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22 livros que li no primeiro semestre de 2023 e que podem te interessar

Leonardo Fuita
Escrevendo a vida
Published in
15 min readJul 3, 2023

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Da mesma maneira que fiz nos últimos anos (2018.1; 2018.2; 2019.1; 2019.2; 2020.1; 2020.2; 2021.1; 2021.2; 2022.1; 2022.2), li alguns livros e decidi compartilhar minhas considerações. A ideia é fazer pequenas resenhas de todos os livros que eu li e então, talvez, tentar indicar algo interessante para todo mundo que me lê por aqui. Passando desde livros de ciência, psicologia, economia e chegando em aventura e ficção científica.

Diferentemente dos anos anteriores, vou postar um no meio do ano, em julho e outro no final, em janeiro. Como já divido normalmente, achei que faria sentido já fazer isso agora. A ordem é basicamente a ordem de leitura que eu tive no ano. Então vamos lá:

01. A Regra é Não Ter Regras: A Netflix e a Cultura da Reinvenção — Reed Hastings / Nota: 7

A partir de centenas de entrevistas com funcionários da Netflix e relatos nunca antes compartilhados, Hastings explica como seus princípios controversos fizeram da Netflix um exemplo de inovação e sucesso global. Uma obra fascinante sobre uma empresa que desafiou tradições e expectativas e dominou as premiações do cinema e da TV, além do imaginário de milhões de pessoas, uma tela por vez.

Uma das coisas que eu mais adquiri no último ano foi um olhar um pouco mais crítico para esse tipo de livro. Já que ele também é uma propaganda da própria empresa para que as pessoas queiram trabalhar lá. Por isso acho que esse modo como a Netflix funciona muito interessante, porém tem riscos ocultos e/ou que são omitidos. Dependendo muito das pessoas em posição de liderança na empresa para que realmente dê certo da maneira que dizem (o que é citado no livro).

Com toda certeza, para mim, seria um tipo de gestão que eu queria experimentar. Mas tenho claro que em muitos casos isso é só pra inglês ver e/ou tem potencial de ser muito mais problemático do que um lugar onde as regras estão bem definidas. Um bom livro mostrando uma maneira um pouco diferente de gestão, mas que tem os seus poréns.

02. Drogas: as histórias que não te contaram — Ilona Szabó de Carvalho / Nota: 10

Um retrato amplo e esclarecedor de um tema complexo e ainda tabu que precisamos mais do que nunca encarar. Cinco personagens. Nem vítimas nem algozes, nem heróis nem vilões. Cinco vidas conectadas pelo impacto da cocaína. Nesta aventura semificcional, mas repleta de casos, cenários e dados reais, encaramos o cotidiano de quem tem o rumo alterado pelas drogas.

Não tem um livro sobre drogas feito por gente que realmente foi atrás das informações que não seja bom. Nesse caso fica ainda melhor porque Ilona vai atrás de pessoas reais e conta suas histórias de maneira semificcional com uma maestria incrível. Fazendo com que entendamos os problemas relacionados a maneira como nossa política pública lida com as drogas ao mesmo tempo que nos emociona com histórias de pessoas reais. Um puta de um livro e, acredito, um pouco mais leve do que outros que recomendei sobre o assunto por causa dessa parte de relatos pessoais.

03. Factfulness: O hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos — Hans Rosling / Nota: 6

Que porcentagem da população mundial vive na pobreza? Qual é o número de crianças vacinadas no mundo hoje? Quando confrontadas com perguntas simples a respeito das tendências globais, as pessoas dão respostas incorretas. Isso acontece quando nos preocupamos com tudo o tempo todo em vez de compreendermos as coisas como realmente são. Tomando emprestado o conceito de mindfulness, os autores propõem a ideia de factfulness: o hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos.

