Taty em seu ambiente de gravação. Foto: Divulgação

Acidez Feminina

O Tabuleiro
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6 min readNov 4, 2015

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por Bruna Mesquita e Gabriela Navalon

Com um cenário que mistura delicadeza e peças antigas, o linguajar desbocado dá um contraste — e ao mesmo tempo faz jus ao nome do vlog — marcante. “Acidez Feminina” é o canal com mais de 850 mil inscritos comandado pela mineira de 28 anos, Taty Ferreira.

No YouTube, os vídeos têm uma linguagem direta e com um toque malcriado e essa é uma das características principais que levou ao sucesso de mais de 92 milhões de visualizações no canal de Taty que está online desde 2010.

Essa estratégia de abordar temas polêmicos sem papas na língua começou, em 2009, quando ela foi convidada a escrever uma coluna para o blog de conteúdo masculino Testosterona. “A ideia era falar sobre o universo feminino como se eu estivesse em um bar com os amigos”, conta ela.

De cara, Taty explica que sua coluna não era direcionada ao público feminino, mas com o tempo, o acesso das mulheres no Testosterona aumentou e, assim, o espaço do Acidez Feminina também. “Eu comecei escrevendo num blog direcionado ao público masculino, o fato das mulheres terem gostado do conteúdo foi pura sorte”, diz.

A partir disso, Taty e a equipe do Testosterona viram uma oportunidade de crescimento da coluna do Acidez Feminina para ser um blog próprio, mas que mantivesse a parceria. “Foi só uma estratégia para aumentar o público e disseminar mais ainda o conteúdo”, afirma Taty.

“Agora, trabalho quatro vezes mais do que antes, porque cuido do meu negócio e não tenho um salário fixo”

Depois de um ano de Acidez Feminina, os vídeos de desconhecidos ganhavam espaço entre os usuários brasileiros. Mais uma vez, a oportunidade bateu à porta de Taty, que decidiu ampliar o seu trabalho para o formato de vlog. “Na época, nomes como PC Siqueira e Felipe Neto surgiam na internet, daí tivemos a ideia de fazer vídeos semanais no formato dos meus textos, ou seja, eu passei a sentar de frente a uma câmera e apenas falar aquilo que escreveria”, explica ela.

Com o aumento do seu trabalho online, a mineira decidiu abandonar o curso de Psicologia que fazia e focar nos canais digitais, blog e canal no YouTube. “Agora, trabalho quatro vezes mais do que antes, porque cuido do meu negócio e não tenho um salário fixo”, afirma Taty.

O canal seguiu a estrutura editorial do blog. Ou seja, vídeos sobre temas relacionados a comportamento e relacionamento, mas de forma aberta sem rodeios ou tabus. A proposta é esculachar assuntos que a sociedade tem receio de conversar abertamente. Em média, no YouTube, os vídeos de Taty têm mais de 100 mil visualizações e a parcela maior vem de dispositivos móveis. Seus telespectadores são 70% de 18 a 35 anos. Mas, ainda que tenha agradado as mulheres, 54% do seu público são homens.

Aquela ideia de papo de bar — sem petiscos ou cerveja — é a fonte de renda mensal da Taty nos últimos quatro anos. A vlogger ressalta que para ser empreendedora digital não basta apenas ter uma câmera e aparecer na frente dela. “Procurei melhorar a qualidade do canal, investi grana, tempo e paciência para isso, procurei me profissionalizar”.

Mas, como tudo na vida tem o seu lado bom, ela destaca algumas oportunidades que graças ao canal pôde ter acesso. “Sou reconhecida nas ruas, frequento alguns lugares que jamais iria frequentar se não fosse o Acidez, conheci lugares e tive experiências esplêndidas, virei escritora por causa do conteúdo que produzo e conheci pessoas maravilhosas”, afirma. Com a visibilidade online, Taty decidiu escrever o livro Manual da Mulher Bem Resolvida. O lançamento do livro permitiu que a mineira visitasse muitas cidades no Brasil e também lançasse uma linha de camisetas — que são vendidas online.

