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15 livros que li no segundo semestre de 2023 que podem te interessar

Leonardo Fuita
Escrevendo a vida
Published in
11 min readJan 2, 2024

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Continuamos com o post sobre os livros que li em 2023, agora do segundo semestre de 2023. A ordem é basicamente a ordem de leitura que eu tive no ano, da mesma maneira que no post de julho. Caso não tenha visto o primeiro post, é só clicar aqui.

23. Os Robôs da Alvorada 3 (Série dos Robôs) — Isaac Asimov / Nota: 9

O detetive Elijah Baley é novamente convocado para uma investigação em um Mundo Exterior. Com ajuda de seu parceiro e amigo R. Daneel Olivaw, Baley terá de solucionar um crime bastante peculiar: um caso de roboticídio que coloca em xeque a reputação de um importante estudioso de Aurora, um planeta onde robôs e humanos convivem em harmonia. Desta vez, o detetive está prestes a enfrentar conflitos ainda mais complexos que influenciarão não só sua própria segurança, mas também o futuro da humanidade.

Admito que o final desse livro me incomodou mais do que eu achava. É uma clara referência à Fundação, agora ligando de verdade os dois universos, mas acho que a história de investigação poderia ter sido melhor aproveitada sem ela. Mas ainda é um livraço que nos prende do início ao fim e tudo isso sem utilizar ação em momento algum, só com diálogos.

24. Robôs e Império (Série dos robôs Livro 4) — Isaac Asimov / Nota: 7

Duzentos anos se passaram desde a investigação reveladora conduzida por Elijah Baley em Aurora. A humanidade evoluiu muito a partir então, e, para desgosto dos Siderais, o plano delineado por Baley finalmente começa a dar certo. Mas o universo se encontra em um impasse, enquanto cientistas poderosos e vingativos ameaçam destruir a Terra e tudo o que ela representa.

Se no final do livro anterior eu fique incomodado, nesse eu acho que esse incômodo se provou correto. Apesar de ainda gostar de todo o mundo e as questões que ele cria, a maneira como utiliza de Giskard é meio preguiçosa. Servindo como deus-ex-machina em muitos momentos, mesmo quando ele coloca limites nos poderes dele, que são retirados quando é necessário. Entendo que é uma maneira de ligar com Fundação, mas acho que justamente por isso tornou esse último livro o pior dos 4, esquecendo o que era interessante na história e focando em lore que eu não achava nem um pouco necessário para essa narrativa.

25. Marx: Uma introdução — Jorge Grespan / Nota: 10

O que distingue esta obra de outras introduções concisas é a reconstrução do encadeamento lógico dos conceitos utilizados por Marx, que reverbera décadas de estudo filológico realizado por Grespan, desta vez numa linguagem acessível ao público não especializado. Das oposições que permitem a análise da forma mercantil simples até o caráter contraditório do capitalismo enquanto sistema social, Marx: uma introdução abrange o essencial do pensamento desenvolvido pelo pensador alemão, ajudando tanto leitores novos quanto os experientes a compreender melhor sua potência científica e revolucionária.

Esse livro é realmente incrível. Torna determinados conceitos complexos em algo muito mais palatável, mas sem reduzí-los demais. Uma ótima introdução ao pensamento de Marx, principalmente para pessoas como eu que começaram a ler sobre o assunto agora.

26. Realismo Capitalista: É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo? — Mark Fisher / Nota: 10

Após 1989, o capitalismo se apresentou com sucesso como o único sistema político-econômico aparentemente viável no mundo — uma situação que só começou a ser questionada para fora dos círculos mais duros da esquerda a partir da crise de 2008, quando começa-se a entender a urgência de se desmontar a ideia de que “não existe alternativa”. Usando exemplos de política, filmes, ficção, trabalho e educação, o autor argumenta que o “realismo capitalista” captura todas as áreas da experiência contemporânea. Mas também mostra que, devido a uma série de inconsistências e falhas internas ao programa de realidade do Capital, o capitalismo é, de fato, tudo — menos realista.

