Usando SEMPRE a mesma abordagem em FAE

Filipe Dalmatti Lima
Fate Magazine
Published in
6 min readAug 3, 2015

Como lidar com seus jogadores e seus vícios de se dar bem.

Pois é pessoal, por causa de uma pequeno detalhe chamado “bom senso”, bem como a presença de #pombosenxadristas na mesa, nós, narradores, precisamos sempre ter um jogo de cintura.

Antes que você continue lendo, recomendo ler este artigo aqui onde eu discuto a história da evolução das regras em RPG e a questão do bom senso em RPG. Como ele é genérico, não está incluso na revista Fate Magazine.

Sem mais nenhum mimimi, sejamos práticos. Considere a seguinte afirmação:

“Meus jogadores de FAE tentam sempre usam as mesmas abordagens, que são coincidemente as que possuem +3”

Para discutir isto, vou sugerir várias propostas, utilize aquela que melhor couber no seu jogo.

Política da boa vizinhança

Antes de mais nada, acho que esta proposta aqui vale em todas as situações. Se você/seu grupo vem de jogos mecanicistas, onde as disputas narrador-jogador são comuns, converse com eles. A proposta do FAE é diferente (por favor, entenda que para mim diferente e ruim NÃO SÃO SINONIMOS):

  • Não significa que seu personagem vai morrer automaticamente.
  • Não significa que você vai deixar de ganhar XP ao falhar.
  • Significa que suas falhas farão parte da história e irão adicionar muito drama.

O exemplo do Frodo ter falhado e querer ficar com o anel fez o final do “Senhor dos Aneis” muito mais legal, bem como o papel do Gollum muito mais relevante.

  • Significa que você poderá receber pontos de destino para adicionar detalhes super legais em outros momentos. (Isto é, quando o narrador compele algum aspecto).
  • Significa que o personagem não é necessariamente bom em tudo e que precisa dos amigos da mesa para resolver as situações também. (RPG é um jogo cooperativo, TE JURO!).
  • Significa que FAE não é como aquele outro sistema que vocês eram acostumados a jogar.
  • Significa que o jogo será divertido pois vão acontecer coisas que você não esperava!
  • Significa que se você gosta que tudo aconteça do seu jeito, talvez seja melhor parar de jogar RPG e começar a escrever um livro. Sem desmerecer, quem sabe seu livro não é o próximo senhor dos aneis? Talvez Tolkien e George Martin sejam péssimos jogadores de RPG, mesmo redigindo histórias inspiradoras!

Dificuldades Variáveis

Mesmo com a política da boa vizinhança, alguns jogadores vão sempre usar o mesma abordagem denovo e denovo. Eles até tem uma razão justa para isto: talvez estejam interpretando um Jack Sparrow, que sempre faz tudo de forma Estilosa. Ou talvez um McGuyver que sempre resolve tudo de forma esperta. E vamos ser sinceros, o Jack Sparrow é FODA! É legal ter um louco na equipe sempre agindo da mesma forma. O problema é como lidar com estes jogadores. (Até porque eles não são chatos, #pombosenxadritas ou advogados de regras: eles estão sempre interpretando intensamente seus personagens).

Uma das formas de lidar com isto é variar a dificuldade padrão (2) de acordo com a abordagem. Talvez usar durepoxi e azeite para arrombar uma porta trancada seja mais difícil do que abrir a mesma com ferramentas específicas para isto.

Esta proposta une o melhor dos dois mundos: 1) jogadores podem sempre ser eles mesmos; 2) sempre haverá chance de falha para todo mundo. Porque convenhamos, existe pelo menos 81,48% de chance de ser bem sucedido um teste dificuldades 2 com um ajuste +3. Link para o gráfico de probabilidade: http://anydice.com/program/2f78

O problema é quando começa o duelo das argumentações: Por que o Thiaguinho tem dificuldade 2 para abrir a porta e eu tenho dificuldade 5?

Boa sorte querido narrador! :)

Limitando o número de vezes que o jogador pode usar a abordagem

Recentemente eu escrevi a adaptação dos Cavaleiros do Zodiaco para FAE. É um de cenário combates e os resultados são muito importantes! Por conta disto, é um cenário bem competitivo e faz sentido sempre querer usar a melhor abordagem. Porque afinal de contas, nenhum jogador quer perder uma luta. Para tornar as coisas mais justas eu criei o seguinte aspecto de invocação gratuita:

“Nenhum golpe funciona duas vezes contra o mesmo cavaleiro”

Sendo assim, toda vez que um jogador repete um ataque com a mesma abordagem, o defensor pode invocar este aspecto gratuitamente e receber +2 para se defender.

Percebam que um simples ajuste força todos os jogadores a desejarem interpretar de forma diferente.

Isto também vale aos jogadores, caso eles estejam enfrentando algum NPC que sempre repete o ataque, eles recebem +2 para se defender. Ou seja, a mesma regra vale para todo mundo.

Para o seu jogo você pode criar novos aspectos ou mesmo marcadores de uso. Tipo, por dia cada jogador por usar cada abordagem X vezes, após isto, ele recebe -2 de penalidade pois aquela abordagem está “cansada/fadigada”.

Isto pode ser entendido mais ou menos como o ato de estudar: após 3 horas de estudo você já está cansado para agir de forma “Esperta”. Mas ainda tem fôlego de sobra agir “Rapidamente” e esquivar dos ataques dos seus inimigos no seus PS3!

Reescrevendo as Abordagens

As vezes o estilo do jogo/cenário não cabe no FAE padrão. Eu me senti assim com Star FIFO, visto que em um jogo de exploração espacial ninguém acaba possuindo motivos para utilizar as abordagens sorrateiro ou estiloso. Os próprios jogadores me deram este Feedback e sugeriram que eu alterasse o jogo. Abaixo vou linkar 2 exemplos de como reescrever as abordagens:

Foda-se, está legal assim

Por fim, esta é a última mensagem: Foda-se, está legal assim! Exatamente, se o jogo está funcionando e todo mundo se diverte, mantenha assim e mande bala. Não crie problemas onde não existe. Saiba que é da natureza do teu amigo apelão “ser apelão”, então crie cenas foderosas que ele possa brilhar p/ caralho!

Talvez a melhor forma de lidar com o apelão é deixar ele peitando o BOSS sozinho (bem tipo Hulk/Thor/Superman) enquanto o grupo realiza a missão principal que é ativar as esferas da aniquilação para matar o Boss efetivamente. Todo mundo sai feliz: o apelão se sente “o pica” e o resto do grupo sabe que eles fizeram a missão de verdade.

Enquanto o “THOR” e o “HULK” do seu grupo enfrentam o “Thanos”. O “Homem de Ferro” esta pensando em uma arma para desativar a luva do Thanos e o Capitão américa está pensando numa estratégia de como utilizar os Vingadores para fazer funcionar a arma que o HdF está inventando.

Um cuidado: as mesas sempre são contrabalanceadas com aqueles amigos que preferem ficar quietinhos no lugar deles e participar de vez em quando. Se você tentar ficar colocando ele no “holofote” isto pode se tornar algo chato.

Nem todo mundo acha que a função suporte/defensor/curandeiro é chata. Meus melhores personagens quase sempre foram do tipo suporte (defensores, curandeiros ou magos que usavam buffs)

No World of Warcraft, meu personagem principal era um paladino healer no PVP: meu jogo era só curar a galera e eu ADORAVA fazer isto. Quando ia fazer PVE eu adorava ser o Tank (isso mesmo, o apelão que peita o BOSS sozinho enquanto o grupo da um jeito de matar ele! :P )

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