O incidente do Hamar-Daban Pass: o que leva um excursionista experiente à espumar e bater a cabeça contra pedras?

Seis pessoas realizaram uma excursão pelo Hamar-Daban quando começaram a espumar pela boca e sangrar pelos ouvidos

Millena Borges
Inconclusivo
5 min readAug 5, 2020

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Créditos — Fotos: Arquivo de Galina Bapanova, Jornal: dyatlovpass.com, Título: Yahoo Actualités (Edição: Millena Borges)

Seis turistas de Petropavl, Cazaquistão, foram encontrados mortos em agosto de 1993 na cordilheira de Hamar-Daban na Sibéria, Rússia. O grupo realizava uma expedição pela área quando começaram a ter sintomas estranhos, como hemorragia nos ouvidos e nariz, e espuma na boca. A trilha era considerada de categoria IV de dificuldade. Apenas uma pessoa sobreviveu.

A líder do grupo, Lyudmila Korovona, de 41 anos, possuía bastante experiência em expedições e tinha o título esportivo russo de Master of Sports (Mestre de Esportes). Com ela, formavam o grupo: Tatyana Filipenko, 24 anos, Viktoriya Zalesova, 16 anos, Aleksander Krysin, 23 anos, Denis Shvachkin, 19 anos, Timur Bapanov, 15 anos e Valentina Utochenko, 17 anos. Valentina foi a única sobrevivente.

Lyudmila Korovona, líder do grupo, tinha 41 anos — Fonte: ok.ru e dyatlovpass.com

Era verão, uma das melhores e mais seguras épocas para realizar excursões, sendo assim, a região estava repleta de turistas. Junto com o grupo liderado por Korovona, outros dois grupos realizariam a rota. Um deles, era liderado pela filha de 16 anos de Lyudmila, Natalia.

Os excursionistas viajaram até a Sibéria de trem. A previsão do tempo era boa, no entanto, uma neve com chuva fria havia os pego de surpresa no meio do caminho. A rota iniciou no dia 2 de agosto, partindo de Murino. O grupo atravessou o desfiladeiro Langutai Gates, escalaram a montanha mais alta da cordilheira, Khanulu, e caminharam até o platô da bacia hidrográfica dos rios Anigta e Baiga. No total, foram cerca de 70km. No dia 4 de agosto, o grupo fez uma pausa entre os picos de Folets Yagelny e Tritans.

O local escolhido para a pausa localizava-se a 4km de distância da beira da floresta. As florestas são os locais mais apropriados para montar acampamento, visto que há menos exposição ao clima e maior facilidade para acender uma fogueira. Não se sabe porque o grupo decidiu acampar lá, mas acredita-se que um dos motivos era a exaustão.

Timur Bapanov, Tatiana Filipenko, Vika Zalesova, Denis Shvachkin, Valya Utochenko, Lyudmila Korovina — Foto: Arquivo de Galina Bapanova

No dia 5 de agosto, pela manhã, o grupo havia se preparado para retomar a trilha. No entanto, por volta das 10 da manhã, a viagem foi interrompida. Aleksander Krysin, um dos mais velhos do grupo, começou a sangrar pelos ouvidos e nariz, e espumar pela boca. Em poucos minutos, ele havia falecido.

Com isso, a histeria atingiu um ao um e, aos poucos, todos foram desenvolvendo os mesmos sintomas. De acordo com a sobrevivente, Valentina Utochenko, Krysin começou a ter os primeiros sintomas em cerca de 10 metros de caminhada. Lyudmila Korovina permaneceu ao lado dele a todo momento.

Tatyana Filipenko começou a se esconder e seus movimentos foram repetidos pelos colegas. Em certo momento, ela havia começado a bater a cabeça contra as pedras. Valentina contou que a líder havia ordenado que ela arrastasse Viktorya para seguirem a rota, mas ela foi mordida pela garota.

Valentina pegou seu saco de dormir, visto que ninguém obedecia seus comandos, e desceu a colina. Ela dormiu na floresta, retornando apenas pela manhã. Todos que permaneceram haviam morrido. Utochenko fechou os olhos deles e os cobriu. Em seguida, pegou um mapa e comida, e seguiu a rota sozinha.

Valentina foi encontrada por turistas no dia 9 de agosto. Durante os 4 dias que esteve sozinha, ela caminhou em direção a uma linha elétrica, imaginando que essa a levaria a civilização. Ela foi levada até o serviço de resgate de Slyudyanka.

Fonte: dyatlovpass.com

Quando a equipe de resgate chegou ao local, notaram que, mesmo com as mochilas repletas de roupas secas e intocadas, alguns membros do grupo estavam sem sapatos e pouco vestidos. A causa da morte foi determinada como hipotermia. Também foi identificado edema pulmonar, alterações no coração, fígado e pulmões.

Valery Tatarnikov, instrutor de turismo, havia declarado que a morte da líder do grupo era um grande mistério para ele. “Lá não é um deserto, não é gelo polar. Se você tem a experiência que Korovina tinha, é impossível morrer de frio na floresta no verão. 20 minutos para acender uma fogueira e você está salvo.”

Korovina foi muito criticada na época pelo modo que ela fazia as suas excursões, como se fosse uma espécie de “guia de sobrevivência”. As pessoas diziam que ela sempre levava pouca comida, o que alguns acreditam ter refletido no incidente. No entanto, amigos próximos da instrutora descreditam a teoria.

Vladimir Zinov, que fazia parte da equipe de socorristas da época, acredita que aquele era um caso de mal das montanhas, ou hipobaropatia. Essa condição se desenvolve em altas altitudes e tem como sintomas fraqueza, dores de cabeça, náuseas, hemorragia nasal e, em casos mais graves, edema pulmonar e cerebral.

Valentina Utochenko foi a única sobrevivente da excursão ao Hamar-Daban em 1993 — Foto: dyatlovpass.com

Desde então, Valentina Utochenko se recusou a falar com a imprensa, mesmo depois de adulta. Em 2018, ela cedeu uma entrevista ao jornal russo Komsomolskaia Pravda. Valentina contou que Denis Shvachkin havia a salvado quando a empurrou para descer a colina. No entanto, ele não havia conseguido a seguir.

Valentina ainda contou sua rotina na excursão, descreditando as críticas feitas para Lyudmila Korovina. Ela contou que eles comiam 4 vezes por dia e lanchavam nas paradas. Quando questionada sobre a causa da morte, ela disse que acreditava ser um caso de edema pulmonar.

As pessoas ainda se perguntam como é possível morrer de frio no verão. O grupo não estava em alta altitude e Lyudmila era experiente. No Cazaquistão, diversas teorias foram feitas, a mais popular delas era de que o grupo havia entrado em uma zona de testes de armas secretas. Nesse caso, Valentina não teve opção, se não manter o silêncio por todos esses anos. A teoria dizia que ela havia sido resgatada pelos oficiais de segurança do Estado, que a obrigaram manter silêncio. Quando questionada sobre isso, ela disse que quem havia a conduzido até os turistas foi Deus.

Conheça também o incidente do Passo Dyatlov

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Millena Borges
Inconclusivo

Entusiasta de sad songs, vegetariana, apaixonada por pets, livros, música e moda. Escrevia sobre unsolved mysteries, hoje escrevo sobre qualquer outra coisa