É incrível como os pensadores marxistas conseguem analisar a realidade. Saindo do senso comum e indo para pontos que todos nós sabemos que existem mas que dificilmente nos são mostrados em alto e bom tom. Acho que é um dos conceitos mais fáceis de vermos a nossa volta e acredito que explique boa parte da nossa inoperância em mudar a realidade que estamos. Porque afinal, é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo.

27. A (honesta) verdade sobre a desonestidade: Como mentimos para todo mundo, especialmente para nós mesmos — Dan Ariely / Nota: 8

O economista comportamental Dan Ariely explora de que forma o desvio de conduta ocorre nos âmbitos pessoal, profissional e político, e como isso afeta até mesmo aqueles que todos acreditam ter os mais elevados padrões morais. Em geral acreditamos que o ato de trapacear é baseado em análises racionais de custo-benefício. Porém, o autor revela que são as forças irracionais, que não levamos em conta, que frequentemente determinam nosso comportamento.

Eu gosto dos livros do Dan. Explicam coisas que parecem óbvias mas que nós só achamos isso depois que descobrimos como funcionam de verdade. Também sendo uma maneira de explicar nossos comportamentos utilizando a ciência como norte. Desmontando uma série de sensos comuns que não fazem o menor sentido quando analisados, mas que muita gente ainda repete por aí.

28. Aporofobia, a aversão ao pobre: Um desafio para a democracia — Adela Cortina / Nota: 8

Segunda a autora, aqueles que produzem verdadeira fobia são os pobres. Os estrangeiros com dinheiro não produzem rejeição. Ao contrário, espera-se que tragam recursos e são recebidos com entusiasmo. Aqueles que inspiram desprezo são os pobres, aqueles que parecem não poder oferecer nada de bom, sejam eles migrantes ou refugiados políticos. E, no entanto, não há nome para essa realidade social inegável. Diante de tal situação, Adela Cortina procurou no léxico grego a palavra “aporos”, que significa pobre, e cunhou o termo “”aporofobia”

Esse um conceito que, na verdade, todo mundo sabe que existe e provavelmente já teve esse tipo de atitude. Só não tinha um nome e é bom quando temos algo que define para buscar soluções. Acho que utiliza de conceitos legais para a solução mas acho que esquece um dos motivos pelo quais muitos desses problemas acontecem: a geopolítica mundial que faz com que os imigrantes precisem sair de seus países em busca uma nova vida.

29. Racionalidade: O que é, por que parece estar em falta, por que é importante — Steven Pinker / Nota: 5

A humanidade vem alcançando novos patamares de compreensão científica — mas, ao mesmo tempo, também parece estar enlouquecendo. Como é possível que a mesma espécie que em menos de um ano desenvolveu vacinas contra a covid-19 produza tantas notícias falsas, charlatanismo médico e teorias da conspiração?

Hoje entendo porque tanta gente não gosta do Pinker. Nesse livro ele simplifica o mundo a contas que ignoram variáveis e simplesmente deixa pra lá as questões políticas. Tentando provar um ponto que não é verdade, sobre sermos racionais antes de qualquer coisa, mas ignorando as novas pesquisas que mostram nossos vieses e nos indicam como somos algo muito mais complexo e dialético que isso.

30. Limites da Fundação — Isaac Asimov / Nota: 8

Quase quinhentos anos se passaram desde as predições de Hari Seldon. Ao longo dos séculos, a Primeira Fundação se tornou uma potência e ninguém questiona a ascensão de um novo Império. Ninguém, exceto o conselheiro Golan Trevize, que se vê obrigado a deixar Terminus para provar que tudo não passou de uma farsa e que, secretamente, a Segunda Fundação ainda controla o destino dos homens. Mas essa jornada levará Trevize e seu companheiro de viagem, o historiador Janov Pelorat, mais longe do que poderiam imaginar: chegando ao berço da humanidade ao seguir os rastros de um mundo quase esquecido.

