O ecossistema de startups em Manaus /AM— Jaraqui Valley

Macaulay Abreu
Jaraqui Valley
Published in
9 min readJan 22, 2018

O que é ecossistema de startups?

Antes de falarmos sobre a comunidade Jaraqui Valley, vamos conceituar o que seria um ecossistema de startups.

O ecossistema empreendedor está relacionado a colaboração entre os agentes que interagem em um determinado meio. Estes agentes trabalham para fomentar que pessoas criem empresas de sucesso, ou seja, todo o trabalhado é para incentivar os empreendedores que estão no centro do ecossistema.

A retroalimentação da cadeia se dá quando algumas dessas empresas deslancham e atingem um patamar que consiga contribuir com novos empreendedores para acelerar o processo de desenvolvimento.

No artigo publicado pelo Luiz Gomes do Manguezal (comunidade de startups de Recife) ele contextualiza para o cenário brasileiro os parâmetros que são pilares de uma comunidade apresentados no White Paper da Up Global. Resumidamente os pilares de um ecossistema são esses:

  • Talentos — pessoas muito boas que estão dispostas a criarem ou participarem de empresas inovadoras;
  • Volume — um grande volume de empresas inovadoras sendo criadas aliado com diversidade de pessoas;
  • Cultura — comportamento dos empreendedores que deram certo incentivando os novos. Troca de experiências e colaboração;
  • Capital — investidores dispostos a arriscarem seus recursos nas empresas inovadoras ou em pessoas inovadoras;
  • Infraestrutura — espaços e ações tanto públicas como privadas que incentivem o desenvolvimento de negócios inovadores.
Figura 1: Pilares de um ecossistema de startups.

Obs: O Luiz Gomes vem fazendo um trabalho de análise da maturidade de alguns ecossistemas no Brasil. E em outubro de 2017 esteve aqui Manaus, onde iniciamos o processo junto a comunidade Jaraqui Valley, sendo que o ponto de partida é um estudo qualitativo das startups. Se você for de uma stratup da comunidade local, aproveite e preencha este formulário.

Estes parâmetros são essenciais para que tenhamos um ecossistema forte e que consigamos alavancar os negócios locais deixando a cadeia autossustentável. Entretanto estes pilares por si só não são o suficiente pois como são pessoas que lideram o ecossistema existem princípios que devem serem seguidos para que tenhamos o desenvolvimento consistente de uma comunidade empreendedora.

No texto sobre o San Pedro Valley (comunidade de startups de Belo Horizonte), são citados quatro princípios fundamentais extraídos do livro de Brad Feld, o criador da Teoria de Boulder que retrata sobre as características de comunidades empreendedoras que deram certo:

  • Ecossistemas empreendedores são formados por leaders (ou líderes: os empreendedores) e feeders (ou fomentadores: todos os outros agentes, como governo). Mas os empreendedores precisam ser o centro.
  • Como os líderes são os direcionadores do ecossistema, é necessário que se comprometam. Muitas vezes, durante um longo período de tempo.
  • Os ecossistemas que dão certo têm uma filosofia de inclusão. É preciso que todos que quiserem possam participar e dividir suas ideias e experiências.
  • Para que a comunidade de startups seja duradoura, é importante promover eventos que engajem. Não valem só festas!

Quem são os leaders e feeders de um ecossistema empreendedor?

Os leaders são os empreendedores que estão lá na ponta, desenvolvendo soluções para o mercado que podem ou não se transformarem em um negócio de sucesso. São estes empreendedores que devem ser as pessoas que liderarão o ecossistema, pois a possibilidade de continuarem contribuindo com a comunidade ao longo dos anos é maior.

Além disso, são os líderes que sabem a real dor que estão sentindo, parece até contraditório falar que a maioria das soluções para fomento de um ecossistema de startups não são desenvolvidas em cocriação com o público-alvo, os empreendedores. As iniciativas para a comunidade empreendedora devem estar atentas as necessidades das startups locais abrindo espaço para diálogos bilaterais e não excluindo-os das principais agendas referentes ao tema.

O feeders são todos os agentes que orbitam ao redor do ecossistema empreendedor, eles fomentam iniciativas para desenvolver um ambiente propício aos empreendedores criarem suas startups. Os fomentadores são as instituições de ensino (universidades, institutos e etc.), pré-aceleradoras, aceleradoras, incubadoras, ONGs, governo, investidores anjos e fundos de investimentos, entre outros.

