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31 livros que li em 2022 e que talvez possam ser legais para você também (1/2)

Leonardo Fuita
Escrevendo a vida
Published in
11 min readJan 5, 2023

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Da mesma maneira que fiz nos últimos anos (2018.1; 2018.2; 2019.1; 2019.2; 2020.1; 2020.2; 2021.1; 2021.2), li alguns livros e decidi compartilhar com todos minhas considerações. A ideia é fazer pequenas resenhas de todos os livros que eu li no ano e então, talvez, tentar indicar algo interessante para todo mundo que me lê por aqui. Passando desde livros de ciência, psicologia, economia e chegando até em coisas como aventura e ficção científica.

Como nos anos anteriores, dividirei em duas partes para ter uma leitura menos maçante. E a ordem é basicamente a ordem de leitura que eu tive no ano. Então vamos lá:

01. O Homem que confundiu sua mulher com um chapéu: E outras histórias clínicas — Oliver Sacks / Nota: 9

Em O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, estamos diante de pacientes que, imersos num mundo de sonhos e deficiências cerebrais, preservam sua imaginação e constroem uma identidade moral própria. Aqui, relatos clínicos são intencionalmente transformados em artefatos literários, mostrando que somente a forma narrativa restitui à abstração da doença uma feição humana, desvelando novas realidades para a investigação científica e problematizando os limites entre o físico e o psíquico.

Esse é o tipo de livro que consegue nos mostrar, com casos reais, como a nossa mente é um parada impressionante. Falando como pessoas com pequenos (e às vezes nem tão pequenos assim) problemas no cérebro podem mudar completamente o modo como elas interagem com o mundo à sua volta. Perdendo ou ganhando sensibilidade e outras características que não damos a devida importância, mas que no final das contas são importantíssimas para o nosso dia a dia. Muito legal e recomendadíssimo!

02. Ruído: Uma falha no julgamento humano — Daniel Kahneman, Olivier Sibony e Cass R. Sunstein / Nota: 10

Imagine que dois médicos na mesma cidade façam diagnósticos distintos a pacientes com o mesmo problema ou que dois juízes no mesmo tribunal deem sentenças diferentes a pessoas que cometeram o mesmo crime. Agora, suponha que este mesmo médico e este mesmo juiz tomem decisões diversas dependendo se é manhã ou tarde, segunda-feira ou quarta-feira, antes ou depois do almoço. Estes são exemplos de ruído: variabilidade em julgamentos que deveriam ser idênticos.

Mais uma vez temos algo diferente vindo de Kahneman. Dessa vez saindo um pouco dos vieses, ele nos mostra como as nossas decisões de julgamento podem ser afetadas por vários tipos de ruídos. Sejam eles insignificantes, como o fato de estarmos fazendo algo de manhã ou à tarde, ou mais claros como diferenças na habilidade e experiência de um juiz. Mais uma amostra de como nós, humanos, ainda temos muito a fazer para realmente criarmos bons julgadores e profissionais das mais diversas áreas.

03. Em defesa da comida — Michael Pollan / Nota: 10

Se nos falta comida de verdade — aquela que nossas avós reconheceriam como comida e que dispensava rótulos com as porcentagens de adição de substâncias benéficas, nutrientes, teor calórico ou índices de gorduras –, Michael Pollan mostra o que de fato aconteceu e desvirtuou a cadeia alimentar. Por isso ele indica o que fazer propondo hábitos simples e libertadores: Coma comida. Não muita. Principalmente vegetais.

Apesar de ser um livro mais focado na dieta americana, acho que também é muito útil para nós, no Brasil. Afinal somos bombardeados com o mesmo marketing que eles e, muitas vezes, sucumbimos aos ultraprocessados e esquecemos do poder de cozinhar e comer comida ‘de verdade’. Um manifesto para que, no final, voltemos as nossa origens quanto ao ato de comer e dessa maneira nos tornemos um pouco mais saudáveis e menos propensos as doenças que assolam esse lado do mundo.

