Ideias diferentes para criações incríveis: conheça o nosso Comitê de Diversidade & Inclusão! (Parte 2)

Andrei Oliveira
7 min readJan 21, 2019

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Do topo-esquerda para a direita: Andrei Oliveira, Mariana Jó, Henry Schmitz e Anaína Josaphat.

Na empresa em que eu trabalhava antes da idwall, tive uma autodescoberta e ressignificação da minha negritude. Percebi que, em São Paulo, desde o dia que me mudei, eu estava sendo podado inconscientemente, estava em um processo de embranquecimento muito forte. O problema era que eu não tinha noção disso no começo da minha jornada e demorei bastante para identificar o que me incomodava tanto.

Foi só quando minha inquietação começou a afetar meu trabalho e minhas relações pessoais que busquei ajuda, procurei pessoas na mesma situação ou parecida com a minha, estudei um pouco e tirei um tempo para refletir. Percebi que sair de Salvador e chegar em São Paulo já empregado, na área de tecnologia, trabalhando e morando em um bairro nobre, predominantemente branco, foi um choque muito grande, uma experiência que não estava acostumado.

O motivo da desmotivação era que eu não me sentia representado em nenhum local que frequentava e, consequentemente, sentia que não tinha local de fala. Nos últimos 6 meses de trabalho, meu rendimento caiu e me incomodava bastante a inércia da empresa em não dar nenhuma atenção a isso. Depois de 1 ano e meio na empresa, fui demitido; o motivo dado foi motivação.

Voltando um pouco, logo quando eu cheguei em São Paulo, conheci o Lincoln e o Paulo por meio de um amigo em comum. Trocamos contatos e sempre que possível mantínhamos contato. Quando o Lincoln ficou sabendo que eu tinha saído do emprego, entrou em contato comigo e me chamou para vir fazer uma entrevista aqui na idwall.

Como esse meu incômodo estava muito recente, fui bem sincero com ele. Falei que minha motivação e meu rendimento dependem 100% do ambiente de trabalho e de eu estar em um lugar seguro, já que estava em um processo de descoberta e que buscava uma cultura de trabalho que me ajudasse a desenvolver, e não me oprimir. O Lincoln explicou em uma conversa muito sincera os desafios da idwall e da cultura que estava alinhada com a minha expectativa. Logo depois de algumas rodadas de entrevistas e visitas, veio a proposta e eu aceitei.

Então, o convite para eu participar do Comitê veio muito alinhado com a minha entrevista de emprego — o Lincoln me chamou para participar duas semanas depois que eu entrei, e aceitei o desafio com muita alegria. Paralelamente conheci a Mariana Jó e nossa parceria deu super certo. Considero esses 7 meses do comitê de muitas descobertas, de esforço e de muito sucesso, e isso com certeza vem da nossa parceria — Trabalhar com pessoas que você confia torna o desafio bem mais administrável.

O papel do Comitê no processo de (re)descoberta

A entrada para o Comitê também foi uma provocação para mim mesmo, para estudar um pouco mais, sair da zona de conforto.

O que me auxiliou bastante foi que na época do convite eu já tinha um tempo na terapia, algo que eu acho muito importante e que, por preconceitos ou falta de informação, essa importância é muito pouco disseminada. Tive o privilégio de ter uma psicóloga que é negra e educadora, então ela me deu bastante apoio em todos os meus questionamentos pessoais e do trabalho.

O Comitê ajudou também na parte de entender mais as pessoas. Me obrigou a ir em mais eventos e participar mais ativamente da comunidade. Uma coisa que me impactou muito foi realizar, mesmo que tarde, a diferença de pensamentos dentro de um grupo com o mesmo contexto. Foi esclarecedor estar em um evento de negritude e ter contato com pessoas que eu identificava como semelhantes a mim, mas perceber que elas tinham pensamentos completamente diferentes dos meus. Foi um grande aprendizado.

Não dava para separar — minha vida e o trabalho no Comitê vão estar sempre conectados, independentemente de eu estar em horário de trabalho ou não.

A importância de ouvir as pessoas

A primeira coisa que a gente fez foi admitir que não conhecíamos nada e que, se a gente conhecia, não sabíamos aplicar à empresa. Então, o primeiro passo foi assumir que nós éramos, leigos no assunto. Esse passo foi fundamental para a construção do Comitê.

Meu background de designer também ajudou muito — tratei o Comitê como um projeto. Graças às conquistas da idwall e às conexões do Lincoln, a gente tinha um network muito grande, mas não dava para pedir ajuda sem termos perguntas bem definidas e entendermos o que queríamos. Objetividade era a chave para não perder o nosso tempo e o tempo das pessoas dispostas a nos ajudar. Não queríamos chegar em uma empresa e ficar batendo papo, queríamos ir com perguntas, críticas e metas a serem cumpridas.