Todos estes agentes são os fomentadores do ecossistema, orbitam em torno dos empreendedores. Para que tenhamos um ecossistema forte é preciso que cada um entenda seu papel sabendo como podem contribuir e qual contrapartida esperada do ecossistema de uma forma bem clara. Esse alinhamento de pensamento pode evitar mal estar “institucional”, pois é muito comum organizações (públicas ou privadas) acharem que outras estão tomando seu espaço.

Figura 2: Organograma de um ecossistema empreendedor (apresentado no 36° Meetup Jaraqui Valley)

A importância de entendermos quem são os líderes e quem são os fomentadores do ecossistema já é uma grande avanço para o amadurecimento de uma comunidade. Vale ressaltar que o comprometimento com o ecossistema é pessoal, ou seja, é a pessoa física que se compromete em desenvolver ações em prol da comunidade. Isso é importante pois podem ocorrer muitas mudanças no futuro e se uma determinada pessoa ajudava apenas quando estava em um órgão especifico, fica claro que não houve comprometimento genuíno.

Desta forma, também terão as pessoas que se destacarão desenvolvendo e se envolvendo em mais ações que outras. É importante que a própria comunidade reconheça estes agentes e não só isso, apoiá-los é essencial para que tenhamos um amadurecimento consistente da comunidade.

Ao observarmos outros ecossistemas que estão mais maduros, percerbe-se a colaboração entre empresas do mesmo segmento, empreendedores conversando com pessoas do alto escalão do governo e desenvolvendo ações que realmente contribuem com os negócios locais, startups mais avançadas apoiando empreendedores iniciantes e diversas ações colaborativas que podem gerar resultados surpreendentes para toda a comunidade.

Figura 3: Ecossistemas de startups no Brasil (link da fonte)

Surge um ecossistema de inovação em Manaus?

O surgimento desse ambiente denota antes das primeiras stratups surgirem na cidade. Os primeiros movimentos foram de empresas tradicionais que desenvolviam tecnologias assim como institutos e fundações que vem atuando há alguns anos na cidade de Manaus/AM fomentadas por políticas públicas de incentivo a pesquisa e desenvolvimento de tecnologia.

De acordo com Daniel Goettenauer, por volta de 2010 surgiram as empresas de compras coletivas chegando ao ponto de terem exit (venda do negócio). Após tivemos a Ingresse (fundada em 2011) que hoje tem a sua operação em São Paulo, mas foi um dos primeiros casos de startup nascida em Manaus que captou alto volume de recursos.

Outro caso interessante foi da startup Neemu, fundada em 2010 por um grupo de professores e estudantes do Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas que em 2015 foi vendida por R$ 55,5 milhões. Este mesmo grupo de professores recentemente fundaram o Teewa e incentivam outras startups do ecossistema.

Em 2012 começaram os movimentos dos primeiros eventos voltados para startups que foram o início para a integração do ecossistema na cidade de Manaus. Após esse período tivemos a criação da primeira aceleradora da região norte, a Fabriq, assim como programas de pré-aceleração com destaque ao Flash Sebrae para Startups que agora vai para seu 6° ciclo.

Podemos citar diversas iniciativas que contribuíram e contribuem para a construção de um ambiente propício ao desenvolvimento de startups em Manaus/AM, esperamos que o mapeamento do ecossistema possa contribuir para que tenhamos uma análise macro de quem são estes agentes.

Obs: Como complemento do estudo qualitativo das startups do ecossistema estamos fazendo um mapeamento dos agentes da comunidade. Se você representa uma startup ou uma organização fomentadora pode participar incluindo informações básicas de sua organização nesta tabela.

O termo Jaraqui Valley só surgiu em 2014 quando um grupo de empreendedores resolveram unir esforços para criar um mapa colaborativo da comunidade de startups da cidade de Manaus. Neste texto você pode entender melhor a origem do termo e seus responsáveis.

Figura 4: 1° Meetup Jaraqui Valley

E o que é o Jaraqui Valley?

É o ecossistema de startups formado por uma rede de pessoas que fazem parte de startups ou de organizações fomentadoras da cidade de Manaus/AM que interagem de forma colaborativa.

