É possível engajar 700 pessoas online por 4h falando sobre processo seletivo? — Parte II

Lili Fonseca
InPeople
6 min readSep 7, 2023

--

Um ano depois, voltei com a prometida segunda parte desse texto. A demora até que veio a calhar: em junho desse ano, realizei outros treinamentos no mesmo formato de 4h online para o mesmo cliente, mas para outra divisão.

Se tem um fator claro de sucesso, além das avaliações positivas de reação, é o cliente ter feito um novo projeto com o mesmo formato, né?

Dessa vez fizemos uma renovação no conteúdo, uma nova adequação à linguagem dos novos times, mas mantivemos muito da estrutura de engajamento que deu certo no ano passado e foram os temas do primeiro texto:

· Um bom planejamento
· Ter ferramentas para aprendizagem contínua
· Uma boa dose de diversão
· Jogar (e jogar sério!)
· Fazer uma gestão do tempo impecável

Mas não é só isso!*momento Tekpix

Existem outros fatores que contribuem para um alto engajamento em apresentações ou treinamentos, e aqui vão eles:

Leitura de ambiente (mesmo que o ambiente seja virtual)

O nível de participação, a postura e principalmente o semblante de quem participa dá grandes indícios se você está indo no caminho certo ou não. Ter o domínio do conteúdo e uma ótima gestão do tempo dão espaço para deslocar os intervalos ou mudar dinâmicas quando você sente que o nível de atenção e engajamento começam a cair.

No presencial é fácil fazer essa leitura e perceber quando as pessoas começam a escorregar na cadeira, bocejar ou até mesmo a pegar o celular, ou sair da sala. Já no ambiente virtual, a única coisa que possuímos para “ler” o grupo são os quadradinhos das câmeras que estão ligadas.

E no virtual, a câmera ligada basta?

Sou uma grande defensora dessa ferramenta e costumo avisar com antecedência aos participantes dos meus encontros que esse é um requisito não obrigatório, porém desejado. Além de ser a única maneira de contato visual, também é uma forma de evitar distrações. Com a câmera fechada é muito mais fácil abrir outras janelas, sair do computador ou até mesmo conversar com outras pessoas, perdendo completamente o foco.

O que percebi ao longo de todos os treinamentos e palestras virtuais que já fiz é que as pessoas com câmera ligadas são mais participativas e por isso assimilam melhor o conteúdo, além de incentivarem a participação dos demais.

“Mas Lili, é a fadiga de zoom? As pessoas não aguentam mais ficar com as câmeras ligadas!”

O problema aqui não são os treinamentos síncronos (ao vivo) e sim o volume de agendas virtuais que poderiam ser um e-mail. Papo pra outro texto.

1, 2, 3, testando.

As pessoas costumam subestimar o poder do ensaio. E não aquele ensaio mequetrefe que você faz enquanto dirige ou toma banho, repassando mentalmente o que vai ser dito na apresentação.

Ensaio de verdade é aquele em que você testa todas as condições do evento: usa as mesmas ferramentas, fala em voz alta como se a audiência estivesse na sua frente e utiliza todos os materiais que você vai levar — já prontos e finalizados.

Em treinamentos de grande escala em empresas, ainda mais nesse projeto em que o conteúdo era denso, realizamos pelo menos uma aplicação piloto, com uma amostra do público-alvo, gestores e a equipe de RH. Nesse dia, existe a licença poética para errar e levantar melhorias.

É uma excelente oportunidade de testar a gestão do tempo com um público de verdade — que vai interagir e fazer perguntas — e garantir que você já comece acertando na primeira turma.

Materiais: sim ou sim?

É sabido que as pessoas aprendem de maneiras diferentes. Alguns estudos recentes, dividem as pessoas em três grupos:

· Auditivas (20%): aprendem melhor em formato de áudio. Costumam prestar muita atenção ao que é dito e assimilam melhor quando podem discutir o assunto.

