neve e se arruma. A descida dura em torno de 1,5h e, após, o plano era irmos para um barzinho no caminho para tomar um drink e fazer um lanche com o grupo para confraternizar.

Primeira parada para colocar os equipamentos.

Na base do vulcão, tínhamos uns 18 graus, mas após um tempo de subida, paramos para compor com um casaco mais grosso, luvas e acoplar os ganchos nas botas, pois havia mais gelo que de costume e os ganchos dão aderência para a caminhada. Eu nunca tinha feito passeio na neve, então era tudo novidade para mim. Sobre os óculos "espelhados", eles são polarizados, sendo um acessório obrigatório na corrida que fizemos, por causa do sol constante e da neve que reflete toda a luz contra nós.

Uma das nossas guias até o topo do Villarica.

Outro acessório fornecido pela agência é o martelinho, ele nos auxilia dando sustentação, impulsão e equilíbrio na subida. Mas, sua principal missão é na descida.

Com minha inexperiência e certa "falta de noção", eu realmente não tinha a dimensão do que significava subir aquilo. Eu tenho medo de altura e campos muito abertos geram um pouco de vertigem em mim. Sempre quando Marcelo inventa essas coisas, eu topo na hora, mas é por pura ignorância, porque eu não tenho ideia do que estou fazendo. Quando a gente, de fato, pegou metade do trajeto e vi que estava longe pra dedéu da base e também do cume, só via aqueles pontinhos de gente caminhando em zigue-zague, no meio da branquitude, deu um nervoso. A guia falou para eu ir seguindo atrás dela (como dá para ver ali na foto) e não olhar para baixo. Segui firme com fé.

O nosso outro guia conversando com um colega do grupo.
Um momento de descanso.
Chegamos ao topo!!!!!!

Para se aproximar da cratera que é o local da saída da lava, por ter atividade vulcânica, devemos colocar uma máscara (também carregada na nossa mochila) por conta dos gases emitidos pelo vulcão.

Na beira da cratera do Villarica.

É impressionante o tamanho disso. Lá debaixo não temos a menor noção do tamanho dessa montanha. Eu me senti como uma astronauta chegando à Lua.

Mas, tá pensando que acabou? Nãooooo! A novela para mim começou na descida, aí eu tinha que dar de cara com um tapete branco e pensando, como faz pra descer? Os guias nos orientaram a tirar um "esqui-bunda" que levamos na mochila para irmos deslizando sentados na neve nas regiões que não dava para andar, pois eram íngremes e escorregadias. Como assim, não dava para caminhar? Eu perdi essa parte… Eu sei, é dramático para mim mesmo, as outras pessoas estavam esperando por esse momento de diversão. Tiramos o esqui-bunda e, aí o martelinho tem sua principal missão: usarmos como freio para controlar a velocidade. Seguramos com as duas mãos de um dos lados do corpo e vamos enfiando na neve para freiar. Ao descer, tomei uma velocidade tal que comecei a ficar com medo de sair embolando na neve até o final e isso me deu um medão.

O martelinho para freiar.

Chegou uma hora que eu decidi pedir ajuda para o guia e ir caminhando mesmo.

Tentando descer a pé.

Porém, ao contrário do guia que parecia estar andando no gramado de casa, eu não tinha essa prática toda e acabava escorregando, além de demorar muitooooo mais tempo. Acabou que o guia me deu uma grande ideia: ir de trenzinho com Marcelo no esqui-bunda, assim eu sentei atrás dele com as pernas presas e ele ia controlando a velocidade. Deu certo e conseguimos descer até o final.

Resultado: fomos os últimos a chegar até a van, por isso, não deu tempo de irmos tomar os drinks e confraternizar com o grupo. Desculpem, colegas! Eu realmente não contava com tantas emoções.

O que eu digo: vão nesse passeio, caso estejam na região. Desde que comecei a correr trilhas em montanhas, eu peguei um respeito enorme por elas, são imponentes, lindas e absolutas. Não somos nada perto delas e, esse passeio, em especial, fez cair a ficha sobre sermos um mero visitante ali.

Por fim, retornamos a Pucón umas 17h e estávamos completamente esgotados do sol e do cansaço. Precisávamos comer algo e ir para o hotel descansar.

Da janela do hotel.

Durante a prova, nós ficamos em um outro hotel. Essa vista daí, da nossa janela no hotel, eu só consegui ver na volta, pois tínhamos saído muito cedo para o passeio. Era para eu ficar admirando ele pelas lembranças desse passeio.

Espero que tenham curtido esse post de carnaval e até a próxima!!!

Gostou? Clique nas 👏 para que eu fique sabendo! Para continuar recebendo mais textos como esse, siga Os Exploradores.

--

--