5 dicas para conhecer a Cultura antes de aceitar uma vaga

Lili Fonseca
InPeople

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Estava escrevendo um outro texto sobre Cultura Organizacional essa semana e a primeira frase que me veio em mente foi: “Não acredite de cara no que te falarem que é a Cultura da empresa.” Essa afirmação se dá pelo fato de que qualquer Cultura (organizacional ou não) é um elemento abstrato e leva tempo até que você consiga perceber, de maneira consciente, sua presença no dia a dia.

Qualquer explicação mais formatada sobre a Cultura de um grupo dificilmente irá esclarecer completamente como é o convívio. É preciso viver e sentir a cultura na prática.

Fui tentada a enveredar por questões antropológicas, mas no meu exercício de escrever textos menores — processo em andamento! — vamos direto ao ponto: se é preciso viver uma Cultura para conhecê-la, como eu, pobre candidato, posso ter mais evidências se aquela vaga é uma cilada ou não? Aqui vão 5 dicas práticas, das mais óbvias às mais rebuscadas:

1. Leia sobre a empresa

Não estou falando aqui somente do site (básico, né?). Estou falando dos últimos resultados divulgados, Relatório de Sustentabilidade (se houver) e principalmente notícias. Acesse a área de assessoria de imprensa do site e procure as informações mais recentes no Google Notícias (tem uma aba só para esse tipo de busca). Saber os últimos acontecimentos pode trazer uma boa ideia do cenário atual do negócio e ainda te fazem refletir se há alguma situação mais delicada que valha ser esclarecida com os avaliadores.

2. Converse com colaboradores e ex-colaboradores

Se você conhece alguém que trabalha ou já trabalhou na empresa, ótimo! Caso você não conheça e tenha uma dose mínima de cara de pau, busque pessoas no LinkedIn e explique que está em um processo seletivo da empresa e gostaria de conhecer melhor a cultura. Outra forma de acessar essas pessoas é perguntar ao responsável pelo processo seletivo se é possível agendar um papo com alguém do negócio, da mesma área da vaga ou de alguma área que possua muita interação com a posição em questão. O ‘não’ você já tem e perguntar não costuma ofender, apenas lembre-se que é de bom tom fazer isso mais no final do processo.

3. Saiba ler os depoimentos de sites de avaliação de empresas

O título desse tópico é bem importante. Plataformas como Glassdoor reúnem avaliações de muitos funcionários e sempre vai ter gente falando bem e falando mal. É preciso saber filtrar esse conteúdo. Minha dica é: leia muitos comentários bons e muitos comentários ruins a procura de padrões. O que se repete? Quais aspectos e problemas são levantados por muitas pessoas? Depois se questione: esses pontos são críticos para mim? Se muitas pessoas criticam a falta de liderança, outros elogiam a autonomia e você gosta de liberdade para atuar no dia a dia, talvez seja uma boa notícia para você.

4. Defina os seus inegociáveis

Na hora de buscar um emprego as primeiras prioridades geralmente são salário, o peso da empresa no CV, distância de casa, benefícios, cargo oferecido…aspectos mais práticos da descrição da vaga, mas quando falamos de Cultura precisamos refletir o que é inegociável para nós. Eu possuo três valores pessoais vitais para meu bom funcionamento: Bem-estar, Planejamento e Diversão. Hoje para mim é muito fácil olhar para uma empresa e automaticamente buscar esses elementos. Se eles não existem ou existem em parte, não é para mim. Quando não vivemos nossos valores principais, ficamos angustiados e nem sabemos direito por quê.

Caso você não tenha clareza dos seus valores, reflita sobre suas experiências anteriores. O que mais me deixava infeliz naquela empresa que eu odiei trabalhar? O que mais me trazia alegria naquele projeto em que senti tanta realização? Faça uma busca pessoal sobre angústias e elementos de motivação nas suas vivências passadas. São um ótimo começo para identificar inegociáveis.

5. Construa as perguntas certas

Antes de sair perguntando: “Essa empresa é divertida?”, leia esse texto. A forma como fazemos as perguntas importa e muito para ouvirmos a verdade e não apenas o que vai nos agradar ouvir. Definidos os seus inegociáveis ou aspectos que hoje são prioridade, prepare boas perguntas para fazer ao final da entrevista ou para enviar por e-mail.

Bons formatos para esse tipo de pergunta são ancorar a resposta em ações ou números, usar uma janela cronológica ou fazer perguntas com opções sem viés. Veja esses exemplos:

Sobre qualidade de vida:
Qual a importância da qualidade de vida para o negócio? — parece uma pergunta boa, mas a resposta vai ser totalmente padrão. Ninguém vai dizer que não é importante.

Quais as estratégias usadas no último ano para melhorar a qualidade de vida dos colaboradores? — aqui temos uma janela de tempo específica e ações que podem ser nomeadas. Se a pessoa que estiver te entrevistando tentar te enrolar, você já tem sua reposta.

Sobre planejamento:
Vocês se consideram uma empresa focada em planejamento? — mesmo que não seja, a pessoa vai entender que isso é importante para você e irá responder de forma conveniente.

Qual o tempo médio de um projeto dedicado à fase de planejamento? Quais as principais ações desse momento de projeto? — aqui temos uma amarração de tempo, que também poderia ser feita com % — quantos % do tempo do projeto é investido em planejamento?

Quando há a necessidade de acelerar um projeto, quais fases costumam ser priorizadas e quais são despriorizadas? — aqui não abrimos o tema de interesse e pode ser bom ouvir o que irá emergir. Se nem citarem a etapa de planejamento, também temos um bom indício de que talvez não seja prioritário.

Sobre autonomia/criação/gestão de pessoas/
Qual estilo de liderança mais comum no negócio: gestores que dão autonomia ou gestores que acompanham de perto para desenvolver pessoas? — o importante aqui é que não há opção certa ou errada, logo a pessoa não sabe o que você quer ouvir e deverá ser verdadeira na resposta.

Como vocês incentivam as pessoas a trazerem novas ideias para o negócio? Há ações de estímulo ou tempo dedicado para isso na rotina?

Em média, quanto do tempo de trabalho dos gestores é dedicado à gestão de pessoas e quanto é dedicado ao trabalho técnico? — mesmo que a resposta não seja exata (e não será), é possível observar a tratativa dada na empresa sobre o assunto.

Mais do que usar os exemplos que coloquei acima, o importante é você entender as suas necessidades e a partir delas construir as perguntas certas.

Ao buscar informações sobre a empresa em diversas fontes (notícias, colaboradores, sites de avaliação), entender suas prioridades pessoais e a partir disso formular boas perguntas é possível: esclarecer notícias duvidosas, buscar explicações sobre avaliações ruins e investigar o que é importante para você. Um processo seletivo é uma via de mão-dupla e você também pode se preparar para avaliar a empresa.

Essas dicas podem não sanar totalmente suas dúvidas, mas espero que sejam um bom começo para apoiar sua tomada de decisão.

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Lili Fonseca
InPeople

Questionando o modus operandi de Comunicação, Desenvolvimento e Gestão de Pessoas do jeito que são feitos até hoje.