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A INSPIRAÇÃO NÃO ESTÁ NO PINTEREST

Marcela Vitória
FLAMINGOwtf
Published in
5 min readNov 17, 2016

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criar para pessoas é olhar para o que elas sentem e traduzir com o seu trabalho

Criatividade não é mágica e inspiração não vem do além, é preciso treinar a sua percepção para desenvolver um projeto criativo (vai muito esforço, tentativas e erros — muitos erros!) e é necessário se abrir para as possibilidades que a tarefa te apresenta.

Não é difícil encontrar gente que acredita que pessoas que trabalham com criatividade são unicórnios e vivem numa nuvem de algodão doce. É triste ter que desapontar, mas na maior parte do tempo existe frustração, procrastinação, bloqueio, chateação e falta de fé no próprio potencial.

Nesses momentos de negatividade, existe uma prática que é péssima, mas acontece na maior parte das vezes (faz parte do processo de criação, pode-se dizer), que é correr para buscar inspiração no Behance ou no Pinterest. Parece ser a salvação, mas na realidade só vai piorar a bad, porque não dá para fugir do comparativo expectativa vs. realidade.

Na fraqueza de não saber para onde ir com um projeto que está na agenda há semanas, esquecemos de voltar uma casa para fazer as perguntas certas: quem vai se relacionar com esse projeto? A chave para sair do bloqueio é pensar para quem você está criando: o que essa pessoa faz? Qual o seu hobby? Do que ela está falando na timeline? O que a emociona?

estoure a sua bolha

Tendemos a criar bolhas de informações sobre o que fazemos, seja comunicação, design ou qualquer outra profissão do rolê, e ficamos envoltos naquelas fontes fixas que toda a panelinha de criativos está acessando. Fora que o que você consome de referências nessas plataformas não coincide com o que as pessoas que vão se relacionar com o seu projeto percebem sobre o mundo.

É sempre bom saber o que rola no mercado, mas as respostas para criar para pessoas estão nelas mesmas.

A lógica é simples: se quer saber sobre tendências e comportamento você precisa olhar para o mundo e não para um portal cheio de reportagens que foram pautas por semanas. “Vivemos tempos líquidos e nada é para durar” diz o sociólogo Zygmunt Bauman: pessoas são voláteis, querem coisas diferentes a cada instante, mudam de opinião rapidamente e possuem nuances de comportamento, que se formos esperar pelos reports dos canais especializados já serão ultrapassadas quando acessarmos a informação.

Prestar atenção no que rola na ~vida real~ da internet é o que pode mudar a sua percepção sobre como conduzir a produção de qualquer tipo de conteúdo, design ou ação. É perceber a essência das pessoas para transmitir ela no job. Olhar para as pessoas e suas emoções é essencial para criar algo real e sólido.

Por isso, olhe a sua volta, preste atenção no que as pessoas estão fazendo, nas cores que refletem na parede em dias de sol, respire fundo, pise na grama, fale com estranhos. Perceba o mundo ao seu redor e junte os pontos: como traduzir experiências naquele briefing?

inspire-se e crie com verdade

Eu queria muito ter uma fórmula para encontrar a inspiração, mas é uma jornada tão íntima e tão baseada em vivências que não tem como ser ensinada. O que posso dizer é: saia dos lugares comuns, olhe para os lados, mude o foco da sua curiosidade para coisas aleatórias e, principalmente, questione sobre as pessoas e o que elas pensam sobre o mundo agora, escute histórias e causos. Foque em experiências tangíveis e permita-se sentir.

“É no analógico, no tangível e real onde a criatividade acontece”

bem pontuou a Gabriela, nesse texto ótimo sobre tirar a criatividade da zona de conforto.

Ano passado, passamos meses num projeto que envolvia identidade visual e consultoria criativa para a escritora e chefe de cozinha Deise Sterque. Na última etapa — já com identidade visual aprovada e todo mundo feliz — precisávamos pensar nas imagens de divulgação e foto de capa do site da Cozinha Meraki. O caminho fácil seria comprar de algum banco de imagens umas fotos legais e pronto. Mas tudo no projeto envolvia singularidade e entrega, vivências e histórias, não fazia sentido comprar imagens que não se relacionavam com a proposta.

Numa tarde de reunião resolvemos sair da sala, conversar no pátio, interagir com as plantas, comer pitanga e sentar no chão. Foi naquele momento descontraído que a inspiração veio, enquanto a Deise contava dos apetrechos de cozinha que ela tinha em casa e que cada um tinha uma história especial para ela. É isso! Vamos produzir as fotos para que cada elemento faça parte dessa trajetória que estamos contando.

Escrevendo assim não parece uma ideia tão brilhante e nem é. Ela é honesta, sincera, real e carrega muito mais verdade do que se fosse uma genialidade feita para ~criativo~ ver.

© Lisa Roos Fotografia

ponha o ego de lado e faça escolhas reais

No fim das contas, a maior parte dos medos vêm da comparação com trabalhos de outros profissionais e a ideia de que tudo o que você faz será julgado por eles, quando o foco de tudo deveria estar em quem vai de fato se envolver com o projeto, as pessoas — tanto o seu cliente quanto os clientes dele.

No Pinterest tem muitos projetos geniais que arrancam suspiros e fazem a gente pensar que queria ter criado aquilo. Mas é na realidade que os projetos se tornam geniais, no envolvimento, no processo de ver os materiais gráficos, nos sorrisos e na alegria de quem confiou no seu trabalho e recebeu mais do que esperava da sua criação!

Quer se inspirar? Converse com velhinhos, visite aquele café novo que abriu logo ali, vá a uma exposição, passeie no parque, escute histórias, escreva a mão, fique offline e olhe no olho das pessoas que estão ao seu redor. A inspiração está no mundo, não no pinterest.

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Estamos começando a colocar em palavras aquilo que criamos todo dia no estúdio, nem sempre é fácil explicar nossos projetos criativos, mas por aqui vamos tentando : )

Para ver o que andamos criando no Estúdio, chega mais: Behance | Facebook|Instagram

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