Modelos organizacionais: complexidade e filosofia

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5 min readJun 15, 2023

Como nossas atitudes e decisões podem ser moldadas pelo meio que habitamos

Por Paulo Andre Sampaio, agente de transformação no Itaú.

No artigo anterior (Modelos organizacionais flexíveis e evolutivos), explorei as funções e responsabilidades que os membros da equipe têm na empresa, bem como a importância das cerimônias que as equipes realizam, seja para revisar o progresso, identificar problemas, planejar o trabalho a ser feito ou discutir resultados. Agora, vou abordar como papéis e cerimônias têm o poder de moldar os comportamentos e as atitudes das pessoas.

Os papéis que assumimos na sociedade são influenciados por normas culturais, expectativas sociais e regras de conduta. E, quando assumimos um papel social (como o de pai, professor, funcionário ou cidadão) temos que seguir as regras daquele papel, que nos direcionam nas nossas escolhas e nossas atitudes, nos ajudando a nos integrarmos na sociedade.

Da mesma forma, as cerimônias são rituais que reforçam a identidade coletiva, transmitindo valores culturais e sociais. Elas também ressaltam a importância de certos comportamentos e atitudes, como respeito, gratidão e honra, e no contexto corporativo atitudes como colaboração, ownership e protagonismo. As cerimônias podem ter um impacto emocional profundo nas pessoas, levando a mudanças comportamentais duradouras e assertividade na comunicação.

No entanto, é importante enfatizar que papéis e cerimônias são artefatos que não moldam o comportamento de forma determinista. Idealmente, as pessoas têm livre-arbítrio e podem escolher como se comportar nos papéis que assumem e diante das cerimônias que participam. As normas culturais e as expectativas sociais são importantes, mas não determinam completamente nossas escolhas e comportamentos.

Cada indivíduo tem a capacidade de interpretar e dar sentido a esses papéis e cerimônias, e de tomar decisões de acordo com seus próprios valores e convicções. Dessa forma, é importante notar a característica dinâmica e efêmera desses artefatos, e aceitar que eles podem e devem se adaptar conforme as variações de contexto e subjetividade do indivíduo.

Admirável mundo renovado

A relação entre papéis e cerimônias com a filosofia pode ser abordada de diversas maneiras, mas uma perspectiva possível é a de que ambos estão relacionados com questões fundamentais da existência humana, como a identidade, a moralidade e a transcendência.

Os papéis que assumimos na sociedade são determinados por fatores como nossa origem, educação, habilidades e escolhas pessoais, e podem variar ao longo do tempo e em diferentes contextos. Esses papéis podem ser vistos como expressões da identidade individual e coletiva, e como tais, estão relacionados com questões filosóficas como a natureza da identidade, o livre-arbítrio, a justiça social e a autonomia.

As cerimônias, por sua vez, são rituais que marcam momentos importantes da vida individual e coletiva, como nascimentos, casamentos, funerais e celebrações religiosas. Elas podem ter várias funções, como a de reforçar a identidade de um grupo, transmitir valores culturais e religiosos, proporcionando um senso de transcendência e significado. Nesse sentido, as cerimônias estão relacionadas com questões filosóficas como a natureza da religião, a relação entre o indivíduo e a comunidade, e a busca por sentido e propósito na vida.

Conhecendo o passado — Só sei que (em complexidade) nada sei

Uma perspectiva filosófica interessante sobre papéis e cerimônias é a do filósofo francês Michel Foucault, que argumenta que esses elementos são fundamentais para a formação do poder e da subjetividade na sociedade moderna. Segundo Foucault, o poder não é apenas uma relação entre indivíduos, mas algo que permeia todas as relações sociais e se manifesta em instituições como a família, a escola, a religião e o Estado. As cerimônias são vistas por Foucault como dispositivos que produzem efeitos de poder, ao moldar a subjetividade dos indivíduos e reforçar normas e valores sociais.

Além da perspectiva de Foucault, podemos pensar em outras abordagens filosóficas que exploram a relação entre papéis e cerimônias. Por exemplo, podemos pensar na visão de Aristóteles, que argumenta que a vida humana é orientada para um fim último, que ele chama de “eudaimonia”, ou felicidade. Segundo ele, a felicidade é alcançada quando o indivíduo vive de acordo com sua natureza e realiza seu potencial como ser humano. Nesse sentido, os papéis que assumimos na sociedade e as cerimônias que celebramos podem ser vistos como meios para alcançar esse fim último, ao permitir que os indivíduos encontrem seu lugar na comunidade e cultivem virtudes como a justiça, a coragem e a sabedoria.

Já para Confúcio, a relação entre papéis e cerimônias é fundamental para a construção de uma sociedade harmoniosa e virtuosa. Confúcio acreditava que o homem é um ser social e que a vida em sociedade é necessária para o desenvolvimento das virtudes morais. Ele via os papéis sociais como uma forma de cumprir com as obrigações e responsabilidades que cada indivíduo tem na sociedade.

Para ele, as cerimônias eram uma forma de expressar gratidão e respeito, e eram essenciais para a promoção da harmonia e da paz na sociedade. No entanto, as cerimônias e os papéis sociais não eram fins em si mesmos, mas, sim, meios para alcançar o objetivo maior da vida humana, que era o cultivo das virtudes morais.

Outra abordagem filosófica que pode ser relevante para pensar a relação entre papéis e cerimônias é a fenomenologia, que se concentra na experiência subjetiva do indivíduo. Para a fenomenologia, as cerimônias são importantes porque permitem que os indivíduos entrem em contato com dimensões mais profundas da experiência humana, como a transcendência, a beleza e a comunhão com os outros.

Os papéis que assumimos na sociedade, por sua vez, podem ser vistos como expressões da nossa subjetividade, ao permitir que projetemos uma imagem de nós mesmos para os outros e para nós mesmos.

Em suma, a relação entre papéis e cerimônias com filosofia é rica e complexa, e pode ser abordada de muitas maneiras. Seja explorando questões de identidade, moralidade, transcendência ou poder, esses elementos são fundamentais para a compreensão da experiência humana e para a busca por sentido e propósito na vida.

No próximo artigo, trarei algumas hipóteses e heurísticas que tiveram sucesso no Itaú para a construção de modelos de trabalho eficientes e flexíveis.

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