Crimes imaginários: roubar amor (Parte 4)

Míriam Medeiros Strack
Published in
3 min readFeb 13, 2019

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(Este é a quarta parte de uma série de textos sobre crimes imaginários. Se você não leu os textos anteriores, leia aqui: parte 1, parte 2 e parte 3).

O crime imaginário de roubar amor é o último que faz parte das culpas do sobrevivente, junto com suplantar e sobrecarregar, já explicitados nos textos anteriores. Relembrando:

“O sentimento de culpa do sobrevivente se baseia na crença de que ter um destino melhor que o dos nossos pais ou irmãos significa traí-los, pois o indivíduo acredita que seu sucesso tenha sido conquistado à custa deles” (1).

O crime de roubar amor ocorre quando achamos que recebemos mais amor ou atenção do que nossos irmãos, e ficamos com a sensação de que eles precisavam desse amor de alguma forma para conseguirem ser felizes.

É como se seus pais tivessem lhe alimentado e deixado seus irmãos passarem fome. Nesse caso, fome de amor. Você sente que se apropriou de uma parte dessa atenção que não lhe pertencia.

Novamente, isso não acontece com todos. Para você sentir essa culpa pode ser preciso que seus pais lhe culpem por precisar de muita atenção, que lhe digam que não conseguem cuidar de você e seus irmãos ao mesmo tempo, ou que descaradamente eles tenham uma preferencia por você. Pode ser também que você sinta essa culpa se um de seus irmãos tiver algum problema de saúde, física ou mental, ou se ele for infeliz ou malsucedido. Você pode achar que se não tivesse roubado o amor que era destinado a ele, ele poderia ter sido mais feliz, mais saudável ou mais próspero.

O crime de roubar amor também pode ser sentido quando você é muito próximo de um de seus pais, talvez até tenha mais proximidade que os seus pais enquanto casal. Você pode sentir culpa por competir com seu pai pelo amor de sua mãe, por exemplo. Principalmente se o relacionamento deles não for bom.

Conforme já falado anteriormente, a forma de auto punição mais comum é a auto sabotagem, seja nunca conseguindo o que se quer, perdendo aquilo que se conseguiu ou não conseguindo desfrutar de suas realizações. Pensamos que se nossos irmãos não puderam desfrutar da nossa felicidade, é porque roubamos o amor que se destinava a eles, e, portanto, nós também não temos o direito de desfrutá-la. Outra forma de punição por roubar amor é não conseguir envolvimento íntimo, pois podemos sentir que já recebemos amor mais do que suficiente na vida e se recebermos mais, outras pessoas serão prejudicadas, ou nossos irmãos serão ainda mais infelizes, pois já esgotamos nossa cota de amor para receber na vida.

No próximo texto falarei de mais um crime imaginário, dessa vez, de outra categoria: o crime imaginário de abandono.

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1 WEISS, Joseph apud LEWIS, Engel. Crimes imaginários. Por que nos punirmos e como interromper esse processo. São Paulo: Nobel, 1992. p. 63.

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Míriam Medeiros Strack
Introverso

Escritora, professora, bailarina, artista. Falo sobre consciência emocional, consciência corporal e autenticidade. Insta: @miriam.mest