The Hole in the Ground (2019)

Hemerson Miranda
Hemerson Miranda
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3 min readJan 25, 2022

Horror irlandês da A24 que não tem uma nota muito alta no imdb, mas isso se deve à alta expectativa que as pessoas estão colocando em absolutamente todos os filmes. Quando se fala em terror/horror a maioria das pessoas espera que da tela venha algo que literalmente os mate de susto. O ambiente terrífico deu lugar ao desejo de ser assustado a cada minuto, então perde-se a qualidade e consequentemente perde-se o tipo de espectadores críticos de verdade. Assim, quando surgem filmes como The Witch, também da mesma produtora, e Hagazussa, as pessoas entortam a boca, porque não tem interesse em um desenvolvimento lento, que crie toda a atmosfera assombrada, eles não querem pensar muito nas possibilidades do que está acontecendo e sim levar sustos, pular na cadeira, fechar inconscientemente os olhos.

Sou também fã do terror/horror clássico, daqueles nos cemitérios, com personalidades do susto como vampiros, fantasmas, zumbis e lobisomens. Mas sou ainda mais fã do terror/horror psicológico, onde o monstro é o próprio ser humano, mais ligado à realidade que qualquer outra coisa. Para mim, o verdadeiro horror consiste em que meu corpo ou minha mente se rebelem contra mim. Isso sim me dá medo.

O filme não revela e muito menos dá detalhes, mas para os mais curiosos ele se baseia em um mito, o da changelin (changeling, em inglês), ou “a criança trocada”. Nessa lenda das mitologias celtas e nórdicas, uma fada, ou um troll, ou qualquer criatura lendária, rouba uma criança humana e substitui por um de sua própria prole. Os motivos pelos quais essas criaturas fazem isso vão desde amor a uma criança humana até pura maldade. As Ilhas Britânicas tem muitas lendas sobre esses casos, incluindo poemas. Os próprios Irmãos Grimm possuem uma estória sobre uma mãe que suspeitou que seu filho havia sido substituído.

E aí entra nosso filme, sobre uma mulher que começa a acreditar que seu filhinho não é o seu filho de verdade, substituído, inclusive tendo já conhecido a história de uma senhora, vizinha sua, que passou pela mesma situação. O menino parece ser virginiano (sic)devido à organização do quarto, se você prestar atenção. O filme decorre em sua uma hora e meia sobre esse tema. Seria o mito verdadeiro ou a mãe apenas estava enlouquecendo? Saindo de um relacionamento abusivo, e aqui faz uma nota sobre a violência contra a mulher, e tendo que lidar sozinha agora com a maternidade e um coração quebrado, questões são levantadas em simultâneo, em que se cria a atmosfera sombria em torno da criança.

A fotografia é ótima, o horror parece muito natural nos tons frios das imagens e no constante assobiar do vento, o que torna a experiência auditiva impressionante. Desde a trilha sonora até detalhes como respiração e mastigação contribuem para a imersão geral da obra. Talvez o final não agrade a todos, mas esse é o trunfo do horror psicológico: nós é que damos continuidade à história.

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Hemerson Miranda
Hemerson Miranda

Já pensou no dia em que os alienígenas invadirem a terra em busca de vida inteligente e todos nós ficarmos sem smartphones?