Eu tenho alguns problemas com esse livro. Ele utiliza fatos corretos e dá ótimas dicas de como não cair em tentação com esse mundo lotado de fake news como temos hoje. Mas utiliza dos dados para ter conclusões que são altamente duvidosas, principalmente na primeira parte do livro. Algo que, se você já leu Como Mentir com Estatística, você deve ter identificado muito bem. Acho que vale a pena, mas que precisa ser lido com um pé atrás.

04. A mente assombrada — Oliver Sacks / Nota: 10

Em A mente assombrada, Sacks entrelaça histórias de seus pacientes com as próprias experiências para mostrar o que as alucinações nos dizem sobre a organização e a estrutura de nosso cérebro, como elas influenciaram a cultura, o folclore e a arte. Em suma, como o potencial para a alucinação que reside em todos nós é parte vital da condição humana.

Esse livro é muito legal por tirar bastante o estigma sobre alucinações. Mostrando que existem várias condições que fazem com que elas aconteçam, mas também são ‘normais’ para boa parte das pessoas por motivos diversos. Não sendo só algo que ‘loucos’ tem e que, na realidade, pode ser muito mais comum do que parece. Livraço que mostra como a nossa mente pode nos enganar com uma facilidade gigantesca.

05. O trono vazio — Crônicas saxônicas — vol. 8 — Bernard Cornwell / Nota: 10

As forças de Wessex e da Mércia se juntaram para combater os dinamarqueses, mas a instabilidade da união e a ameaça dos ataques dos reinos pagãos vizinhos são um perigo para a Britânia, pois Æthelred, o senhor da Mércia, está à beira da morte e não tem herdeiros, o que abre caminho para disputas pelo trono. Os saxões precisam desesperadamente de uma liderança forte, mas, em vez disso, lutam por um trono vazio, ameaçando arruinar todos os esforços para unir e fortalecer seu reino.

Nesse livro temos uma série de situações tensas que são resolvidas de maneira muito mais inteligente do que uma simples batalha. Mesmo quando eu meio que ‘já sabia’ o que iria acontecer, o autor consegue surpreender na maneira que essas coisas acontecem e deixando emocionante como todos os outros livros. Mais um puta livro dessa série, com um pouco mais de política do que das outras vezes, e mesmo assim brilhando da mesma maneira de quando tudo se resolve com batalhas emocionantes.

06. Guerreiros da tempestade — Crônicas saxônicas — vol. 9 — Bernard Cornwell / Nota: 10

Os filhos do falecido rei Alfredo, Eduardo e Æthelflaed, já dominam a maior parte do território saxão. Seus exércitos conquistam e garantem a soberania por onde passam. Uhtred de Bebbanburg comanda a guarnição do burh de Ceaster, uma poderosa fortaleza no norte da Mércia construída pelos romanos. Ragnall, o Cruel, reúne forças irlandesas e nórdicas no maior exército que jamais ameaçou o universo saxão. Porém, quem será capaz de manter Uhtred entre as paredes de um burh quando sua filha, casada com Sigtryggr, irmão e inimigo de Ragnall, é colocada em perigo?

Eu sei que estou repetitivo. Mas essa série é incrível em todos os livros. Continua nos mostrando grandes batalhas e descrições de arrepiar, ao mesmo tempo que faz com que a história da criação da Inglaterra vá avançando de pouquinho em pouquinho. Dessa vez trazendo ainda mais ótimos personagens e desenvolvendo outros que passaram como coadjuvantes nos livros antigos.

07. O portador do fogo — Crônicas saxônicas — vol. 10 — Bernard Cornwell / Nota: 10

Uhtred é o senhor de Bebbanburg e nada nem ninguém ficará no seu caminho para reconquistá-la nesse décimo volume da série Crônicas Saxônicas. A Britânia enfim encontra um momento de paz. Mas os inimigos que Uhtred fez depois de tantos anos em guerra e os juramentos que prestou, além de uma rede intrigas, o desviam temporariamente do sonho de recuperar Bebbanburg. E isso abre espaço para o surgimento de um novo inimigo, o temível Constantin da Escócia, que aproveita o cenário incerto para comandar seu exército para o sul e conquistar terras da Nortúmbria.

