Incidente do Chivruay Pass: bizarra atualização questiona as autoridades russas

Coincidência ou não? A morte de um investigador do caso em 2019 preocupa teoristas

Millena Borges
Inconclusivo
6 min readAug 15, 2020

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Dez alpinistas foram encontrados mortos na região de Murmansque, localizada na península de Kola, na Rússia (União Soviética, na época), em 1973. O grupo era do Instituto de Aviação de Kuibyshev (KuAI), um dos institutos líderes em engenharia e tecnologia da Russia (atual Universidade Nacional de Pesquisa de Samara). A investigação feita pela União Soviética determinou que a causa da morte foi de hipotermia, no entanto, muitos acreditam que as circunstâncias do incidente foram ocultadas pelas autoridades.

O grupo era formado por Mikhail Kuznetsov, 24 anos, Valentin Zemlyanov, 23 anos, ambos líderes da equipe; Ilya Altshuller, 23 anos; Artyom Lekant, 17 anos; Sergey Gusev, 17 anos; Alexander Novosyolov, 18 anos; Yuri Ushkov, 18 anos; Lidiya Martina, 26 anos; Yuri Krivov, 17 anos e Anatoly Pirogov, 17 anos.

Créditos: dyatlovpass.com

Apesar da pouca idade, todos os integrantes do grupo tinham experiência com rotas como aquela. Além do preparo, eram amigos e estavam habituados com os treinos em conjunto. Os dois líderes, Mikhail e Valentin, possuíam bastante experiência e já haviam feito aquele trajeto antes, que era categoria II de dificuldade (a maior categoria é a V). Fora Lidiya, que era engenheira no Instituto de Pesquisa de Ekran, e Ilya, que era formado na KuAI e cameraman, todos os outros componentes do grupo eram calouros da universidade.

Partindo de Moscou no dia 24 de janeiro, o grupo precisou pegar um trem e dois ônibus até a região de Reka Il’ma, onde caminharam por 3km até Elmorayok Pass. O objetivo era chegar na cidade de Kirovsk no dia 31 de janeiro.

No primeiro dia, o grupo passou a noite na borda de uma floresta antes de andarem mais 8km seguindo o curso do rio Seydozero. Naquele dia, as temperaturas já estavam por volta de -15ºC. Além disso, naquela região, os invernos costumam ser mais longos e rigorosos, sendo assim, o trajeto se tornava mais desafiador, visto que anoitecia por volta das 4 horas da tarde.

No dia 26 de janeiro, o grupo começou a subir o desfiladeiro Chivruay-Lady. Eles começaram a rota tarde e tinham poucas horas antes de escurecer. Os ventos estavam bem fortes (por volta de 150km/h) e a temperatura caia, principalmente no topo da planície, a qual cruzaram em completa escuridão. O grupo parou próximo ao precipício do rio Kitkuay.

Foto em preto e branco, uma montanha ao fundo, bastante neve e neblina
Última foto tirada pelo grupo — Créditos: dyatlovpass.com

Não se sabe por que mas, nesse momento, o grupo de separou. O líder e quatro calouros, permaneceram no local. Eles separaram o material da tenda que, devido a ventania, não era possível de ser montada. Deitaram sobre a barraca, e cobriram-se com a mesma.

Aleksander Novosyolov e Lidiya Martina partiram em direção ao Kuftuay Pass. Ilya Altshuller, Artyom Lekant e Valentin Zemlyanov desceram o vale. Acredita-se que os grupos buscava rotas alternativas ou foram checar as condições climáticas na descida do rio Kitkuay, visto que as condições climáticas estavam extremas. O grupo de Altshuller parecia seguir em direção a vila mas, sem skis, seria impossível chegar até lá. Devido aos fortes ventos, eles não possuíam forças para retornar ao local de separação.