O que eu mais gosto do Asimov é como ele consegue criar tensão em conflitos usando somente diálogos. Não precisando de uma luta ou uma arma disparada para conseguir criar esses embates interessantíssimos. Gosto de como ele começa a unir quase tudo que escreveu nesse livro, e que provavelmente termina no próximo, mas usando os conceitos dos mentálicos de maneira muito mais inteligente e menos forçada do que no último livro da Série dos Robôs, por exemplo.

31. Fundação e Terra — Isaac Asimov / Nota: 5

Golan Trevize, ex-conselheiro banido da Primeira Fundação, chega a Gaia, um planeta vivo onde todos os seres compartilham a mesma consciência. E se vê diante de um dilema: decidir se essa mente coletiva é, de fato, o melhor destino para uma humanidade cheia de conflitos. Determinado a garantir que sua escolha é a correta, Trevize parte com Janov Pelorat e a intrigante Júbilo em busca do mítico planeta Terra, cuja existência foi apagada dos registros galácticos. Mas nada poderia prepará-los para os segredos desse mundo ancestral — verdades que antecedem a história como eles a conheciam, e que mudarão seu significado para sempre.

Esse livro serve só para fazer uma ligação de Fundação com a Série dos Robôs. É o que eu menos gosto. Demorei muito para terminar e isso se justifica pelo uso indiscriminado dos poderes mentálicos de jeitos que não tem limitações. O que prejudica o sentimento de urgência em várias das situações de perigo. Além de uma conclusão que versa sobre destino que é uma das coisas que eu acho mais preguiçosas em qualquer tipo de história. Uma pena.

32. O lucro ou as pessoas?: Neoliberalismo e ordem global — Noam Chomsky / Nota: 8

Chomsky revela as razões pelas quais o neoliberalismo não pode ser considerado uma novidade. Trata-se de uma versão moderna da opressão dos happy few sobre a grande maioria da sociedade, que tem os seus direitos civis e políticos esmagados. A ordem neoliberal gerou imensas crises políticas e econômicas. As consequências dessa política serão o aumento maciço das desigualdades socioeconômicas, uma maior privação dos povos mais pobres em todo o mundo, um crescimento de desastres ecológicos, uma instabilidade econômica e uma abastança sem precedentes para os poderosos.

O bom de ler um livro que fala sobre política e economia que saiu a 12 anos atrás é ver como ele envelheceu. Esse é um daqueles que é bem atual, ao falar sobre como as empresas privadas e o neoliberalismo não são o que se vende, e que no final não fazem nada mais do que destruir indústrias em países que não tem poder e empoderar as suas próprias empresas dentro desses locais.

33. O Estado empreendedor: Desmascarando o mito do setor público vs. setor privado — Mariana Mazzucato / Nota: 10

Uma invenção com impacto enorme na vida de milhões de pessoas, o iPhone costuma ser visto como fruto da mente de Steve Jobs e da Apple. Muitas das tecnologias do aparelho, porém, são resultado de pesquisas financiadas pelo Estado, como a tela touchscreen e o assistente virtual acionado por voz. Essa é uma das revelações do livro e ilustra bem o tema discutido: apesar de ser percebido como lento, burocrático e pouco ousado, o Estado teve e continua tendo papel fundamental e estratégico no desenvolvimento de grandes avanços tecnológicos.

Isso aqui é um tapa na cara de qualquer pessoa que fala sobre o Estado ser um entrave para o desenvolvimento tecnológico. Mostrando uma série de exemplos reais, ele esclarece como o mundo que vivemos hoje é resultado direto de investimentos do Estado em momentos onde o capital de risco e a iniciativa privada não querem entrar, por não ter retornos garantidos. Além de mostrar como muito do que é socialmente produzido, termina como lucro de poucas empresas privadas e que nunca retornam o que entendemos como justo para a sociedade como um todo.

