Você é um Relações Públicas antirracista? Parte II

O que a Cristina Junqueira despertou em nós

Rafaela Richter
Fantástico Mundo RP

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Escreve aqui uma mulher branca, hétero e de classe média. Mas nem por isso vou me calar. Pelo contrário, me coloco aqui no meu lugar de pessoa privilegiada, para, do meu ponto de vista, falar sobre o que a entrevista da Cristina Junqueira, co-fundadora do Nubank, para o Roda Viva, no dia 19/10, despertou em nós (e em muita gente).

Pra quem não viu a tal entrevista, a Junqueira, quando questionada sobre ações afirmativas planejadas para colocar mais negros na liderança do Nubank, escorregou e afirmou que o processo seletivo deles é muito criterioso, mas que “não dá pra nivelar por baixo”.

Confere aí o trecho da entrevista:

Infelizmente, por um viés (muitas vezes inconsciente), ela acabou jogando a responsabilidade no candidato, por ser mais “desqualificado”, ao invés de falar o que a empresa está fazendo para mudar isso. Essa frase repercutiu muito nas redes, e consequentemente na imprensa, e fez a fintech, conhecida por ser a “queridinha”, ser acusada de racismo. Além de uma crise de imagem para gerenciar, muitos clientes afirmaram que cancelaram as suas contas.

O banco que tem entre seus valores mais admirados “construir times fortes e diversos”, errou. A gente fala há muito tempo por aqui que as pessoas, cada vez mais, exigem transparência e coerências das empresas, e isso está acontecendo. Mesmo que na ocasião ela tenha citado casos de grupos de diversidade formados pelos próprios colaboradores, políticas de capacitação, e até mesmo respondido com propriedade questões relacionadas a diversidade de gênero, a entrevista trouxe ao grande público exemplos de falhas da liderança.

E nós sabemos o quanto o papel da liderança é importante para que as ações afirmativas (e não só elas) deixem de ser discurso e passem a ser realidade em uma empresa, não é mesmo? Os líderes são os principais patrocinadores internos, ainda mais quando estamos falando de mudanças estruturais.

Voltando alguns meses, quanto tivemos a repercussão dos casos de violências policiais contra pessoas negras e a corrente ‘Black Lives Matter’ (confere aqui o texto que a Aline Webber escreveu na época sobre esse tema, e que deu origem ao título do texto de hoje), o mesmo Nubank se posicionou e trouxe um manifesto antirracista. Isso tudo fez deles uma empresa com um discurso muito consolidado no tema de diversidade étnica, porém, percebemos que isso estava mais no discurso mesmo do que na prática.

Acreditamos que a diversidade no discurso, nas campanhas, deve ser um reflexo do que a empresa pratica dentro de casa. Uma empresa que se diz diversa, deve ter diversidade em suas equipes, em suas lideranças, em seus conselhos, em sua cadeia de parceiros, e muito além disso: praticar a inclusão.

Usando a mesma lógica dessa resposta: se não tivermos negros realizando a seleção, negros na liderança, sentindo essa mesma “dor”, quem vai saber como atacar o problema?

Eles erraram. E assumiram. Nessa semana eles publicaram uma carta em nome dos cofundadores em que, além de assumirem o erro, assumem também um compromisso com o tema:

Como fundadores, nos comprometemos a ouvir mais e a agir mais.

Já tínhamos iniciativas focadas em recrutamento e inclusão, mas sabemos que é pouco.

Somos inconformados por natureza, questionamos tudo inclusive nós mesmos. Vamos usar essa característica para recomeçar uma jornada de inclusão racial.

E foi assim, baseadas nesses fatos, e também inspiradas em empresas que tem a diversidade na prática, como a Magazine Luiza, que iniciamos a discussão interna sobre não termos, hoje, pessoas negras no nosso coletivo. Falamos muito sobre diversidade e inclusão nos nossos textos, e somos sim, defensoras dessa causa, porém, quando falamos de pessoas negras, nossas falas ainda são desse lugar de privilégio. Acreditando no talento de todes, decidimos que estava na hora de aumentarmos nosso time e darmos voz para quem tem propriedade para falar desse e de tantos outros assuntos (os quais ela quiser), que abrimos uma vaga exclusiva para pessoas negras ❤

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Rafaela Richter
Fantástico Mundo RP

Relações Públicas | MBA em Marketing Estratégico | gaúcha | estudante de Ciências Sociais.