Figura 5: Logo do ecossistema Jaraqui Valley

Atualmente temos diversas iniciativas que contribuem para o fortalecimento do ecossistema, além disso temos casos de startups que estão tendo destaque em seus mercados.

O principal meio de integração entre os membros do ecossistema são os “Meetups Jaraqui Valley” que ocorrem mensalmente e são organizados voluntariamente por pessoas do ecossistema. O prêmio “Jaraqui Graúdo” é outro evento organizado por voluntários que ocorre anualmente e visa reconhecer os agentes do ecossistema. Além desses, acontecem outros eventos gratuitos e pagos que movimentam a comunidade e contribuem para criação de negócios.

Figura 6: 14° Meetup Jaraqui Valley

Os principais canais de comunicação para divulgação dessas ações são a fanpage no facebook e instagram e o grupo no whatsapp. Temos também um calendário colaborativo de eventos na plataforma startupdigest.

Como a comunidade está organizada?

Como foi falado anteriormente, um ecossistema empreendedor não possui donos e nem personalidade jurídica e com o Jaraqui Valley não poderia ser diferente. Entretanto, precisamos ter um norte para seguir e no início de 2016 foi proposto a criação de um grupo de trabalho (GT) para direcionar e alinhar algumas ações do ecossistema.

PS: vale frisar que este grupo de trabalho é composto por voluntários e que além do grupo existem outros líderes e fomentadores no ecossistema que desenvolvem ações de forma orgânica e que tem grande relevância para a comunidade

A proposta do GT foi de reunir pessoas que tivessem interesse em desenvolver ações em conjunto e principalmente proporcionar um alinhamento entre os vários agentes do ecossistema de forma que conseguíssemos direcionar em comum acordo ações para a comunidade. Pensando nisso foram criado 4 (quatro) grupos temáticos que quando se reúnem formam o Grupo Geral:

  • GT startups: direcionam ações voltadas para a atenderem as necessidades reais das startups. Pode ser composto por pessoas que participam diretamente da operação de startups do ecossistema;
  • GT feeders: direcionam ações de alinhamento com fomentadores do ecossistema. Pode ser composto por pessoas que fazem parte de alguma organização que incentiva a criação de negócios inovadores (governo, universidade e etc.);
  • GT institucional: colaboram com a interação e comunicação institucional de organizações com a comunidade. Pode ser composto por pessoas que fazem parte de startups ou organização fomentadora;
  • GT comunicação: define estratégias de comunicação e distribuição de informação. Pode ser composto por pessoas que tenham afinidade com a área de comunicação.
Figura 7: Organização dos grupos de trabalho da comunidade Jaraqui Valley.

Qualquer pessoa do ecossistema pode fazer parte dos grupos de trabalhos, o que é cobrado entre os próprios membros é comprometimento com as ações e frequência de participação. É importante deixar claro que esta é uma tentativa de fortalecermos o ecossistema e portanto não é algo impositivo, pode ser que a metodologia e dinâmica mude. Você pode conferir os membros dos GT’s neste texto do Pedro Cavalcante.

Figura 8: Parte do GT que organizou o 3° Prêmio Jaraqui Graúdo

Com o tempo vamos aprendendo as lições e é natural que tenhamos acertos e erros. O que importa é vermos uma comunidade com interesses comuns atuando de forma colaborativa e harmônica.

Apesar de cenário político e econômico que nosso estado e país está passando, acredito que colocando a mão-na-massa, se dedicando aos nossos negócios e fazendo acontecer podemos impactar positivamente a sociedade e quem sabe sensibilizar nossos governantes para que olhem para nós não apenas como eleitores, mas como pessoas que podem melhorar o cenário atual em que vivemos.

Ainda falta muita coisa a ser feita, mas já podemos reconhecer e valorizar o que foi construído até aqui. Para as pessoas que atuam no ecossistema Manauara, continuem fazendo suas ações que com certeza colherão bons frutos no futuro.

Para fazer parte do ecossistema Jaraqui Valley basta ter o sentimento de pertencimento e se envolver genuinamente contribuindo com o que você tem de melhor!

--

--

Macaulay Abreu
Jaraqui Valley

Sobre inovação, startups e desenvolvimento regional na Amazônia. Co-fundador Onisafra e ForestiFi. LkdIn: https://goo.gl/JwiJ2u