E agora Mauricio?

Fernando Valverde
Galo de Kalsa
Published in
8 min readOct 18, 2019

O que já era ruim, ficou pior e cabe ao argentino as rédeas do que está por vir

Maurício para onde?

Esta festa acabou e virou um enterro. Não foi bem assim que Drummond falou, mas eu tomo a licença poética pois é o que se aplica ao atual momento do Tottenham. O que antes podia ser resumido (e resolvido) na necessidade de encarar uma terapia, se tornou caso de internação compulsória.

Em um intervalo de dez dias, fomos humilhados por Colchester, Bayern e Brighton (e a certeza de que tudo isso está bem fresco na mente do leitor nos poupará de uma recapitulação) e tudo que escrevi no texto anterior teria que ser reescrito sob uma nova ótica.

Porquê esta é a armadilha do tempo: Em um mundo de tantas narrativas e caminhos possíveis como o futebol, a impossibilidade de retornar ao passado resulta sempre no martírio da pergunta mais cruel de todas: “E se?”.

O passado é inviolável, o presente é nebuloso e o futuro? A quem pertence?

Se era ruim, ficou pior e o Tottenham deixou de ser uma estrutura à beira de um colapso para se tornar uma pilha de escombros. E entre mortos, que ainda andam, e feridos, caberá mais uma vez a Mauricio Pochettino a decisão sobre o que estará por vir.

Ainda que muito se fale e sonde sobre a permanência do argentino no comando técnico do clube, e por favor, PAREM DE ESPALHAR MALUQUICE DO DAILYMAIL/THE SUN, a verdade é que salvo uma hecatombe, Pochettino continua tendo o respaldo da diretoria e, sejamos sinceros, isso não será abalado mediante os seus gritos de #PochOut em grupos de Facebook. A cultura lá é outra. Com isso na cabeça, o que pode ser feito?

Choque de gestão ou Terra arrasada?

Na estrada de tijolos amarelos, Dorothy e o Espantalho se depararam com uma bifurcação. Apenas um dos caminhos levariam até a Cidade das Esmeraldas enquanto o outro a levaria a uma terra desolada de onde não haveria volta. Como não havia qualquer indicação de que caminho levaria ao que, Dorothy munida de pura intuição escolheu um e seguiu em frente.

Acertou, mas poderia ter errado.

Pochettino parece ter chegado ao mesmo ponto da estrada. Diante dos problemas internos e externos que a equipe vem apresentando, o treinador argentino precisa decidir qual caminho tomar sabendo que a impossibilidade de voltar atrás o acompanhará pelo trajeto.

Isso inclusive diz muito sobre nós, torcedores. Vendo de fora, a necessidade de dar pitacos sobre tudo nos leva a crer cegamente que as coisas seriam mais propícias com diferentes condicionantes. Mas quem garante?

Na hora de tomar decisões, e cabe lembrar que existe alguém que as toma, deve-se sempre levar em conta que o impacto causado será irreversível e é fácil para qualquer um reclamar da escalação de jogador X ou Y quando a estratégia dá errado. Mas e se tivesse dado certo?

É a hora de sermos responsáveis. Primeiro eu, depois os jogadores, todo mundo no clube. Minha opinião, a forma como amo trabalhar, é a de que, quando você toma decisões no início da temporada, precisa encontrar um caminho para fazer elas funcionarem. Os jogadores me conhecem. Depois de cinco anos e meio, eles sabem que tudo o que acontece é o completo oposto desses rumores e opiniões que surgem.

Contra o Bayern de Munique, fizemos um primeiro tempo quase irrepreensível e fomos pro intervalo com um revés injusto. A catástrofe que veio depois, e que deve ter sua responsabilidade dividida pois Pochettino não entra em campo, foi mesmo o resultado de se ter tomado um caminho errado, quando havia um certo, naquele momento? Ou os tijolos amarelos já haviam sumido e não tínhamos nos dado conta?

“Não vamos resolver nada gritando, quando as emoções estão à flor da pele. Mas você precisa encarar esse tipo de situação. Quando você joga a final da Champions League, foi legal colocar o rosto lá fora após as vitórias contra Manchester City e Ajax. Agora, eu tenho que fazer a mesma coisa e aceitar que não estamos tão bem quanto esperávamos”

Claro que gritar não é a solução, mas quando os problemas são visíveis da forma como são, uma posição mais assertiva é esperada daquele que detém o controle.

Já sabemos de todos aqueles pormenores que se transformaram na insistente ladainha de todo torcedor do Tottenham sobre o Levy não gastar e blá blá blá e muitos ainda caem no conto do vigário de achar que a palavra final sobre quem chega ou não no clube é do Pochettino. Talvez na tentativa de culpabilizar alguém que pode pender frente aos insucessos, quando o mesmo já deixou claro até sua liberdade vai. Mas o argentino de fato tem culpas a serem pesadas principalmente quando falamos da composição do elenco e das suas escolhas.

