Fabiana Araújo: “a mulher tem um histórico de silenciamento na literatura”

Nathalia Marques
Lado M
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4 min readApr 9, 2019
Fabiana Araújo, autora do livro O Vazio dos teus Olhos

George Eliot e George Sand possuem, além do nome, algo em comum. São mulheres que, no século 19, usavam pseudônimos masculinos em suas obras, para que seus trabalhos tivessem credibilidade e conseguissem notória divulgação.

Já não estamos mais no século 19, é verdade, mas casos como esse também podem ser encontrados em nossa época. J.K. Rowling, autora da saga de Harry Potter, por exemplo, usou a abreviação de seu nome a pedido do seu editor para que “seus livros fossem lidos por meninos”.

A literatura desenvolvida por mulheres sempre encontrou barreiras. É por isso que Fabiana Araújo, autora do livro O Vazio dos teus Olhos, destacou que “a mulher tem um histórico de silenciamento na literatura”.

Seja na produção, na publicação ou na aceitação do público, mulheres escritoras tiveram que resistir para ocupar esse espaço e serem lidas. Do século 19 até os dias atuais, a realidade mudou, mas as dificuldades permanecem.

Felizmente, algumas iniciativas, como Leia Mulheres e Mulheres que Escrevem, surgem tanto para promover escritoras quanto para fomentar o debate sobre igualdade de gênero na literatura.

Além disso, o avanço das redes também é um fator que vem proporcionando mais notoriedade para elas. “Acredito que com as redes sociais, muitas escritoras conseguiram ganhar espaço e visibilidade”, explica Fabiana.

Afinal, quais são as barreiras que elas ainda enfrentam? Quais são as histórias de vidas dessas mulheres? Certamente, é difícil falar por todas, mas decidimos conversar com a escritora Fabiana para entender um pouco mais sobre o cenário.

A vida de uma escritora

Fabiana Araújo escreve desde criança, mas infelizmente não dedicou sua vida exclusivamente a sua paixão. Ela começou a trabalhar desde muito cedo, com 17 anos. “Fiz de tudo um pouco: atendente de padaria, caixa, recepcionista, garçonete”, explica.

Aos 23, entrou na universidade e se formou em Letras, pela Universidade Estadual da Paraíba. “Atuei como professora de língua portuguesa durante 3 anos na escola pública e também particular. Hoje, aos 33, com um livro publicado e com o projeto de publicar mais dois livros (outro de poemas e um de crônica), trabalho no administrativo na Universidade na qual me formei”.

Confira a entrevista com a escritora

Trecho do livro “O Vazio dos teus olhos”

Lado MO Vazio dos teus Olhos conta com poesias que, muitas vezes, nos proporciona uma identificação. O processo de produção do livro teve este objetivo ou foi algo natural?

Fabiana Araújo — Foi algo natural, mas que é extremamente comum acontecer quando produzimos literatura. Um escritor não escreve para si, mas para o outro; e sempre haverá um leitor que irá se identificar.

Lado M — Você poderia contar como foi o processo de produção desde a ideia até a publicação do livro?

Fabiana Araújo — Eu escrevo desde criança e como toda pessoa que gosta de escrever, desejava ser publicada. Nem sempre guardava o que eu produzia, mas em 2014 comecei a perceber que os poemas que eu escrevia tinham um estilo e decidi organizá-los para um livro.

Na época, pensei em outro título e muitos dos poemas que organizei foram substituídos até tudo se transformar em “o vazio dos teus olhos”. Em 2018, já com o título modificado e 39 poemas selecionados, eu enviei a proposta para a Desconcertos Editora, que havia feito uma chamada para novos autores. Em poucos dias recebi uma resposta da Editora dizendo que gostariam de publicar meu livro e em agosto tive meu desejo realizado.

Lado M — Fabi, você é praticamente uma escritora independente. Como você analisa este cenário para as mulheres?

Fabiana Araújo — Eu acredito que com as redes sociais, muitas escritoras conseguiram ganhar espaço e visibilidade. Foi, inclusive, utilizando dessas ferramentas, que eu consegui interagir com leitores e leitoras e entender que eu tinha potencial como escritora. Além de também ter tomado conhecimento do trabalho de poetas que eu valorizo muito o trabalho, como a Mel Duarte.

Lado M — Muitas mulheres gostam de escrever, mas se sentem inibidas a fazer isso. Você acha que isso tem alguma relação com o fato delas ainda serem muito silenciadas na sociedade?

Fabiana Araújo Acredito que sim. Infelizmente, a mulher tem um histórico de silenciamento na literatura. Também falta representatividade. Atualmente, por exemplo, dos 39 acadêmicos da Academia Brasileira de Letras, há apenas 5 mulheres; nenhuma negra.

Lado M — Qual conselho você daria para uma mulher que quer publicar um livro?

Fabiana Araújo — Primeiro, é importante entender que escrever não é um dom, é uma prática. Desenvolver um estilo e um propósito também é relevante. A autora precisa saber o que ela quer dizer. Com tudo isso em mente, escrever, escrever, escrever e organizar os textos para, então, começar a enviar a proposta para as editoras; o que pode ser feito por e-mail. E, há também a possibilidade de publicação independente. Muitas mulheres têm feito isso.

Curtiu o papo com a Fabiana e quer saber mais sobre O Vazio dos teus Olhos? Leia a resenha do livro.

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Nathalia Marques
Lado M
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Jornalista que viaja, literalmente e metaforicamente, e escreve sobre as coisas