A busca por acessibilidade

Emilio Dossi
Itaú Design Team
Published in
6 min readApr 15, 2021

Foi no final de 2018 que entrei para a Gerência de Branding e Design do Itaú. Julia Haiad, com quem trabalhei também no Comitê Olímpico Rio 2016, era coordenadora do time e me fez o convite.

descrição da imagem: três fotos polaroide, todas com oitos pessoas, entre homens e mulheres. [fim da descrição] — Faltaram Clayton, Julia e Renata na foto, 2018.

Cheguei a tempo de acompanhar o processo de implementação do novo laranja Itaú nos canais digitais. Sim, o maior ativo de marca do banco teve um ajuste de tonalidade e talvez você, designer ou não, nem tenha percebido.

Com um pequeno ajuste no código hexadecimal, o laranja se tornou acessível a pessoas com baixa visão (como daltônicos, idosos). Essa mudança garantiu o contraste de cor sugerido pela WCAG (Web Content Accessibility Guidelines), que traz diretrizes para assegurar a acessibilidade dos conteúdos na internet.

Embora pareça simples, a mudança impactou inúmeras frentes de trabalho no Itaú. A troca do código de cor nos canais digitais de marca, fez com que revíssemos também a tonalidade do laranja nos materiais impressos. Imagine rever todos os pontos de contato da marca, digitais e físicos — é muita coisa! Christiane Lynn, Tom Oliveira e Beatriz Oliveira, parte da equipe responsável, sabem bem, né?

Pra quem é designer gráfico e saudoso como eu, foi uma delícia acompanhar a equipe envolvida no estudo de paleta cromática, escolha de cores Pantone, teste de impressão e toda escalabilidade necessária para implementar essa alteração.

Produtos acessíveis

Ao longo da minha experiência no Itaú, vi movimentos para a acessibilidade que impactaram o segmento de cartões. Para o projeto de Iti, Gabriela Jastrenski tocou uma pesquisa interna no banco com deficientes visuais. O objetivo era trazer mudanças para o cartão de crédito de Iti. E nas mãos de Gabriela e Lucas Mayer, o produto nasceu com texto em braile e corte lateral que facilitam o uso do cartão por pessoas cegas.

descrição da imagem: três cartões de crédito iti, com um degradê em rosa frevo e azul gafieira, e corte lateral para a acessibilidade.

Acompanhei Julia Resende, também coordenadora do time de Branding e Design, mergulhando no mundo de clientes PCD’s (pessoas com deficiência) do banco, entendendo sua jornada, a fim de otimizar sua experiência com novas tecnologias e tornar os produtos mais relevantes nas suas vidas.

Diversidade também é acessibilidade

Participei de uma das iniciativas de Design OPS do Itaú, o OPS de Diversidade, ao lado de uma equipe fera onde conheci Malu Dini. Nossa intenção era mapear a equipe, entender o quanto somos diversos e garantir que todos tivessem um espaço seguro de fala e escuta.

descrição da imagem: Malu Dini fazendo uma apresentação em frente a uma tela projetada, com fundo azul e letras em branco, escrito: Setembro Azul, Cultura surda e libras.

A Malu me ensinou a parar de gesticular com a mão na frente da boca e falar com mais tranquilidade. É o mínimo que posso fazer em respeito a ela, pessoa surda, uma vez que ainda não aprendi Libras (vergonha!).

Aliás, em 2019, começamos a ter interpretação em libras em todos os eventos internos e externos do banco, como aconteceu no Dia do Design Itaú 2020, transmitido para mais de mil designers e entusiastas do tema.

À frente da reestruturação da estratégia e identidade de marcas independentes do banco, propus diretrizes fotográficas cheias de atitude e representatividade. Corpos de todas as formas e cores estão estampados em manuais de marcas como Credicard. Representatividade também é uma forma de acessibilidade e queremos que todos se sintam incluídos.

descrição da imagem: página do guia de marca com três imagens: duas mulheres pretas abraçadas, um cadeirante com seu amigo e uma mulher gorda de maiô e chapéu (todos sorrindo). Diretrizes de estilo fotográfico garantem a diversidade na identidade visual.