Agora faltam somente 3 livros. E continuamos com a excelência de Cornwell na hora de descrever não só as batalhas como o que as pessoas pensam antes e depois das mesmas. Falando como eles ficam mentalmente e passando a emoção de modo mais do que incrível. E terminando com, finalmente, o sonho do protagonista realizado mas sem que a sua história termine de verdade, já que a Inglaterra ainda não é uma só como sabemos que ficará no futuro.

08. Os Vencedores Levam Tudo: A farsa de que a elite muda o mundo — Anand Giridharadas / Nota: 8

Testemunhamos como os arquitetos de uma economia em que os vencedores levam tudo se intitulam salvadores dos pobres; como as elites recompensam generosamente os “líderes de pensamento” que significam a “mudança” de modo favorável aos vencedores; e como eles sempre procuram praticar mais o bem, mas nunca fazer menos o mal. As perguntas de Giridharadas são espinhosas: os problemas urgentes do mundo devem ser resolvidos pelas elites, e não pelas instituições públicas que elas enfraquecem ao fazer lobby e se esquivar de impostos?

É uma pena que esse livro tenha sido feito tão nas coxas para o Kindle. Fica um pouco mais chato de ler, mas isso não tira toda a qualidade que ele possui. Mostrando para nós como o ‘Mercado Global’ tenta oferecer soluções para problemas causados justamente por eles, através da filantropia. Fazendo também com que tenhamos cada vez menos confiança no meio público como solução para esses problemas e apostando ainda mais nessas pessoas que, no fundo, criaram boa parte do que está errado na nossa sociedade.

09. Aparelhos ideológicos de Estado — Louis Althusser / Nota: 8

Publicado pela primeira vez em 1970, o breve ensaio “Aparelhos ideológicos de Estado (Notas para uma pesquisa)” representou uma renovação para o marxismo. Nele, o filósofo francês Louis Althusser reafirma sua filiação teórica e dá contribuições inovadoras aos estudos da ideologia, aprofundando o entendimento sobre a dominação do Estado e das classes dominantes sobre os trabalhadores. Seu texto influenciou intelectuais importantes, como Judith Butler, Ernesto Laclau e Slavoj Žižek.

Eu gosto de como os marxistas conseguem enxergar o mundo um pouco mais objetivamente que o resto das pessoas. Esse livro é um exemplo disso que nos mostra como, além da questão repressiva do Estado que todos nós conhecemos, existe também uma parte ideológica que é replicada em vários outros aparelhos como a própria estrutura jurídica de um país e que, a partir disso, consegue incultar ideologia na mente das pessoas. Algo que parece óbvio depois que você lê, mas que não refletimos no nosso dia a dia.

10. A vida não é útil — Ailton Krenak / Nota: 10

Crítico mordaz à ideia de que a economia não pode parar, Krenak provoca: “Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro”. Para o líder indígena, “civilizar-se” não é um destino. Sua crítica se dirige aos “consumidores do planeta”, além de questionar a própria ideia de sustentabilidade, vista por alguns como panaceia.

É muito legal ver a perspectiva de alguém de fora da nossa sociedade. Porque ela consegue nos mostrar como existem coisas absurdas que nós sequer vemos. Achando normal questões que estão nos adoecendo e fazendo com que a nossa vida seja cada vez mais complexa e triste. Mesmo com tantos avanços tecnológicos e até civilizatórios como os que temos hoje. Livraço e de leitura simples para quem quer pensar um pouco fora da caixa.

11. As portas da percepção — Aldous Huxley / Nota: 9

Com a inteligência característica de sua prosa, Huxley fala sobre suas expectativas ao usar mescalina e descreve suas sensações e pensamentos ao observar objetos cotidianos e ao ouvir música. O escritor conclui que os sentidos servem como um filtro, de forma que as pessoas percebam o necessário para garantir sua sobrevivência, sem contemplar nuances e detalhes da realidade.