Para ela, hoje, muitas pessoas buscam conteúdo em blogs, canais de vídeos e páginas no Facebook por trazer uma opinião, ser informal e também ser direcionada ao público-alvo. “Meus vídeos têm o meu jeitinho, muitas gírias Até porque a graça disso é ser espontâneo mesmo”, explica. Apesar disso, Taty não se atenta tanto à passar um mensagem ao seu público, mesmo tendo um foco ao falar. “ Quero que todos saibam que todo mundo pode ter uma opinião, todos podem ser autênticos e a única pessoa que pode controlar e fazer sua vida melhor é você mesmo. Ou seja, menos vitimismo e mais atitude é o que eu tento demonstrar. Mas não necessariamente eu tento passar qualquer tipo de mensagem”, explica. E mesmo falando sobre um tema que é relativamente um tabu, Taty não está tão certa quanto a essa caracterização.

Para a vlogger, falar sobre sexo sempre foi normal e natural. A vergonha nunca fez parte da personalidade dela, já que sempre teve liberdade para falar sobre, tanto com amigos quanto com outras pessoas e, por isso, é difícil analisar como o tema é discutido em meio a sociedade. “Sem falar que depois que comecei a falar sobre sexo na internet as pessoas já chegam falando comigo sobre o assunto como se estivessem falando sobre chocolate. Então, pela minha experiência pessoal acredito que as pessoas não têm tanta dificuldade assim para falar de sexo.

“Meus vídeos têm o meu jeitinho, muitas gírias. Até porque a graça disso é ser espontâneo mesmo”, diz Taty Ferreira. Foto: Divulgação

Mas ao mesmo tempo, os números me mostram que as pessoas estão interessadíssimas em ver outra falando de sexo, dai eu fico com a incógnita: Será que isso se dá pois elas tem dificuldade de conversar sobre ou simplesmente porque a intimidade do outro é algo que gera curiosidade?”, questiona-se Taty.

O intuito do canal não é mudar as pessoas, já que sua importância sempre foi o gosto da mineira, que se apaixonou pelo que faz. Ela não acredita que possa mudar alguém com seu trabalho, mas fica feliz quando alguém é influenciado de maneira positiva pelo que ela fala. “Afinal, quem não gosta de despertar coisas boas nas pessoas? Mas ainda assim acredito que aquilo que a pessoa diz ter melhorado é algo que já estava adormecido nela e eu só dei a sorte de dizer algo na hora certa. Eu não fiz e ainda não faço o conteúdo com a intenção de ficar famosa ou ganhar dinheiro, faço porque é algo que gosto de fazer.”

A curiosidade das pessoas sempre fez com que os vídeos de Taty bombassem no mundo digital. Por exemplo, o vídeo de lançamento do Acidez que conta com mais de 8 milhões de visualizações. “Não sei como o povo ainda consegue assistir aquele vídeo”, brinca.

Nos primórdios da mídia televisiva, a ideia era aproximar o público de conteúdos variados. No entanto, talvez, o profissionalismo e muitas vezes a forma quadrada de apresentar os temas fizeram com que os vídeos no YouTube ganhassem tanta força no país. Hoje, na plataforma, os brasileiros estão em segundo lugar de visualizações no mundo. Tanto que esse meio online cresceu 57% nos últimos três anos, segundo dados da Cisco. Assim, o jeito desbocado e brincalhão de Taty são fundamentais por criarem um relacionamento com o público.

Com esse entendimento, a vlogger desenvolveu uma sessão dedicada aos comentários das pessoas online em diversas redes sociais. “Eu tenho uma sessão de vídeos onde leio e comentou emails que os views/leitores enviam. Eu tento responder todo inbox, snapchat e os primeiros comentários de cada vídeo. Isso faz com que eu leia muito sobre eles e assim, naturalmente, eles me dão ideias de temas. Claro que filtro bastante as coisas, por experiências pessoais e observações que eu fiz ao longo da vida”.

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