A acessibilidade pode ser abordada nos textos, por meio do exercício da linguagem neutra e não violenta. Aprendi com Sarah Oliveira e Mônica Retek a aderir à riqueza da língua portuguesa e hoje encontro oportunidades diárias de usar palavras de gênero não binário para incluir mais pessoas na conversa e gerar identificação com as mensagens de nossos produtos e serviços.

"Mea culpa"

Se você trabalha numa grande corporação como eu, vai entender que uma marca não se torna acessível da noite pro dia. Acessibilidade é uma meta, um trabalho contínuo e deve ser um norteador incluído no início dos projetos. Não devemos abordar acessibilidade alertando sobre a possibilidade de punição. Pelo contrário, devemos nos inspirar a aumentar as possibilidades de acesso.

Fui impactado com frases como “precisamos alterar nossas cores, pois essa peça está sendo vetada por falta de contraste”. E cá entre nós, o material não respeitava as diretrizes da WCAG. Com um olhar crítico, entendemos que isso deveria ocorrer a partir de uma diretriz do manual de marca. Agora, estamos reduzindo o uso de palavras em destaque em nossos textos na cor amarela sobre fundo laranja. Um ajuste no manual de marca, uma sugestão de uso de destaque de texto, impactam em diversas situações, como a descrita anteriormente. Precisamos compreender que acessibilidade está também no ajuste dos detalhes.

descrição da imagem: gráfico visual dividido em três. à esquerda, tem uma caixa em laranja escrito: punição/culpa. Logo abaixo, vem o texto: “Podemos ser punidos” e “Existe risco de sermos multados”. No meio da tela, tem a frase: motivador para abordar acessibilidade. Do lado direito, um círculo em laranja com a palavra inspiração. E logo abaixo, as frases “Precisamos ser inclusivos” e “Queremos alcançar todas as pessoas!”.

Junto do Cesar Goes, tenho mapeado os pontos de aprimoramento dos nossos manuais de marca, a partir dos ensinamentos colhidos na implementação. Por isso, reafirmo: é importante que acessibilidade seja um guia para nossos projetos e uma oportunidade de evolução. Acessibilidade não deve ser discriminatória, afinal é necessário incluir todas as pessoas.

Escolha suas lutas

Ao trazer um olhar de inclusão nos projetos, entendemos que acessibilidade é sobre priorizar ativos de marca e entender quais devem ser guiados por essa abordagem ou não. Mensagem, logo, botão das peças de comunicação, por exemplo, são itens prioritários para o entendimento dessas comunicações.

Precisamos garantir o acesso por meio do contraste de cores e tamanhos de fonte. O foco está na clareza do conteúdo e, talvez, um ícone ou grafismo, dispensáveis ao entendimento, apareçam, mas não serão acessíveis — e está tudo bem. Sem sofrimento, vamos aprendendo a escolher nossas lutas.

Não deixamos de trabalhar com um ativo de marca apenas porque as peças de comunicação não estão acessíveis nas redes sociais. Aprendemos a utilizar esse ativo, direcionar sua função e orientar a melhor aplicação, prevendo os cenários e contextos possíveis.

Insisto, acessibilidade é uma meta, um propósito a ser alcançado e um norteador de decisões desde o início dos projetos. Aprendemos a melhor forma de usar o laranja, mantendo a acessibilidade. E disso a gente se orgulha ;)

É tudo sobre pessoas

Durante essa jornada como designer dentro da marca mais valiosa do Brasil e aportando valor a tantas outras do portfólio Itaú, eu aprendi muito. Junto de um time sensível e carinhoso (total reflexo da gestão do Clayton Caetano), ficou claro pra mim que não tem como abordar a acessibilidade sem falar sobre pessoas. Não só as que gostaríamos de atingir como clientes, tornando nossa marca cada vez mais acessível, mas também as pessoas que constroem tudo isso.

Pessoas que carregam em si um olhar atento e curioso. Pessoas que entendem a responsabilidade de trabalhar com uma marca desse tamanho e alcance, que reconhecem o impacto positivo que podem causar. Tenho certeza de que não consegui citar cada responsável por hoje eu ter um olhar mais voltado à acessibilidade nas minhas entregas.

Afinal, acessibilidade significa desenvolver marcas, produtos ou serviços que atendam a todas as pessoas, independente da necessidade de acesso de cada uma delas.

Sejamos responsáveis pela transformação!

Emilio Dossi

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