Eu gosto da maneira que ele descreve a sua experiência com a mescalina. Não só por partir do ponto de vista de um cientista, mas porque consegue nos mostra pela escrita como essa substância mexe com a maneira como ele percebe o mundo. O que casa muito bem com o belo nome do livro, portas da percepção, e que nos prende a todo momento.

12. A guerra do lobo — Crônicas saxônicas — vol. 11— Bernard Cornwell / Nota: 10

Lorde Uhtred de Bebbanburg sabe que a paz ainda é um sonho distante. Embora tenha vencido a batalha pelo seu lar ancestral, rebeliões ameaçam a Mércia e os noruegueses espreitam em busca de oportunidades de invadir as terras. Com o reino num turbilhão, Uhtred fica frente a frente com o rei Sköll, um sanguinário líder norueguês que comanda um exército de úlfhéðnar, os guerreiros do lobo, determinado a dominar o reino — e matar todos em seu caminho.

Essa série de livros é simplesmente impecável. Mais uma vez seguimos Uhtred conforme a sua vida vai mudando por causa de juramentos passados e de sua reputação. Com mais reviravoltas que, sinceramente, são quase impossíveis de se prever e mostrando como Cornwell tem um domínio completo da sua narrativa e de todos os personagens que ele vai apresentando pelo caminho. Faltam só 2, mas com toda certeza já posso dizer que é a minha série preferida de livros de ficção.

13. Casta: As origens de nosso mal-estar — Isabel Wilkerson / Nota: 10

A jornalista Isabel Wilkerson compara os Estados Unidos, a Índia e a Alemanha nazista, revelando como nosso mundo foi moldado pela noção de casta — e como suas hierarquias rígidas e arbitrárias nos dividem ainda hoje. Casta fornece pistas importantes para entender a crise da democracia nas sociedades ocidentais e o que está por trás dos protestos antirracistas que assumiram dimensões globais após o assassinato de George Floyd.

Esse livro é uma aula sobre como, quando não lidamos com o passado, o futuro vai somente reverberar todos os problemas que tivemos antes. Comparando o sistema de castas da Índia, da Alemanha nazista e dos EUA hoje e na época anterior à Guerra Civil, conseguimos ver como eles tem semelhanças e, principalmente, como não lidar com isso de maneira satisfatória faz com que alguns problemas persistam até hoje. Puta livro, e que nos coloca para pensar se nós, do ocidente, estamos tão a frente assim de outras sociedades.

14. A espada dos reis — Crônicas saxônicas — vol. 12 — Bernard Cornwell / Nota: 10

É mais um momento de turbulência nos reinos. O rei Eduardo, com a saúde debilitada, não pode fazer nada para garantir uma sucessão tranquila ao trono e estabilidade política após sua morte. Há uma disputa entre dois herdeiros, Æthelstan e Ælfweard, e ninguém sabe se a frágil união dos reinos britânicos se manterá com a morte de Eduardo e o embate entre os dois herdeiros. Enquanto isso, Uhtred, após reconquistar sua querida fortaleza de Bebbanburg, mantém-se o mais distante possível das intrigas do sul, recluso na ainda independente Nortúmbria.

Chegamos ao penúltimo livro da série de Cornwell e continuamos com todas as qualidades em dia. Dessa vez com uma história mais claustrofóbica e que consegue nos colocar no desespero que Uhtred sentiu durante toda a sua aventura em Lundene. Deixando tudo ainda mais claro e, pelo menos para mim, com muita curiosidade para ver como ele terminará a aventura desse personagem que nos acompanhou por 12 livros.