· Visuais (35%): diferente dos auditivos, os visuais precisam de imagens e elementos gráficos para fixar o conteúdo.

· Cinestésicas (45%): já o maior recorte da população, aprende melhor quando coloca a mão na massa e consegue experimentar o tema de forma prática.

Com isso dito, fica claro que o formato simples de “apresentação com power point” deixa muito a desejar quando o objetivo é ensinar ou comunicar algo. Construir e utilizar recursos diferentes não só aumenta o engajamento, como facilita a compreensão por diferentes audiências.

Você pode pensar que no ambiente virtual, os recursos são limitados, mas não é verdade. Nesse treinamento de 4 horas, utilizamos:

· Discussões abertas e em grupos fechados.
· Atividades em que as pessoas escreviam suas respostas ou opiniões diretamente no slide apresentado.
· Cases reais.
· Vídeos.
· Uma plataforma externa de quiz.
· Jogos simples, que instigam a curiosidade e tornam a experiência mais divertida.

O jogo da diversidade
Para abordar vieses inconscientes, dividimos a turma em 3 grupos. Todos receberam a foto de 5 pessoas e 5 descrições curtas. Em 5 minutos, os grupos precisam discutir e decidir quem é quem — tudo feito pelo Zoom!

O objetivo da atividade é fazer com as pessoas sejam obrigadas a usar seus vieses para chegar a uma resposta. Após compararmos os grupos com mais acertos, discutimos como foi a sensação de julgar as pessoas pela foto e discutimos os vieses que emergiram — algumas pessoas se sentem bastante incomodadas com a tarefa, mas ao final, quando explicamos o propósito, fica claro que era intencional.

Se você propôs que as pessoas ficassem 4 horas online com você, é sua obrigação encontrar formatos mais interessante e engajadores de passar seu conteúdo.

Tem que saber rebolar

Não literalmente, claro, mas é preciso construir espaços para imprevistos e dominar o assunto para entregá-lo conforme a situação. Vou explicar melhor.

É impossível conduzir com qualidade um treinamento de 4 horas no formato monólogo. As pessoas precisam participar e trazer suas histórias para enriquecer a construção do conhecimento. O problema é que elas não têm a menor obrigação de fazer a gestão do tempo com você. Ou seja, é preciso dimensionar tempo para que as pessoas se sintam ouvidas e possam participar.

Também está na mão do facilitador gerenciar aquelas pessoas que por vezes extrapolam, mas no geral, o nível de participação do grupo será sempre uma incógnita até chegar a hora H.

Nunca, jamais, em nenhuma hipótese crie uma agenda que ocupe todo o tempo disponível. A não ser que você não queira interagir com as pessoas, o que eu considero um erro.

Além disso, podem surgir perguntas importantes, relacionadas ao assunto, mas que não estão contempladas no material preparado. Aqui temos apenas dois caminhos: ou você domina o assunto, além do que se preparou para apresentar e consegue trazer a informação, ou age com sinceridade e explica que não possui aquele conhecimento.

Antes sermos honestos do que tentar enrolar, né? Não estamos mais na escola, gente.

O último (e melhor) conselho

Independentemente do formato ou do tempo de apresentação, a melhor maneira de conduzir um treinamento, uma aula, uma reunião, ou qualquer que seja o encontro é estabelecer uma conversa.

Costumo dizer que monólogo só funciona no teatro. Se você quer a atenção das pessoas e com isso entregar algum tipo de informação nesse processo, não fique falando sozinho(a). Envolva seu público, não tenha medo de perguntar o que as pessoas estão achando, faça mudanças se assim desejarem e enriqueça o que você preparou com as ideias e colocações de quem te ouve.

Dessa forma, não importa o espaço ou o tempo, o resultado sempre vai ser positivo e as pessoas vão sair querendo um pouco mais.

--

--

Lili Fonseca
InPeople

Questionando o modus operandi de Comunicação, Desenvolvimento e Gestão de Pessoas do jeito que são feitos até hoje.