Somos como bonecas russas
O que está debaixo da pele
O corpo fala. Faz perguntas. Dá respostas e sinais. Preste atenção.
Aprendi com psicanalistas e psiquiatras, nos tempos de telejornalista: certas doenças (se não quase todas) estão relacionadas ao modo como o organismo responde aos pensamentos e sentimentos. São as famosas patologias psicossomáticas.
Dentre elas estão as da pele, e não me esqueço da explicação da médica sobre os ataques aos tecidos epiteliais. Eles expressam o quanto nos desgastamos ou nos esfolamos por dentro para dar conta de demandas externas. Isso pode reverberar e explodir em erupções dermatológicas.
Na infância, tive asma, um problema das vias respiratórias que se transformou em psoríase crônica durante a adolescência, e que permanece na vida adulta. Raras vezes enfrentei crises mais severas, mas todas me avisaram que era preciso me descascar: arrancar cada camada superficial até chegar dentro de mim.
Ainda estou no caminho.
Tereza me fotografou em fevereiro de 2018, num dia de baixa imunidade. Depois de conhecer o projeto G-old, ela havia pedido que eu não usasse roupas além das íntimas para este ensaio.
Assim, olhos nos olhos, lentes a postos, a fotógrafa escolheu um conceito que envolvesse “o puro e simples — sem julgamentos”. O natural #nofilter, a luz da janela. Livre e à vontade.
O self no lugar da selfie. Significa.
A partir de meu texto sobre o envelhecimento, Tereza explica o conceito visual por ela criado:
"Enxergar-se sem barreira, sem medo. A ausência de vestes. A leveza de transbordar-se e ser. Apenas o perdão no meio do abraço entre o que se era até pouco tempo e o que está para partir rumo a novos ares. Ninguém faz as próprias unhas crescerem, os cabelos mudarem de cor. O poder que temos é o de saber lidar com o que há de chegar, uma hora ou outra.
Por se tratar de uma pessoa que diferentemente de si, tornou-se, naqueles momentos, muito mais ela mesma. E toda vez que alguém compartilha comigo o próprio tempo de vida para podermos juntas deixar registrado o nascer de um novo ser…
É como poder viver uma alegria pela primeira vez. Cada sarda, cada curva, cada textura. E tudo em direção à luz.
Reencontro. Reestabelecimento. Ressignificar." (Tereza Nery Sá)
Acho que assumir cabelos brancos é como apresentar o passar do tempo pela mente, a nudez do existir. De algo que não se quer esconder. O eu dentro do eu. O branco como reunião de todas as cores, em paz.
Inteira, #plena. Em busca daquilo que me basta. Que me falta. Que talvez eu não encontre nunca, embora esteja comigo.
Mas como diria Umberto Eco, o que importa é o percurso. O trajeto.
Não por acaso:
Tereza
rima
com
Beleza.