A cognificação e o futuro das empresas inteligentes

Como aplicar IA e IoT à logística portuária

Matias Urbieta
Flux IT Thoughts

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Na indústria atual, as empresas contam com processos que permitem atingir suas metas de negócios, e as soluções informatizadas são os pilares desses processos. Em se tratando da automação, entretanto, as empresas são mais prudentes, pois requerem uma necessidade real para investir em um sistema. Além disso, a percepção de que uma atividade pode ser otimizada requer uma dose tanto de conhecimento como de ousadia.

O conceito, no entanto, ignora dois aspectos essenciais, ou seja, a função que o objeto realiza e o usuário desta.

Para citar um exemplo, tenho o Ok Google instalado em meu celular. Como esse aplicativo, posso usar o viva-voz para fazer uma chamada enquanto dirijo, para escrever um e-mail ou enviar uma breve mensagem do WhatsApp. Não se trata apenas de uma simples solução de voice recognition, mas de uma combinação inteligente de recursos físicos (linha e acesso à internet), dados disponíveis no celular (números de telefone) e mecanismos de deep-learning state-of-the-art para simplificar uma tarefa complexa.

Se esses aplicativos já são disponibilizados ao público em geral, porque não inovar transformando também nossas empresas em smart-business? Pessoalmente, sou contra os projetos caríssimos e, no meu ponto de vista, acredito que a cognificação consiste em um processo gradual que pode transformar pequenas coisas em objetos inteligentes para produzir um efeito bottom-up. Dessa maneira, podemos facilitar a reinvenção de processos de grande porte.

O exemplo dos terminais portuários

Durante cinco anos, participei da equipe de Flux IT Ports em um projeto de soluções para terminais portuários. Nosso trabalho consistia em gerenciar a carga — neste caso em contêineres — para importação e exportação. Quando um navio atraca, os contêineres são descarregados e armazenados em pilhas de contêineres localizados na área conhecida como “pátio”, sendo posteriormente transportados por um veículo ao seu destino.

O operador do terminal inspeciona os lacres de segurança que impedem que o contêiner seja violado antes da entrega. A tarefa é manual e tediosa e sujeita a falhas, causando transtornos aos funcionários dos terminais da LatAm. Atualmente, existem lacres RFID (rastreáveis por radiofrequência), que não são adotados por vários motivos.

Além disso, esses lacres não são confiáveis, pois são feitos de materiais brilhantes com cores de baixo contraste e longas sequências de caracteres que dificultam o reconhecimento (veja a imagem abaixo).

Nesse exemplo, é comum ocorrer uma leitura parcial ou de baixa qualidade das informações. Em alguns casos, o operador toma nota apenas de alguns dados do lacre, já que a leitura é feita à noite ou mesmo sob chuva e com iluminação precária. Por outro lado, geralmente é de baixa qualidade, porque os códigos alfanuméricos são confusos. Para se ter uma ideia, no lacre “ABCD1234567800”, apenas os últimos dígitos são anotados (“73OO”), sendo que o dígito 8 foi substituído erroneamente por 3, e zero pela letra “O”.

Além disso, esses lacres não são muito eficientes, uma vez que podem estar mal posicionados no contêiner, com a etiqueta para baixo ou outra condição. Nesse caso, o operador precisa manuseá-los para obter um ângulo de leitura apropriado.

Mesmo assim, são importantes para garantir que o contêiner não seja aberto, pois um lacre com um número diferente do indicado pelo cliente pode acionar a segurança. Para isso, o operador precisa:

  • Abandonar o posto.
  • Vestir colete, calçado de segurança e capacete.
  • Dirigir-se à zona primária (onde os contêineres são armazenados) cruzando a cerca de segurança.
  • Conduzir um veículo ao local do contêiner danificado.
  • Posicionar o contêiner para que possa ser lido (isso pode exigir um guindaste especial para descarregar o contêiner).
  • E, por último, efetuar uma nova leitura.

Portanto, uma tarefa manual que, a princípio, pode parecer irrelevante, mas representa um custo muito alto para a empresa.

Como tornar um processo mais inteligente na prática

A cognificação pode ser o caminho da otimização dos negócios pois, além de melhorar a qualidade dos dados ao poupar esforço na correção de falhas, facilita a tarefa exaustiva do operador portuário e previne a ocorrência de erros.

Considerando o problema anterior, desenvolvemos uma prova de conceito (POC) com o objetivo de avaliar as vantagens de uma solução. Unimos a tecnologia Computer Vision com integrações de diversos sistemas para simular a atividade de um operador e registrar os dados de alta qualidade em tempo real.

O sistema não propõe a modificação do processo, mas permite incorporar uma nova ferramenta baseada em conceitos distintos:

  • IoT: uso de dispositivo móvel para capturar imagens que podem ser processadas. Ao contrário de portões automáticos ou de acesso que identificam o número da placa de um veículo e a etiqueta do contêiner, os lacres estão posicionados de modo irregular. O dispositivo móvel oferece a mobilidade necessária para a realização dessa tarefa.
  • IA: implantamos o Computer Vision para processar imagens em tempo real e ajudar na leitura.
  • Integrações: os dados obtidos em tempo real são comparados aos do sistema usado para controlar o estoque de contêineres no terminal, denominado sistema operacional do terminal (TOS). Isso agrega mais valor à solução.
  • Exception Handling (tratamento de exceções): esse tipo de ferramenta (incluindo as de nível internacional) apresenta uma taxa de erro que pode ser monitorada. O sistema de controle de falhas permite realizar vistorias locais usando as imagens capturadas como um backup, evitando que o operador acesse a zona primária e resultando na economia de custos.

Os resultados da POC foram excelentes e destaco alguns deles por sua importância no processo de negócios:

  • Precisão nas leituras superior a 95%: todas as etiquetas foram processadas corretamente tanto no turno diurno quanto noturno.
  • Aumento da qualidade dos serviços com menor custo: a ferramenta permitiu que o serviço de atendimento ao cliente fornecesse evidências sobre a leitura dos lacres em resposta a uma reclamação do cliente. Para a empresa com um todo, isso significa evitar o acesso à zona primária.
ESQ: leitura parcial (13512 em vez de 135492) — DIR: leitura correta (8327448)

Ficou evidente que qualquer processo empresarial, por mais simples que pareça, pode ser otimizado, facilitando as tarefas dos funcionários e a eficiência da empresa, poupando tempo e esforço. Desta forma, pequenas etapas da cadeia logística podem apresentar mudanças graduais que, no final das contas, resultam na renovação da atividade empresarial.

Na Flux IT entendemos a inovação como parte fundamental da reinvenção da estrutura digital das empresas. Não deixe de ler outros artigos de conteúdo semelhante, em que analisamos as tendências do momento, como o uso de realidade aumentada para melhorar a informação dos nossos espaços (com ênfase especial na experiência dos fluxers), o desafio de aplicar Blockchain em domínios distintos e a criação de um chatbot para auxiliar o usuário ao acessar um site bancário.

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