Duas pessoas ao fundo segurando equipamento de skis. Corpos a frente cobertos com bastante neve.
Corpos foram encontrados no dia seguinte pelo grupo de alpinistas Samodelov em 28 de janeiro de 1973 — Créditos: dyatlovpass.com

Os corpos na tenda foram encontrados no dia 28 de janeiro por um outro grupo de estudantes que faziam a mesma rota. Ao chegarem a Kirovsk, relataram aos socorristas o acontecido. 8 dias depois, uma equipe de resgate chegou ao local, onde encontraram cinco corpos congelados. Mikhail Kuznetsov havia congelado segurando a corda da tenda, impedindo que ela voasse durante a ventania.

Somente em março, foi encontrado mais dois membros: Lidiya Martina e Alexander Novosyolov, cerca de 300m de distância do grupo. No mês seguinte, Valentin Zemlyanov e Artem Lekant foram encontrados a 3km de distância. Apenas em 1 de junho, o último membro foi encontrado, Altshuler, a 400m de distância dos últimos dois corpos.

Algumas pegadas não identificadas foram encontradas junto com os primeiros corpos. Além disso, na região onde eles estavam, havia uma grande cornija de neve, o que alpinistas experientes sempre evitam. Uma cornija de neve é uma acumulação de neve causada pelos ventos. Ela é extremamente perigosa, pois podem ser responsáveis por causar avalanches.

Um alpinista na base de uma cornija de neve
Exemplo de cornija de neve — Wikimedia

É possível que o tempo havia piorado significativamente após a separação do grupo, visto que não é indicado deixar o grupo durante condições climáticas extremas, e sim manter-se próximo a tenda. Além disso, a área é famosa por mudanças repentinas de tempo.

Acredita-se que as decisões tomadas que levaram ao incidente foi motivada pelo líder, Kuznetsov. Mikhail havia realizado uma excursão ainda naquele ano a qual atrasou no retorno, levando uma equipe de resgate em sua busca. Com as condições climáticas piorando, Kuznetsov preferiu não ficar preso próximo ao lago Seydozer visto que, em alguns casos, levam-se dias paras as condições normalizarem.

Após análise, a conclusão do caso era de morte por hipotermia. No entanto, em 27 de janeiro, uma tentativa de acabar com um ciclone utilizando um foguete foi feita. Tal fato levou teoristas a conspirarem sobre a razão das mortes, mas não haviam sinais de explosão ou queda de foguete. Ainda, nas cidades de Kirovsk, Apatity e na região de Ilma e Puncha, eles tiveram a maior taxa de morte por congelamento naquele dia.

Até pouco tempo, não haviam muitas suspeitas sobre esse caso, no entanto, em 2019, as pessoas voltaram a questiona-lo. Victor Voroshilov, primo de uma das vítimas, era uma das pessoas que não acreditavam na teoria oficial. Voroshilov achava que o que aconteceu com os estudantes de Samara era semelhante à tragédia do Dyatlov Pass. Além disso, os documentos do caso haviam desaparecido, dificultando futuras investigações.

Victor decidiu iniciar uma investigação independente, com apoio de um canal russo que documentaria o processo. Duas semanas após o início das investigações, Victor foi brutalmente assassinado em Níjni Novgorod, Rússia.

Victor Voroshilov no monumento em homenagem ao grupo — Créditos dyatlovpass.com

Diversas teorias que divergiam da oficial tentam explicar o acontecido. Uma delas, feita por Tabris Sharafiev, que pessoalmente conheceu os membros da equipe, é de que Altshuler havia sido levado pelo vento precipício abaixo, por isso o grupo separou-se. No entanto, dois membros seguiram na direção oposta, o que essa teoria não explica.

Além disso, Lidiya Martina foi encontrada usando as roupas de Aleksander Novosyolov. Enquanto algumas pessoas podem pensar que ele cedeu as roupas para que a moça se aquecesse, Vladimir Borzenkov, membro da equipe de resgate de 1973, declarou que os dois apresentavam sinais de desnudamento paradoxal (causada por hipotermia).

Panorama do Chivruay Pass — Chivruay Pass na esquerda, lago Seydozero da direita — Créditos: Dmitriy Novitskiy

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Millena Borges
Inconclusivo

Entusiasta de sad songs, vegetariana, apaixonada por pets, livros, música e moda. Escrevia sobre unsolved mysteries, hoje escrevo sobre qualquer outra coisa