O oxigênio necessário

Vinícius Nascimento
Galo de Kalsa
Published in
4 min readJan 23, 2020

Lo Celso é o caminho para o Tottenham sair da lama

Não é a toa que aqui no Galo de Kalsa falamos tanto daquele print do Squawka mostrando um comparativo entre os elencos de Liverpool e Tottenham em 2015. Eu já comentei sobre isso quando o clube trouxe Vorm de volta para ter alguém no banco após a lesão bizarra de Lloris e Fernando Valverde também falou dessa desgraça quando ainda estávamos em agonia junto a Pochettino.

Só a título de refresco: naquele 17 de outubro, Pochettino entrou em campo com Lloris, Walker, Vertonghen, Alderweireld e Rose; Dembelé, Eriksen e Dele Alli; Lamela, Chadli e Kane. Oito dos onze titulares ainda estão no elenco.

Do outro lado, Klopp conta com apenas quatro remanescentes (todos marcados em negrito) do time formado por Mignolet, Clyne, Skrtel, Sakho e Moreno; Lucas Leiva, Emre Can e Milner; Lallana, Coutinho e Origi. Tem dificuldade para saber quem ainda está nos Reds? Normal, já que, com exceção a James Milner, ninguém dessa formação passa perto de ser peça fundamental para os atuais campeões da Champions League.

As chegadas de Lo Celso, Sessegnon, Ndombele e Gedson Fernandes apontaram bons caminhos para o futuro. Todos são extremamente talentosos. Ainda não dá para falar muita coisa de Gedson, recém-chegado, mas dos primeiros três sim. E o meia argentino até aqui é quem vem arrancando suspiros. Uma ilha de inspiração em um time sem identidade.

Tá frio?

Lo Celso briga, marca, constrói, destrói e encanta. Foi o melhor do time — com sobras — nos últimos quatro jogos, pelo menos. Constatações que fazem ainda mais difícil de entender o motivo pelo qual ele demorou tanto a ser titular, ou, ao menos, a ter uma minutagem decente.

Giovani foi titular em apenas quatro dos 33 jogos que o Tottenham já disputou na temporada. Em outras 12 oportunidades, foi utilizado após sair do banco — mas não foram raras as oportunidades em que só entrou após os 37 minutos do segundo tempo. É isso que explica ter apenas 810 minutos jogados na temporada, o que dá mais ou menos 9 partidas.

Juventude, vontade, criatividade, gás. Lo Celso reúne todas as características necessárias para o Tottenham evoluir. É o tipo de jogador que nos faltou tantas vezes por oferecer algo novo a um elenco que se esgotou em si mesmo após tantas reinvenções. O oxigênio é a mãe do fogo. E Lo Celso tem de sobra.

Lo Celso é um oásis de inspiração em um Tottenham que não encanta

O Tottenham encontrou há alguns anos um modelo de formação que deu certo: apostar em jovens baratos e formar algumas peças dentro de casa. E parou por aí. Em um futebol com o nível de competitividade tão esmagador, não dá para dar o vacilo de se esgotar em si mesmo. A reinvenção necessária é constante. Os cães ladram, mas a caravana não para nunca.

De alguns anos pra cá, a superinflação do futebol tomou proporções assustadoras. Sim, é um despudor. Qualquer jogador meeiro na Europa custa 30 de milhões de euros — uma realidade que simplesmente não existia há menos de uma década, mas passou a a existir e foi simbolizada na compra de Neymar pelo PSG. É bonito que o Tottenham tente se rejeitar a isso, buscando alternativas, mas o custo de uma inércia, ainda mais nesses casos, é a própria competitividade. E ficamos inertes por quase dois anos.

E agora, José?

A temporada 2019/2020 está quase perdida. A não ser que um milagre aconteça de uma hora pra outra e o time alcance uma progressão absurda na Premier League (ou surpreenda na Liga dos Campeões), o Tottenham vive uma tortuosa contagem regressiva: quanto antes essa temporada acabar, melhor. É duro, mas é a verdade.

Num futuro próximo, com os reforços mais ambientados (ou ressuscitados, no caso de Ndombele) dá para sonhar em ser feliz novamente. Começando do zero, óbvio, já que uma vaga para a Liga dos Campeões tem cheiro de utopia.

Aguardando a volta de Ndombelé para fazer o trocadilho com disco de Emicida: O Glorioso Retorno De Quem Nunca Esteve Aqui

Além disso, algumas flores apodrecidas devem tomar um rumo na vida (sim, Eriksen), e jogadores vindo da base ganharão mais cancha. Tanganga deu sinais de talento e Parrot é o menino dos nossos olhos, aguardando uma oportunidade.

Mas ainda há muito a se fazer e a temporada está só na metade. Até lá, contamos o talento de Lo Celso para nos trazer algumas doses de oxigênio emergencial.

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