Divino: A Festa do Divino em São João del-Rei

Fotocronografias
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5 min readJun 27, 2020

Thiago de Andrade Morandi[1]

Resumo: Ensaio fotográfico realizado no principal dia da festa de Pentecostes em um dos bairros mais populosos de São João del-Rei, cidade histórica em Minas Gerais. Divino busca retratar o festejo e emoções de grupos de congado que participam da Festa, para isso as fotos foram captadas em baixa velocidade e com um flash externo para congelar determinados movimentos.

Palavras Chave: festa do divino, congado, sincretismo, fotografia documental

Divino: The Festa do Divino in São João del-Rei

Abstract: Photo shoot held on the main day of the Pentecost feast in one of the most populous neighborhoods in São João del-Rei, a historic city in Minas Gerais. Divino seeks to portray the celebration and emotions of groups from Congo that participate in the Party, for this the photos were captured at low speed and with an external flash to freeze certain movements.

Keywords: feast of the divine, congado, syncretism, documentary photography

[1] Doutorando em Ciências Sociais (PUC Minas) — Bolsista da FAPEMIG — Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
morandi.pesquisa@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-7265-7288
http://lattes.cnpq.br/4605268133887821

Este ensaio fotográfico registra o principal dia da Festa do Divino no bairro de Matosinhos, em São João del-Rei, cidade histórica em Minas Gerais. A festa é uma das principais no calendário cristão e celebra a descida do Espirito Santo sobre os apóstolos, Nossa Senhora e outros seguidores de Jesus Cristo. O dia de Pentecostes é móvel e acontece 50 dias após o Domingo de Páscoa, quando é celebrada a Ressureição de Cristo.

Em São João del-Rei essa festa acontece desde 1774 e é chamada de Festa do Divino, historicamente ela tem três momentos principais: 1. 1774 a 1924, considerada a festa mais popular da cidade, reunindo todo tipo de público e eram realizadas cavalhadas, simbolizando as disputas de cristãos e mouros em torneios medievais. 2. 1924 a 1997 com celebrações internas e sem cavalhadas. Em 1924 houve sua suspensão, segundo Adão (2011) o frei Cândido e padre Gustavo, responsáveis pela Igreja de Matosinhos na época, solicitaram a suspensão da festa, “o pedido feito ao arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, alega dentre outros motivos o excesso de jogatina e o caráter profano da mesma” (ADÃO, 2011, p. 196). 3. Em 1998 a Festa do Divino é resgatada por uma comissão de pessoas ligadas à igreja, pesquisadores e leigos, que inseriram a participação de grupos de congados, substituído as cavalhadas.

A Festa manteve outras características de seu primeiro momento, como a figura do Imperador do Divino e diversos elementos simbólicos[2] ligados às festividades antigas de influência ibérica. A inserção dos congados possibilitou ainda outro resgate, que foi o das influências de raízes africanas presentes na cidade desde seu período colonial.

Os grupos de congados surgiram em Minas Gerais no Século XVIII e ao celebrar santos católicos como Santa Efigênia, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, as pessoas escravizadas encontravam uma forma de cultuar em forma de sincretismo os Deuses africanos, conhecidos como Orixás. Para Ferreira (2017) alguns elementos como guias, pimentas e objetos naturais diversos são alguns dos diversos símbolos de sincretismo presentes no Congado, sobretudo nas vestimentas e instrumentos de seus integrantes.

O ensaio fotográfico Divino busca retratar em formato de uma fotoetnografia (ACHUTTI, 2004) um pouco das devoções presentes na Festa do Divino, com um recorte de enquadramento (BUTLER, 2018) intencional com propósito de destacar movimentos e ações temporais da prática religiosa. Para trazer aspectos de transição de tempo a exposição da captação fotográfica foi de um segundo, utilizando um flash externo na mão afim de congelar determinados acontecimentos.

Ao utilizar a baixa velocidade na captação das imagens buscou-se revelar o não revelado, “a fotografia, no que supostamente revela e no caráter indicial, revela também o ausente, dá-lhe visibilidade, propõe-se antes de tudo como realismo da incerteza” (MARTINS, 2019). As imagens do ensaio trazem rastros de luzes, movimentos fantasmas e outras características que carregam no seu ato intuitivo (OSTROWER, 1997) o desejo de retratar o festejo e as emoções na manifestação dos congados durante a procissão da Festa do Divino.

Os registros foram captados originalmente em RAW com uma câmera Nikon 5100, com objetiva Sigma 18–50 mm (f.2.8–4). A maior parte das fotos utilizou a seguinte configuração técnica: abertura f.8 ou f.10, com 1s de velocidade e ISO 100 ou 200. Um flash externo Nikon SB 600 era disparado de forma manual, enquanto os cliques eram realizados. Na prática com a mão esquerda o flash era disparado e com a mão direita o registro era feito. Os ajustes finais das imagens foram feitos no software Adobe Photoshop Lightroom e finalizados em formato JPEG, com tamanho médio de 12 megapixel (3500X 2318 pixels).

[2] Mais detalhes sobre a festa e seus símbolos podem ser acessados no Portal da Comissão do Divino, que é responsável pela organização das festividades na Igreja Bom Jesus de Matosinhos, em São João del-Rei. Disponível em: http://www.portaldodivino.com/Brasil/jubileu.htm. Acesso em 28 mai. 2020.

Referências

ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. Fotoetnografia da Biblioteca Jardim. Porto Alegre: Editora da UFRGS: Tomo Editorial, 2004.

ADÃO, Kleber do Sacramento. Diversões e devoções em São João del-Rei: um estudo sobre as festas do Bom Jesus de Matosinhos, 1884–1924. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP: [s.n.], 2001.

BUTLER, Judith. Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto? 4. ed. — Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

FERREIRA, Talita Ariane da Silva. Sincretismo, cultura e tradição: diálogos. CSOnline — Revista Eletrônica de Ciências Sociais, Juiz de Fora, n. 24. 2017.

MARTINS, José de Souza. Sociologia da fotografia e da imagem. 2 ed., 5º reimpressão.- São Paulo: Contexto, 2019

OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 6 ed.- Petrópolis: Editora Vozes, 1997

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