Os seis maiores momentos do Tottenham na Champions League: Barcelona, 2018

A decisão disputada a 1.400 km de distância

Pedro Reinert
Galo de Kalsa
5 min readOct 1, 2019

--

Imagino que você tenha ao menos passado os olhos pelo primeiro capítulo dessa minissérie, duas semanas atrás, então vou te poupar da reintrodução.

Aquela primeira recordação esquentou os ânimos para uma primeira partida que insistiu em resfriá-los. O Tottenham é mestre do desgosto. Corpulento como nunca, segue insuficiente como sempre. Não só tira o doce da boca da criança, mas joga o doce no chão e chama a criança de órfã. Que grande bosta de resultado foi aquele.

Quero acreditar que essa nova coleção de lembranças da Champions League não tenha sido parte dos motivos da frustrante estreia na Grécia — como eternizou Michael Scott, “I’m not superstitious, but I am a little stitious.” -, por isso sigo na incumbência de contar sobre os dias que não foram ruins como aquele.

O sinal vem do alto

Duas vitórias, duas derrotas e um empate. Por meios diferentes, Inter de Milão e Tottenham dividiam o mesmo histórico na primeira fase do torneio. A diferença se dava unicamente nos adversários da rodada da morte súbita: enquanto os italianos visitariam o já eliminado PSV, os Spurs jogariam sob as luzes do Camp Nou, frente ao invicto líder Barcelona.

Corajoso em teoria, Pochettino invocou seu principal quarteto ofensivo (Dele, Eriksen, Son, Kane) e, desde o primeiro minuto, pôs se à frente da linha que divide no meio todo o bairro de Les Corts. Mas que já parecia difícil tornou-se impossível em menos de dez minutos, quando Dembélé (não aquele, o outro) brilhantemente abriu o placar, inventando um contra-ataque infalível e fazendo Walker-Peters revirar-se no chão como um vira-lata tomando banho de mangueira.

Mesmo sem Messi e sem o controle da posse de bola, era a equipe blaugrana que dava as cartas em campo. O Tottenham queria parecer amedrontador, mas esbarrava no nervosismo em desbravar o recém-conhecido colosso catalão. Perdia bolas tranquilas, errava conclusões simples, levava para a esquerda o que era da direita e por aí vai.

Um suspiro de esperança veio de Eindhoven logo em seguida, quando Hirving Lozano marcou o primeiro do PSV sobre os nerazzurri. Com ambos perdendo suas últimas partidas da fase de grupos, quem avançaria para o mata-mata seria o time inglês.

No canto oposto do continente, a Inter lutava pelo seu destino, que estava completamente atrelado ao dos Spurs

Eis que o futebol, esporte que sempre faz prevalecer a justiça e presenteia com a felicidade quem sobre ele se debruça, viu uma equipe martelando a outra constantemente em busca do gol da segurança. E a rede finalmente balançou; na Holanda. Icardi empatara o jogo, puxando a vaga para a Inter.

O silêncio de um velório combinou-se com o desespero de um incêndio. Conforme a areia da ampulheta caía, novos anéis de arquibancada subiam no Camp Nou. Não parecia possível enxergar o céu catalão de dentro do gramado, que outrora sublimado pelo revés no placar, passou a ser engolido pela postura imaculada de Lionel Messi à beira do campo, pronto para decretar mais uma debandada precoce dos Spurs em palco continental.

Eriksen perdeu a mais cruel das chances, sem marcadores no entorno e a três metros de Cillessen, momentos antes de Coutinho tilintar a trave oposta com uma chapada cruzada vinda do lado esquerdo. Enquanto o quase mudava de cores, a despedida tomava mais corpo e o discurso motivacional na coletiva ganhava mais versos.

Arrastado para a lateral direita, Moussa Sissoko foi encarregue do trabalho de conter o melhor jogador do planeta, e o fez com louvor

A quatro minutos do fim, numa escapada fortuita, Danny Rose esticou para Lamela, que esticou para Kane, que esticou para Lucas assinar a primeira de suas grandes histórias naquela campanha. O brasileiro desvencilhou-se de Lenglet e escorou o cruzamento rasteiro para dentro do véu.

Ninguém comemorou o gol com a efusividade que o momento pedia. O time correu de volta à sua devida metade do campo como quem fosse em busca de fazer mais um, mas queriam mesmo era correr até o Philips Stadion para formar uma trincheira. A inquietação e a sensação de incompletude ensurdeciam, em contraste com a mudez das notícias que não chegavam.

O apito final nem tardou muito a soar, os atletas trocaram cumprimentos gelados, mas imperou o silêncio. Faltava ainda o outro apito, a mil quatrocentos e poucos quilômetros dali, e esse demorou uma vida inteira pra ser ouvido. Os corpos esfriaram, e os papéis, num momento dramaticamente espetacular, se inverteram; quem estava no gramado é que observava atentamente quem estava na arquibancada — não o contrário -, esperando uma reação que poderia desencadear uma comemoração digna, sem peso e sem receio.

Lá do alto veio o sinal. Vertonghen puxou dois colegas e, sorrindo, apontou para um dos córneres superiores do estádio. A mensagem espalhou-se rápido. A tensão transformou-se em euforia. A cantoria começou. Os sorrisos multiplicaram. A história pôde continuar.

O setor visitante do Camp Nou cantou a classificação sofrida

Ficha técnica:

Barcelona 1–1 Tottenham

Local: Camp Nou, Barcelona

Público: 69,961

Data: Terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Árbitro: Milorad Mazic (SRB)

Gols: Ousmanne Dembélé (7'); Lucas Moura (86')

Cartões amarelos: Nélson Semedo (Barcelona); Kyle Walker-Peters (Tottenham)

Barcelona

4–3–3: Cillessen; Semedo, Lenglet, Vermaelen, Miranda; Aleñá, Rakitic (Busquets, 45'), Arthur; Dembélé (Denis Suárez, 76'), El Haddadi (Messi, 63'), Coutinho.

Técnico: Ernesto Valverde

Tottenham

4-4-1-1: Lloris; Walker-Peters (Lamela, 61'), Alderweireld, Vertonghen, Rose; Winks (Llorente, 83'), Sissoko, Eriksen, Alli; Son (Lucas, 71'); Kane.

Técnico: Mauricio Pochettino

--

--