A primeira atividade oficial do Comitê foi o montar o questionário de perfil. A principal preocupação era que ele fosse de fácil entendimento, seguro e autodeclaratório. O que acontece é que várias empresas e pessoas acabam te definindo, é muito diferente como a própria pessoa se enxerga; e também é a oportunidade de um exercício de autoconhecimento e reflexão para todo mundo. Foi um desafio muito grande. Batemos em diversos obstáculos, referências, perguntas e até no texto complementar, porque não podíamos ser tendenciosos, ofensivos ou deixar alguém desconfortável.

Uma das coisas bem legais foi a apresentação do Comitê para a empresa. Separamos um tempo só para a gente se apresentar, sem fazer ação nenhuma, e fomos muito transparentes. Então, quando lançamos o questionário, as pessoas se sentiram bastante à vontade para chegar e falar “Olha, isso aqui eu não entendi”; chegamos a mandar uma segunda versão para corrigir uma inconsistência quando distribuímos ele de novo, vimos o engajamento da galera. Em cinco minutos, quase metade da empresa já tinha preenchido novamente!

Quando fizemos a reunião para estruturar o Comitê, entre os nossos principais valores, colocamos a didática. A ideia de sempre perguntar e nunca assumir veio muito naturalmente para a gente; é algo que está também na cultura da empresa. Escutar as pessoas foi e é fundamental para a nossa evolução.

A gente não espera que todas as pessoas que entram aqui sejam “desconstruídonas” e de cabeça aberta. Então, o foco na didática é para sempre ensinar, ter paciência e entender o lado das pessoas — mas dentro dos limites, é claro, sem passar pano e sem ofender ninguém.

O que a gente viu é que as intersecções importam muito e precisam ser reconhecidas e valorizadas — a voz de uma pessoa que é mulher, por exemplo, é muito valiosa, e a de uma pessoa que é mulher, negra e da periferia é igualmente valiosa e bastante diferente. Olhamos para essas intersecções como um ponto de vista diferente e relevante para o nosso trabalho. Até porque é muito complicado focar em um único aspecto de diversidade e inclusão em um país tão diverso (e tão pouco incluso) quanto o nosso!

O conhecimento de metodologias e de design foram muito importantes para a estruturação do comitê.

O trabalho pelo amor à diversidade

Nós temos nossos trabalhos fora do Comitê e queremos exercê-los 100% também. Afinal, estamos em uma empresa, precisamos crescer no mercado e também buscamos a nossa ascensão de carreira.

Para conciliar, a gente pegava nossas agendas e via a possibilidade de encaixar um tempo para conversar. A gente estimava 15 minutos, daí íamos lá e conversávamos por 1 hora! Era muita coisa para atualizar e muita ação para fazer. Então a gente pensou “Ok, precisamos fazer essas reuniões com mais frequência ou mais longas”, mas eu também não queria onerar o meu trabalho aqui dentro. Era preciso achar um tipo de porcentagem satisfatória para dar conta das duas coisas.

Mas o que percebi é que, em outras empresas, ou têm uma pessoa específica para o Comitê ou as pessoas responsáveis fazem duplas jornadas para dar conta de tudo — elas fazem por vontade de mudar mesmo e por amor à diversidade.

Grandes empresas têm muito a ensinar para a gente, mas é engraçado que não conseguimos nos comparar com nenhuma outra do nosso porte. É claro que temos coisas a melhorar, mas começamos bem, começamos pequenos.

Um ambiente melhor para todos

Se não tivesse entrado no Comitê, nunca teria me provocado a continuar buscando um ambiente em que eu me sinta bem, um ambiente seguro em que as outras pessoas no mesmo contexto também se sintam bem. Creio que esse seja o meu motivador para estar no Comitê.

É bem “simples”: considero que sou bastante eficiente no trabalho quando estou bem e confortável, então vou procurar proporcionar isso para as outras pessoas também.

Agora, minha missão é tentar ajudar as outras pessoas — sei que meu processo foi demorado e talvez tardio, mas também sei quais pontos me ajudaram a evoluir. Então, com a ajuda de todo mundo no comitê, preciso focar nesses pontos para ajudar as outras pessoas a se sentirem melhores mais rápido.

2019 está aqui e vai ser muito complicado e desafiador. Mas estou animado e motivado para fazer ações e crescer cada vez mais. O contexto político não me diminuiu; pelo contrário, me deu forças para perceber onde a gente está e onde eu preciso ajudar mais.

Leia também a parte 1, escrita pela Mariana Jó!

Com a colaboração de Mariana González.

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