O diretor de Marketing da produtora Brasileirinhas, Fábio Dias. Foto: Reprodução

O Diretor da Brasileirinhas Que Não Curte Pornô

O Tabuleiro
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7 min readOct 28, 2015

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por Bruna Mesquita

No No meio dos prédios antigos do bairro República, em São Paulo, fica a sede administrativa e editorial da produtora brasileira de filmes pornô Brasileirinhas. É lá que Fábio Dias, diretor de Marketing da empresa, trabalha desde 2002. O publicitário começou como assistente de arte e, com passar dos anos, ganhou reconhecimento da companhia que decidiu atrelar a imagem da empresa nas redes sociais a ele. Atualmente, com o usuário no Twitter @fabaoporno, o diretor de Marketing já tem mais de 65 mil seguidores no Twitter e o seu canal no YouTube, que conta com cerca de 300 mil inscritos, para promover a produtora.

Com paredes laranjas e cheio de caixas de arquivo pelo pequeno espaço, o escritório não tem nada de sedutor ou até mesmo que remeta aos longas destinados aos adultos. Mas não é apenas a decoração do local que dá um tom comum à produtora, o visual de Fabio é simples, cabelo penteado para o lado, camisa polo preta, calça jeans e tênis esportivo. Foi assim que ele recebeu O Tabuleiro para conversar sobre a indústria cinematográfica do pornô no Brasil, a carreira e a criação do personagem de Fabio Dias nas redes sociais. Dá uma olhada no que rolou.

O Tabuleiro: O que mudou na indústria pornô desde que você começou?

Fábio Dias: A principal mudança é que a maioria das pessoas não pagam para assistir pornô online. A gente vende água do lado do bebedouro. Quando o nosso mercado era focado em DVD, sempre disse que o nosso problema não era os filmes pirateados que podem ser adquiridos em praças de São Paulo e sim a velocidade da internet, como é agora: rápida e por um preço relativamente acessível. Hoje, qualquer um consegue subir vídeos online seja no RedTube ou no Xvideos. Existem alguns usuários que conseguem baixar os nossos filmes e depois realizar o upload em outras plataformas de vídeo. Eu só não sei o que o cara ganha com isso, já que ele perde muito tempo fazendo. Se fosse para assistir beleza, mas fazer isso para vincular online é um trabalho bem idiota.

Ouça entrevista exclusiva com Fabão Pornô

Mas os vídeos publicados nessas plataformas não costumam ser mais curtos?

Você sabe quem é a dona do Xvideos? É a Brazzers, a maior produtora pornô do mundo, que usa o Xvideos para promover seus filmes online, é por isso que muitos vídeos lá — os deles no caso — têm apenas 5 minutos. Os demais estão disponíveis na íntegra para assistir na plataforma. O objetivo do Xvideos era acabar com a concorrência.

Essa ideia de disponibilizar um teaser do vídeo online é ótima. Decidimos fazer o mesmo aqui e, com uma conta média de quanto tempo o cara levaria para gozar, deixamos 3 minutos de vídeo no site de graça para qualquer usuário que acesse.

Se o objetivo é o cara não gozar durante esses três minutos, qual é a estratégia de vocês para segurá-lo?

Deixamos apenas as preliminares no vídeo, chamamos esses três minutos grátis de trailerzinho. A ideia é instigar a pessoa a querer ver mais do filme.

“Agora é o estilo Panicat que faz sucesso. O padrão mudou”

Por que você acha que está na empresa há 13 anos?

Eu nunca gostei de pornô, quando cheguei aqui não tinha ideia do que era a Brasileirinhas. Antes da entrevista, fui na locadora mais próxima de casa para entender o que era a empresa. Em todos esses anos aqui, vi muita gente passar. Quando o cara é mais velho, ele sabe lidar melhor, mas os novos são complicados, principalmente até os 25 anos, porque é uma exposição absurda à pornografia. São 8h por dia. Homens não processam bem isso. Muitos tinham que parar o trabalho e ir ao banheiro se masturbar diversas vezes em um dia.

O seu sucesso na empresa deve-se ao fato de você não gostar de pornô?

É que eu não tenho o hábito de assistir aos filmes pornô. Algumas coisas acho bacana, porque tem mais o viés de cinema mesmo. Trato como trabalho, sou meio racional e não emocional. É errado pensar só com o coração, aqui tem que vir com a cabeça. Exemplo disso é você gostar de pornô, mas saber diferenciar o que o mercado gosta e seguir essa linha.

O que você acha que o mercado quer do pornô atualmente?

O mercado fala uma coisa, mas é outra. Todo mundo diz que quer ver filmes amadores, mas os que temos não deram em nada, quase não têm acesso. Os caras ainda gostam do pornô das antigas, só que o que mudou é o padrão da mulher na tela. Antes, a preferência era uma mulher com o biótipo normal e, agora, é o estilo Panicat que faz sucesso. O padrão mudou.