34. O que fazer? Questões candentes de nosso movimento — Vladímir Ilitch Lênin / Nota: 9

Obra seminal da teoria política de Lênin é considerado por muitos o escrito fundador da política comunista contemporânea. Além de traçar as linhas gerais do que mais tarde seria conhecido como o “partido leninista”, o texto reflete sobre as condições objetivas e subjetivas da política na Rússia tzarista da época, indicando o caminho organizativo e a natureza das ações necessárias ao desenvolvimento da revolução.

O que eu acho mais incrível desses textos é como a porrada comia solta entre os membros de cada publicação e dos partidos. Sem nenhum pudor e fazendo críticas, muitas vezes pessoais até, mas que tinham sempre como o objetivo chegar à revolução. Muito interessante ver como progredia o raciocínio ao mesmo tempo que conhecemos vários conceitos importantes que veríamos na União Soviética posteriormente.

35. A sutil arte de ligar o f*da-se: Uma estratégia inusitada para uma vida melhor — Mark Manson / Nota: 8

Coaching, autoajuda, desenvolvimento pessoal, mentalização positiva — sem querer desprezar o valor disso, a grande verdade é que nos sentimos quase sufocados diante da pressão por parecermos otimistas o tempo todo. É um pecado social se deixar abater quando as coisas não vão bem. Ninguém pode fracassar sem aprender nada com isso. Não dá mais. É insuportável. E é aí que entra a revolucionária e sutil arte de ligar o foda-se.

Eu achei que esse livro seria mais auto-ajuda barata do que realmente foi. Gostei da maneira que ele trata determinados assuntos, utilizando de sua experiência pessoal para dar dicas de como lidar com os problemas que temos na nossa vida. Ainda tem o problema de, de vez em quando, individualizar problemas coletivos, porém não faz isso tanto quanto o padrão desse tipo de leitura. Uma surpresa.

36. Bons hábitos, maus hábitos: Um método científico para promover mudanças positivas e duradouras — Wendy Wood / Nota: 10

Wendy explica que 43% das nossas ações não são escolhas conscientes. Fazemos automaticamente, por hábito. É assim que respondemos às pessoas ao nosso redor, decidimos o que comprar, quando nos exercitar, comer ou beber. Mas sempre que queremos melhorar algo em nós mesmos, contamos com a força de vontade. Insistimos em recorrer ao nosso consciente, na esperança de que a determinação seja capaz de promover mudanças positivas. Por isso é que falhamos tantas vezes.

Já li uma série de livros sobre hábitos e acho que já está bem pacificado o que funciona de verdade e o que é pataquada pra vender livro. Esse é mais um desses que usa da ciência mais moderna para nos indicar o que podemos fazer para termos melhores hábitos durante a nossa vida. Um ótimo guia e bem fácil de ler para quem quer entender como a nossa cabeça funciona de verdade.

37. Holocausto Brasileiro — Daniela Arbex / Nota: 10

No Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, conhecido apenas por Colônia, ocorreu uma das maiores barbáries da história do Brasil. O centro recebia além de pacientes com diagnóstico de doença mental, homossexuais, prostitutas, epiléticos, mães solteiras, meninas problemáticas e todo tipo de gente considerada fora dos padrões sociais. Essas pessoas foram mortas com o consentimento do Estado, médicos, funcionários e sociedade. Apesar das denúncias mais de 60 mil internos morreram e um número incontável de vidas foi marcado de maneira irreversível.

Dificilmente eu fico incomodado lendo algo. Mas é impossível você não ter essa sensação ao ver como as pessoas eram tratadas nesses ‘hospitais’ psiquiátricos. Um relato horrível e que, sinceramente, todos deveriam ler. Mostrando como esse tipo de local pode ir rapidamente de um local de cura para o causador de traumas e de mortes, como aconteceu com o Colônia.

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