15. O senhor da guerra — Crônicas saxônicas — vol. 13 — Bernard Cornwell / Nota: 10

Após anos lutando para recuperar a fortaleza que era sua por direito, Uhtred retornou à Nortúmbria e a tomou de seu tio traiçoeiro. Agora, com seus guerreiros leais e uma nova companheira, a fortaleza de Bebbanburg parece em segurança. Uhtred, entretanto, está longe de gozar da mesma tranquilidade. Para além das muralhas inexpugnáveis de Bebbanburg, tem início uma disputa por poder.

O último livro dessa série consegue unir tudo que ela faz dela tão incrível. Reviravoltas que nós não temos a menor ideia até acontecerem, o sentimento de que tudo pode acabar em poucas páginas, consequências reais e batalhas com uma descrição que é bizarra de tanto que consegue te colocar no meio dela. Um final digno e foda demais para essa série de 13 livros e que acho que todo mundo que gosta desse tipo de história deveria ler.

16. A era do capitalismo de vigilância — Shoshana Zuboff / Nota: 8

Zuboff chama a atenção para as consequências das práticas de empresas de tecnologia sobre todos os setores da economia. Um grande volume de riqueza e poder vem sendo acumulado em sinistros “mercados futuros comportamentais”, nos quais os dados que deixamos nas redes são negociados sem o nosso consentimento e a produção de bens e serviços segue a lógica de novas “formas de modificação de comportamento”.

Eu gosto do diagnóstico e da maneira como ela consegue nos mostrar como as big techs tem se aproveitado da falta de legislação para ir crescendo cada vez mais. Mas acho que peca muito na hora de propor alguma solução, apelando para argumentos filosóficos e focando menos em coisas práticas que poderiam ser feitas. Ainda é um ótimo livro, mas sempre fico triste quando essas pessoas não propõe algo interessante depois de um diagnóstico tão bom.

17. As Cavernas de Aço (Série dos Robôs Livro 1) — Isaac Asimov / Nota: 9

Em Nova York, o investigador de polícia Elijah Baley é escalado para investigar o assassinato de um embaixador dos Mundos Siderais. A rede de intrigas envolve desde sociedades secretas até interesses interplanetários. Mas nada o preocupa tanto quanto o seu parceiro no caso, cuja eficiência pode tomar o seu emprego, algo cada vez mais comum.
Pois seu parceiro é um robô.

Livro bem fácil e divertido de se ler. Tem a história de detetive, que sempre é legal de se acompanhar, só que com um toque de ficção científica que o Asimov é especialista. Trazendo reviravoltas e diferentes maneiras de se investigar um crime que jamais seriam possíveis em um mundo convencional, mas tudo isso sem parecer forçado demais. Mais uma vez provando o porque caras como ele são tão cultuados na literatura.

18. O Sol Desvelado: 2 (Séries dos Robôs) — Isaac Asimov / Nota: 10

Elijah Baley é recrutado para investigar um novo caso de assassinato aparentemente insolúvel. Ele viaja até Solaria, um planeta Sideral de apenas 20 mil habitantes, mas onde cada ser humano dispõe de um contingente de 10 mil robôs a lhe servir. Ele contará novamente com a ajuda de R. Daneel Olivaw, seu parceiro no caso anterior. Mas, desta vez, a missão de ambos não será simples; afinal, por onde começar uma investigação em que um dos suspeitos sequer poderia estar na cena do crime e o outro, um robô, é rigorosamente programado para não ferir um ser humano?

Essa sequência é ainda melhor do que o anterior. Tanto por conta da evolução dos personagens, principalmente Baley, quanto por mostrar uma trama de fundo ainda mais complexa e interessante do que o primeiro livro. Isso tudo sem contar com a criatividade do modo como Solaria funciona em comparação com a Terra. Ótimo segundo livro e que deixa com ainda mais vontade de ler os outros dois.

