Fagulhas de inovação no governo

Colaborar com profissionais da gestão pública é o caminho para difundir inovação no setor

Manuella Caputo
Inovação em governo e no controle
6 min readJul 15, 2020

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Promover integração, criar e fomentar redes de inovação, é um dos eixos estratégicos do Inova_MPRJ. O Laboratório está sempre atento à possibilidade de otimizar resultados a partir de colaborações externas — tanto ao órgão quanto ao próprio MPRJ.

Com a pandemia do novo coronavírus, entendeu que essa abertura vem em boa hora. Quando o MPRJ implantou o regime de teletrabalho, em 16 de março, não mudou só a rotina, como também os desafios que passaram a chegar ao Laboratório.

O Inova_MPRJ replanejou o novo ciclo de trabalho para contribuir na atuação do MPRJ em combate à Covid-19. Sem deixar de lado os projetos do ciclo passado que exigiam continuidade, passou a atuar em apoio à força-tarefa criada pela Instituição (FTCOVID-19/MPRJ).

Esse novo arranjo foi possível porque, além de expandir o trabalho, aumentou também a equipe. Por intermédio do Vetor Brasil, organização da sociedade civil voltada para o desenvolvimento de profissionais para o setor público, o Laboratório convocou mais uma vez a inteligência coletiva para potencializar a inovação.

De vetores a fagulhas

Tendo em vista o grande esforço de coordenação necessário por parte dos governos, especialmente em momentos de crise, o Vetor organizou uma ação emergencial de apoio. Partindo de uma rede com mais de 500 agentes vinculados à gestão pública, a organização conectou sua rede de ex-trainees e finalistas do Programa Trainee de Gestão Pública com governos parceiros, para atuarem de forma voluntária e temporária nas ações de combate à Covid-19.

Em outubro de 2018, o MPRJ foi o primeiro Ministério Público a se tornar parceiro do Vetor Brasil. Hoje, a equipe do Inova_MPRJ conta com dois líderes de projeto integrantes da rede Vetor e selecionados por meio dessa colaboração.

E, mesmo que por um curto período, os voluntários e ex-trainees da organização Isabela Romancini, Pedro Barros, Rafael Bueno e Rodrigo Dornelles deram nova vida a essa parceria. Agora, são integrantes da rede Vetor Brasil e fagulhas — como são chamados os colaboradores que fazem uma imersão no Laboratório e a partir de então assumem a missão de serem fagulhas da inovação, ou seja, de passar adiante os conhecimentos que adquiriram com essa experiência.

Contamos com quem para o quê

Os fagulhas ganham avatares e passam a fazer parte do time do Inova_MPRJ no Basecamp, software que utiliza para o gerenciamento de projetos.

Realizadas as entrevistas e selecionados os quatro recém-fagulhas, era hora de completar o quebra-cabeça do novo ciclo — cada peça em seu lugar, ou melhor, cada colaborador no projeto que mais se adequava a seu perfil.

Como já explicamos anteriormente, o Inova_MPRJ trabalha visando entregas rápidas a partir de ciclos de até seis semanas. A equipe — incluindo os fagulhas — é dividida normalmente em duplas ou trios, de acordo com seus interesses e as habilidades requisitadas por cada projeto.

Administradora pública, Isabela Romancini chegou ao Laboratório para auxiliar na Jornada do Óbito. O projeto foi um dos criados no âmbito da FTCOVID-19/MPRJ e teve por objetivo o desenvolvimento de uma ferramenta visual para organizar as informações necessárias quanto a providências de gestão diante das diferentes situações de óbito provocadas pela Covid-19.

O projeto Bússola_Gestão Hospitalar (B_GH) recebeu dois fagulhas: o gestor de políticas públicas Rafael Bueno e o advogado Rodrigo Dornelles. O B_GH inclui o desenvolvimento de técnicas e ferramentas de priorização de indicadores, coleta e visualização de dados, além de alertas quanto ao funcionamento das unidades de saúde da rede pública. Na FTCOVID-19/MPRJ, o trabalho foi adaptado para focar naquilo que não poderia faltar para responder às demandas decorrentes da pandemia.