Vocês têm planos de assinatura para o Brasileirinhas online?

Atualmente, temos 54 sites pornôs. É muito site. Neles, disponibilizamos vídeos para todos, seja para gay, hétero lésbica, gordas. Tudo que vocês imaginarem nós temos. Mas os principais são o site Brasileirinhas e a Casa das Brasileirinhas, que é um reality show — estilo Big Brother Brasil. Tudo isso é pago, R$ 29,90 por mês para assinar. A galera paga.

Qual é o número de assinaturas que o reality tem e a que ela dá direito?

Na Brasileirinhas, que temos 20 mil assinantes, a assinatura dá direito ao acervo completo de vídeos da empresa que existe desde 1998. Todos os nossos vídeos já estão disponíveis online. O assinante pode assistir o que quiser o quanto quiser, é ilimitado. Já o da Casa das Brasileirinhas, o nosso número de assinaturas é menor, 14 mil — muito por causa do concurso de poder gravar uma cena de filme de verdade.

Como funciona esse concurso?

Toda semana levamos um assinante, por meio de sorteio, para visitar a Casa das Brasileirinhas com o direito de participar de uma gravação com alguma atriz confinada lá. Isso é o sonho dos caras. Eles se tornam ator pornô por um dia. A Casa das Brasileirinhas é um reality show que pode ser acompanhado 24 horas por dia online, inclusive o dia da gravação com o assinante. Como a transmissão é ao vivo muitos deles brocham, enquanto os que assistem comentam sem dó, até torcem para isso acontecer.

“A galera prefere ver no celular”

Quais são as métricas mais recentes da Brasileirinhas?

Estava vendo os números e 70% do nosso acesso é via dispositivos móveis. A galera prefere ver no celular. Isso é notável quando vemos que os picos de acesso acontecem das 12h às 14h da tarde e das 17h às 18h. É no horário de trabalho mesmo.

Para o mobile, como é a acessibilidade e usabilidade do site da Brasileirinhas?

Por ora, o acesso é feito por meio do site mesmo, mas não dá para baixar os vídeos, existem casos que sim. Mas todos os nossos sites são feitos para os usuários acessarem via mobile. Hoje em dia, temos mais programadores como funcionários do que atores pornô.

Vocês pensam em plataformas na hora de produzir conteúdo?

Hoje estamos dedicados ao smartphone. Por isso, está em desenvolvimento o app das Brasileirinhas, que não ficará disponível nas lojas dos dispositivos móveis para instalação por causa do conteúdo. Pensamos em outro jeito do usuário baixar a nossa plataforma. Acreditamos que o lançamento disso deva acontecer até o final de 2015. Porém, a parte mais difícil do app é o ícone. Ainda não achamos um jeito de colocar o logo da empresa no aplicativo.

A realidade virtual será a próxima tendência do pornô?

O problema será o investimento dessa tecnologia, para filmar legal o cara precisará de no mínimo oito câmeras com resolução 4K, só aí, em média, são 250 mil dólares de equipamento. Não tem condição. Uma câmera 4K já é bem cara. Acho que isso vai demorar ainda. E, por ora, o Oculus ainda nem saiu. Antigamente, pensávamos no Google Glass, mas isso nem foi para frente. Por isso, agora a gente deixa a coisa fluir antes de colocar no mercado. Uma vez eu achei que blu-ray seria uma tendência, mas não rolou e tenho isso parado até hoje.

Hoje em dia, só acredito que as coisas de tecnologia darão certo se estiverem envolvidas com games. Tudo que a Microsoft e a Sony põem a mão vira, ou as plataformas de on demand, como o Netflix. Mas isso ainda levará um tempo, no mínimo uns dois anos.

Por que você acha que ainda rola muito tabu em cima do pornô?

Tabu é hipocrisia, porque pornô e sertanejo são duas coisas que os caras têm armazenado. Mas ninguém assume. Na minha visão, isso acontece por uma questão cultural, bem retrógrado. Já vejo que isso está mudando. Sasha Grey é exemplo disso.

Mas como as pessoas chegaram ao seu usuário no Twitter?

Eu não era o Fabão pornô antes. Lá em 2009, eu era o Fábio Dias com 200 seguidores. Só que depois da venda das Brasileirinhas, em 2011, eles propuseram que eu fosse a cara da empresa nas redes sociais, porque redes sociais de empresas podem ser bem chatas. A ideia foi porque todos têm filha mulher ou são casados e, na época, eu não preenchia nenhum desses quesitos. Se um dia eu sair da Brasileirinhas eu dou o usuário para eles manterem a base de seguidores.

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