Como a variação dos formatos influenciou a linguagem e a indústria do audiovisual

Cerri Filmes
La Scena
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4 min readApr 5, 2016

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4:3, 13:7, 16:9… Geralmente associados a vídeos e filmes, esses números possuem uma explicação bem mais simples do que aparentam — eles representam a proporção de uma tela. Isto é, a razão existente entre a largura e a altura da imagem.

Thomas Edison padronizou o formato e ganhou muita grana

Embora não existam enquanto padrão em outras artes imagéticas, como desenho, gravura e pintura, por exemplo, as proporções de imagem (ou aspect ratio, como são chamados) estão intimamente associados a evolução da linguagem audiovisual.

Uma história que começa no final do século retrasado nos laboratórios de Thomas Edison e vem se desenvolvendo até os dias de hoje, sem previsão de fim.

Janela clássica (4:3 ou 1,33)

Até hoje não se sabe porque o primeiro formato consagrado foi o 4:3. Mas, pelo menos, sabemos quem foi seu pai — William Kennedy Dickson. Trabalhando para Thomas Edison, que desejava usar o filme flexível desenvolvido por Eastman Kodak no cinetoscópio (precursor do projetor), Dickson cravou a altura da imagem em quatro perfurações em filmes de 35mm.

Pocotó, pocotó

E assim ficou. Em 1909, a Motion Picture Patent Company declarou que esse formato (35mm, 4:3) era o padrão a ser seguido por todos os filmes produzidos e exibidos nos Estados Unidos.

No final da década de 1920, com a chegada do cinema falado, o fotograma foi levemente redimensionado para acomodar a trilha sonora em sua extremidade e isso fez com que a proporção passasse de 1,33 para 1,37, uma mínima alteração que não provocou maiores mudanças.

O formato 4:3 reinou por muito tempo sozinho

Além de ser usada em todo cinema até a década de 1950, esse padrão foi utilizado ainda na televisão tradicional e na maioria das telas de computador.

Janela panorâmica (7:3 ou 2,35)

A televisão chegou com tudo na década de 1950. E colocou de pé os cabelos dos executivos de Hollywood, que viam no aparelho, (cada vez mais) onipresente nos lares norte-americanos, uma forte ameaça ao reino da sétima arte.

Afinal, quem possuía uma televisão em casa assistia à sua incipiente programação no mesmo formato do cinema, o 4:3. Por isso, a saída encontrada foi expandir a proporção da tela. E eles exageraram.

Todos os estúdios usavam o formato Cinemascope, inclusive a Disney

O CinemaScope foi então desenvolvido (e patenteado) pela Panavision, seguido logo depois por concorrentes como Todd-AO, VistaVision, Cinerama, entre outros.

Olha o tamanho da câmera

Porém, o processo era caro, complicado e ainda exigia um equipamento próprio para produzir e exibir os filmes. O CinemaScope durou de 1953 a 1967, mas deixou como principal legado para o mundo audiovisual: o formato widescreeen.

Janelas americana e europeia (13:7 ou 1,85 e 5:3 ou 1,66)

Na década de 1960, os produtores norte-americanos e europeus chegaram a dois padrões que perduram até hoje. Nos Estados Unidos, foi adotado o formato 13:7, conhecido como “janela americana” e utilizado na maioria das grandes produções hollywodianas. Por sua vez, o Velho Continente elegeu o formato 5:3 como padrão, reconhecido como “janela europeia”.

François Truffaut em ação

Televisão de alta definição (16:9 ou 1,77)

As televisões de alta definição, padrão HDTV, utilizam desde a década de 1980 a proporção 16:9, que passou, com a evolução tecnológica e o aumento do consumo de vídeos via internet, a ser utilizada em monitores de computador.

Mas qual o formato vai ser padrão?

Talvez nunca tenhamos apenas um padrão e sim padrões. Recentemente tivemos um resgate do Cinemascope por grandes diretores de Hollywood,seduzidos pela estética que este formato proporciona. Na outra ponta, a tecnologia e a linguagem correm sempre atrás da diferenciação, haja visto a quantidade de experiências visuais que simulam o mais novo formato: o de filmar na vertical simulando a captação via smartphone. Ou seja, tudo agora depende da criatividade. E a tecnologia vai atrás.

Agora vamos recapitular tudo isso em apenas um vídeo? Dê o play, sem delay.

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