19. A ciência do ódio — Matthew Williams / Nota: 8

Diante dessa realidade explosiva cujas consequências ainda perdurarão pelas próximas décadas, o sociólogo Matthew Williams dedicou sua vida a compreender as raízes dos nossos preconceitos, dos mais cotidianos àqueles que terminam em extermínio em massa, e como o temor do desconhecido transforma-se em violência e opressão. Combinando neurociência, psicologia, sociologia e economia, A ciência do ódio investiga como a raiva permeia a história da humanidade em todos os cantos do mundo desde nossas origens e como podemos, no século XXI, combater novas e velhas formas de preconceito.

Esse livro é bem legal por trazer uma genealogia dessa emoção que tanto faz as pessoas sairem de casa para cometer atos horrendos. Porém acho que falha no final ao tentar colocar a culpa de determinados problemas nas pessoas, e não no modo como o sistema que vivemos funciona. Caindo naquela armadilha de tirar a culpa do coletivo e focar no individual, quando deveria ser o contrário.

20. Algoritmos para viver: A ciência exata das decisões humanas — Brian Christian, Tom Griffiths / Nota: 8

Explicando com clareza problemas matemáticos célebres e descrevendo a origem e o funcionamento de vários algoritmos, o jornalista Brian Christian e o professor de psicologia e ciência cognitiva Tom Griffiths nos mostram que tanto seres humanos como computadores enfrentam limites e dificuldades para resolver problemas. Mais do que apontar os melhores caminhos para otimizar tarefas, este livro ilumina aspectos surpreendentes do funcionamento da mente humana, de nossas emoções e de nosso comportamento.

De vez em quando existem algoritmos já prontos para resolver os problemas do nosso dia a dia e nós só não sabemos. Isso que os autores tentam mostrar nesse livro, colocando soluções da ciência da computação para agir no mundo real. É um livro bem denso, principalmente se você não tiver familiaridade com os temas, mas achei bem legal de ler. Existem um exageros, mas entendo que é parte do problema de relacionar duas áreas tão opostas em alguns momentos.

21. Religião para ateus — Alain de Botton / Nota: 9

Embora, em um primeiro momento, a discussão a respeito da existência ou não de Deus possa ser considerada como um divertido exercício, ao observar os ritos e conceitos morais que regem as religiões, o autor propõe um passo adiante. Dissecadas, crenças, como cristianismo, judaísmo e budismo, podem ser compreendidas como arcabouços éticos estruturados por nós para atender à demanda humana de viver em comunidade, controlando sua tendência à violência, estimulando hábitos essenciais, como a compaixão e o perdão, e reconfortando mente e corpo diante do sofrimento.

É bem legal essa maneira como Alain enxerga a religião. Tentando mostrar que existem coisas que poderíamos retirar delas para melhorar a nossa vida como um todo. Isso tudo deixando de lado a parte mágica que ateus, como eu, tem tantos problemas com. Conseguindo separar esses dois de maneira muito eficiente e nos mostrando como determinados rituais, comunhões e comportamentos podem ser úteis para todos nós.

22. Economia Donut: Uma alternativa ao crescimento a qualquer custo — Kate Raworth / Nota: 8

Analisando os sete pontos críticos com que a economia dominante nos trouxe à ruína — do propagandeado mito do “homem econômico racional” à obsessão pelo crescimento ilimitado a qualquer custo –, ela propõe um sistema no qual as necessidades de todos serão satisfeitas sem esgotar os recursos do planeta. Para ilustrar esse ponto de equilíbrio, a autora desenhou o icônico gráfico similar a um “donut” — a clássica rosquinha.

Eu gosto muito do diagnóstico que esse tipo de livro dá. Porém acredito que falte um pouco mais de ousadia para ir mais à raiz do problema. Ele tem boas ideias, e até diz que precisamos de governos juntos para que ela dê certo, mas ainda foca nessa questão de que as pessoas, individualmente, também podem fazer algo. O que é verdade até certo ponto já que vivemos em um sistema que pune esse tipo de iniciativa, que o livro mesmo aponta em um caso particular, ficando impossível tentar algo novo de verdade como o proposto. É um bom livro, mas ingênuo em alguns aspectos.

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