A marca da ansiedade — parte 2

Geane Durante
Frestas
Published in
3 min readJun 24, 2021

Em setembro de 2019, postei aqui no Frestas, esta crônica, onde desnudava uma parte de mim que muitos não conheciam: meu lado ansioso. No texto, eu falava dessa condição que me acompanha há mais de 20 anos, desde que me entendo por gente. Voltar a escrever sobre isso, quase dois anos depois, tem sido um desafio com pitadas de alívio. Por isso, farei uma parte dois da antiga crônica, com novas contribuições de uma pessoa ansiosa, para reafirmar a mim mesma que é possível conviver com ela, lembrando que eu estou no controle e não o oposto.

No início desse ano, finalmente, comecei a terapia. Encontrei uma psicóloga que a identificação bateu e, semanalmente, tenho esse compromisso. Marinheira de primeira viagem, fiquei meio desconfortável no começo, em especial, na organização de todas as ideias. Faladeira que sou, começava contando de Z e corria o alfabeto inteiro para chegar ao X da questão rs. Confesso, tem sido um mar de descobertas a cada sessão: tenho enxergado várias faces de mim e trabalhado meus dilemas. Não posso falar por todos, mas, para mim, a terapia tem ajudado muito a lidar melhor com a ansiedade.

Uma coisa vai levando à outra e nesse processo, a gente vai aprendendo a conviver com as emoções e saber expressá-las no momento mais adequado. Recentemente foi meu aniversário, recebi felicitações de muitos colegas e conhecidos admirando minha maneira calma e tranquila de ser. O mais engraçado (literalmente) disso é que, quem convive comigo todos os dias — família e amigos próximos — sabe que não é bem assim. Sou muito agitada, estressada e adoro soltar uns palavrões de vez em quando (eu sei, boquinha suja rs). Esse jeito Geane de ser formou parte do que sou hoje, em contrapartida, pago um preço alto por falar sempre e demais, que, às vezes, mais atrapalha que ajuda.

Imagem: Freepik

Por que estou dizendo isso? Porque na cabeça do ansioso, sempre temos duas alternativas: pagar o preço do silêncio e desenhar na mente os desdobramentos de uma tal situação, ou, falar pelos cotovelos e sofrer depois com a repercussão que aquilo teve. Não existe almoço grátis! A mente por si só cria hipóteses que dão um salto gritante no tempo, pregando situações que, infelizmente, gastamos uma energia preciosa maquinando tudo aquilo. Isso se aplica às situações cotidianas às mais complexas. Esse é o grande desafio para mim: trabalhar as emoções, sem deixar minha autenticidade de lado, tendo cuidado comigo e com meu próximo, mas, sem fazer disso um loop infinito na minha cabeça. É ISSO!

Por saber que o processo é longo e desafiador, tenho dado pequenos passos rumo ao controle da ansiedade. Um deles são minhas unhas, estou há duas semanas sem roê-las. Vê-las tomando forma novamente, depois de tantos anos roendo, tem sido meu lembrete diário para continuar, porque dói muito você se ver preso num vício já “naturalizado”. Tenho também, ouvido mais o outro, antes de sair decretando um comentário meu; ô exercício difícil, viu? Exercitar a escuta ativa e o pensar mais antes de falar tem sido uma prova de resistência, mas, tem despertado uma Geane mais compreensível ao ouvir o outro.

Espero que minha crônica/desabafo tenha ajudado de alguma forma. Obrigada, ansioso pela sua atenção! Ah, e se você quiser compartilhar alguma experiência do tipo, fique à vontade, vamos trocar figurinhas 😉

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