Como Vinícius Nascimento apontou em seu texto, fazer o exercício da comparação entre a reconstrução de Tottenham e Liverpool nos últimos anos é um forte indicativo do problema. Enquanto o Tottenham achou que já era um case de sucesso no seu primeiro acerto, o Liverpool não parou de se aprimorar até que de fato atingisse a glória.

Se uma temporada sem comprar ninguém pareceu não ter sido grande problema quando o resultado é uma final de Champions, várias temporadas sem um grande volume de saídas ocasionou a estagnação que agora nos encontramos.

Passamos de um elenco jovem e com futuro para um elenco velho que não alcançou o ápice prometido. E a dificuldade em desatar certos laços tem cobrado seu preço.

O salto na média de idades do elenco durante a gestão Pochettino

Wanyama morreu pro futebol e ainda está no elenco e PIOR, sendo escalado. Alderweireld e Eriksen já deram milhares de provas de que não querem mais vestir a camisa Lillywhite e ainda assim são titulares incontestáveis. Kyle Walker-Peters nunca será metade do que seu quase-homônimo foi, mas ainda parece ter quem acredite que um dia, por puro milagre da insistência, será um lateral de nível para a Premier League.

Em uma hipótetica lista deste que vos escreve, outros nomes como Rose, Dier, Aurier, Alli e Lloris (esse por outros motivos que tratarei em um outro texto) estariam com seus dias contados com a camisa do Tottenham. Mas aí 20/21 chegará e eles provavelmente estarão aí.

Como se não bastassem os problemas de campo, a aura que circunda o clube não é das melhores. Obviamente não estou falando de sandices de redes sociais como o caso Vertonghen-Eriksen, mas relatos de problemas do elenco com o treinador tem ganhado cada vez mais força. E nesse contexto, a queda de braço deveria pender para que lado?

Mil e um pormenores que permeiam um clube de futebol precisam ser respondidos para isso: Existe clima pro Pochettino continuar? Ele quer continuar? E se continuar, tem o que é preciso para dar o choque de gestão que o clube precisa? E o elenco? Quem ainda quer vestir essa camisa? Alguns jogadores não rendem por conta do comando ou por um declínio técnico e físico por decorrência do tempo? Vale a pena insistir em certas peças?

Separar o joio do trigo, mandar as peças sobressalentes embora e dar um ultimato para quem aparenta não ter a hombridade de dar o suor pelo clube que lhe paga. A lição precisa ser aprendida: Para todos aqueles que não querem estar ali, a porta da rua sempre é uma opção válida.

Por tudo que fez no Tottenham até então, Pochettino deveria ser merecedor de uma nova chance para ser o vetor de um novo capítulo do clube. A paciência com o Klopp se provou recompensadora para um Liverpool que soube se remontar diante de duros golpes (Ou você vai dizer que não achou que o clube iria decair com a saída do Coutinho). Mas para isso, o mesmo precisa reconquistar o seu direito de estar ali.

Quem quer rir tem que fazer rir

Por mais devastadora que essa temporada tenha se iniciado, eu prefiro olhar para alguns pontos que apontam para um futuro menos desesperançoso. As contratações de Lo Celso (23 anos), Ndombele (22) e Sessegnon (19), jovens jogadores com potencial de primeiro escalão europeu, podem ser pilares importantes na formação de um novo esqueleto pra equipe independente do seu treinador.

Atrapalhados por lesões, o argentino e o inglês estão de volta após esta Data Fifa e devem ganhar minutos que favoreçam sua adaptação na equipe enquanto Ndombele, que precisa trabalhar com urgência aspectos físicos, já deu mostras do quão importante pode ser.

Sei que o #PochOut tem seus adeptos entre os que vão ler este texto, mas a realidade é que o futuro próximo passará pelas mãos do argentino e a necessidade de reaver o conjunto é primordial. A grande sinergia que existia e ligava elenco e técnico, sendo a força-motriz da equipe, tem se provado cada vez mais ausente. Hoje, vemos um time totalmente desconectado do seu treinador, o que vem fazendo inclusive com que o Pochettino tente vários encaixes para ver se engata em um na base da força.

Talvez para aparar estas arestas, um jantar para a comissão técnica será oferecido por lideranças da equipe. Sobre isso Pochettino comentou:

“Quando você recebe uma mensagem de seus jogadores convidando a comissão técnica para um jantar, apenas duas coisas podem acontecer: eles querem dar adeus ou querem demonstrar que estão com a gente. Acho que será o segundo. Eles não estão prestes a se despedirem de mim. Se quiserem dizer adeus, que digam aqui, não convidem a um jantar. Existe um cabo que conecta todas as pessoas ou esse cabo foi cortado em algum momento e você vê que não funciona? O mais importante é isso. Quando os jogadores voltam da Data Fifa, você sente a energia e é porque algo especial aconteceu no clube”, disse.

A outra alternativa é a Terra arrasada. E a mim, que temo que possa ser a que nos caberá, não interessa escrever sobre isso. Afinal, estamos todos torcendo pelo nosso Tottão (alguém imploda essa página) né?

Seja qual for, saberemos em breve.

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