No Impacta, programa de inovação aberta do MPRJ, colaborou o administrador de empresas Pedro Barros. Criada pelo Inova_MPRJ, a iniciativa busca solucionar desafios do MPRJ e dos Executivo estadual e municipal por meio da contratação de serviços de incubação e aceleração de startups. Além de Pedro, o projeto já contava com outro fagulha: o promotor de justiça Heleno Nunes.

Incrementando o processo de difusão da inovação

A criação de redes caminha lado a lado com outro objetivo do Inova_MPRJ: a difusão de cultura de aprendizado e inovação, práticas inovadoras e novas habilidades. O Laboratório desenvolve projetos pensando em sua replicabilidade e compartilha seus métodos de trabalho sempre que possível.

Por meio do projeto Fagulha, o Inova_MPRJ tem a oportunidade de disseminar cultura de forma pessoal e direta. Ganha em colaboração, troca experiências e ainda recebe o feedback de quem acompanhou seu trabalho de perto. E ainda aproveita esses resultados para melhorar cada vez mais o programa e compreender as demandas, quanto a práticas e habilidades em inovação, de quem vem de fora.

Pedro, que atuou na fase de contratação do Impacta, acredita que a experiência o qualificou mais na área de contratações públicas. “Aprendi sobre teoria e legislação básica das contratações públicas de inovação e conheci experiências de outros entes. No mínimo, me deixa mais confortável para assumir posições futuras ligadas a contratações públicas”, ele conta.

Para Isabela, o que impactou em um primeiro momento foi a rapidez da equipe na realização das atividades, diante do curto prazo de entrega em relação ao volume da demanda. Ela afirma, no entanto, que o que realmente a impressionou foi a comunicação entre os membros do Laboratório: “Todos os dias uma pessoa da equipe escrevia um diário de bordo e toda semana tinha pelo menos uma reunião com todos do laboratório. Achei esses fatores muito bons para gestão de qualquer local e qualquer instituição. Isso não só integra a equipe como facilita a resolução de vários problemas”.

Advogado, Rodrigo também se surpreendeu com a comunicação e as metodologias da equipe, e destaca a oportunidade de “encontrar gente jovem, arrojada, sensível e bem humorada em um espaço nem sempre tão leve como de uma instituição do sistema de justiça”. “É muito legal ver ferramentas de design, programação e metodologias de gestão aplicadas no dia-a-dia de um órgão jurídico tão importante. A formação jurídica, pela qual embora eu tenha passado, sou também bastante crítico, carece muito desse instrumental”, ele acrescenta.

O método de trabalho e, em especial, as ferramentas utilizadas para o teletrabalho se tornaram referência para o gestor Rafael, que já está colocando em prática o que mais se espera dos fagulhas da inovação: “Em reunião com minha antiga equipe do governo do Espírito Santo, relatei as novidades que assimilei nos trabalhos com a equipe do Inova. Decerto, serão instrumentos que pretendo me apropriar e inserir em minha rotina de trabalho”.

Próximo passo: criar o programa de difusão de cultura de inovação do MPRJ

No ciclo atual, o Fagulha surge não só por meio dos colaboradores externos, mas também como projeto autônomo. O Laboratório está trabalhando a estruturação do programa no âmbito do MPRJ.

Nesse projeto piloto, o órgão formaliza a proposta de difundir cultura de inovação no MPRJ e de promover o trabalho em rede no setor público brasileiro. Por meio de três fases — seleção, imersão e disseminação/acompanhamento — , o Fagulha buscará aproximar diferentes órgãos, explorar a inteligência coletiva e, principalmente, formar agentes multiplicadores de novos métodos, práticas e ferramentas.

Atualização (18/12/2020): O programa Fagulha foi oficialmente lançado! E para 2021, a equipe do Laboratório espera ampliar o programa para que seus projetos contêm sempre com fagulhas em seus ciclos de trabalho. Saiba mais no site do projeto.

E você, já participou de alguma iniciativa para difundir inovação no setor público? Compartilhe conosco via comentário!

Com Bernardo Chrispim Baron, Beatriz Ferreira, Breno Gouvea, Daniel Lima Ribeiro, Gabriel Delman, Júlia Rosa, Leonardo Santanna, Letícia Albrecht, Marcelo Coutinho e Matheus Donato.

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Manuella Caputo
Inovação em governo e no controle

Comunicóloga formada pela UFRJ. Pesquisadora no MediaLab.UFRJ e coordenadora de Lei de Acesso à Informação na Abraji.