04. Eu achava que isso só acontecia comigo — Brené Brown / Nota: 9

Nossa cultura nos diz que devemos rejeitar nosso corpo, nossas histórias autênticas e até nosso verdadeiro eu a fim de nos adequar e sermos aceitos. Brené mostra que nossas vulnerabilidades não são fraquezas; são lembretes poderosos para mantermos o coração e a mente abertos à realidade de que estamos todos juntos nisso. E apresenta estratégias para transformar nossa capacidade de amar, trabalhar, ser pai ou mãe e construir relacionamentos.

Agora entendo porque essa mulher faz tanto sucesso. Nesse livro temos uma amostra de como a vergonha pode nos paralisar e fazer com que, muitas vezes, acabemos deixando de viver da maneira que queremos. Uma pesquisa que focou nas mulheres, mas que na verdade tem uma aplicação real para nós homens também. Puta livro e bem diferente das abordagens que conhecemos por aí.

05. Fora de série — Outliers: Descubra por que algumas pessoas tem sucesso e outras não — Malcolm Gladwell / Nota: 10

Baseando-se na história de celebridades como Bill Gates, os Beatles e Mozart, Malcolm Gladwell mostra que ninguém “se faz sozinho”. Todos os que se destacam por uma atuação fenomenal são, invariavelmente, pessoas que se beneficiaram de oportunidades incríveis, vantagens ocultas e heranças culturais. Tiveram a chance de aprender, trabalhar duro e interagir com o mundo de uma forma singular. Esses são os indivíduos fora de série — os outliers.

Gladwell sempre me surpreende. Todos os livros tem títulos que chamam a atenção por um lado mas que, quando você lê, na realidade muitas vezes querem nos mostrar o exato contrário, e é isso que esse livro faz. Nos mostrando claramente como a sorte é importante para as pessoas que achamos extremamente bem sucedidas. Com exemplos reais e pesquisas importantes, vai nos dando a base para isso que, na minha opinião, todos nós deveríamos saber desde sempre: o sucesso nunca é resultado somente do seu esforço.

06. Conversas difíceis: Como discutir o que é mais importante — Bruce Patton, Douglas Stone, Sheila Heen / Nota: 8

Todos os dias nos esforçamos para ter ou evitar conversas difíceis — seja ao lidar com um funcionário de baixo desempenho, discordar do marido ou da esposa, negociar com um cliente ou simplesmente dizer “não” ou “me desculpe”. Baseado em 15 anos de pesquisas, este livro traz uma abordagem passo a passo para que possamos travar esses diálogos delicados com menos estresse e mais sucesso.

Eu gostei do livro porque ele tenta nos dar um norte para tratar de conversas complicadas não só no nosso trabalho, como nas nossa relações pessoais. Mas, particularmente, acho que é de uma dificuldade gigantesca de aplicar. Talvez por causa do meu próprio ego, é verdade. No final, ficou algumas lições que pretendo aplicar e outras que, talvez no futuro, sejam úteis quando tentar abordar temas mais complexos.

07. Talvez você deva conversar com alguém: Uma terapeuta, o terapeuta dela e a vida de todos nós — Lori Gottlieb / Nota: 10

Combinando histórias reunidas a partir de sua rica trajetória como terapeuta (distribuídas entre quatro personagens inesquecíveis) à sua própria experiência como paciente, Lori nos oferece um relato afetuoso, leve e comovente sobre a universalidade de nossas perguntas e ansiedades, e joga luz sobre o que há de mais misterioso em nós, afirmando nossa capacidade de mudar nossas vidas.

Psicologia é algo que eu gosto de ler. Mas em geral leio mais sobre aspectos psicológicos relacionados a algo, como dinheiro, decisões e hábitos. Nesse livro temos o mais ‘comum’, falando sobre a própria terapia. Um livro que, para mim, consegue nos mostrar bem como ela se desenvolve e porque é algo interessante e importante para as pessoas. Isso tudo utilizando da história pessoal da autora e de outros personagens extremamente interessantes e que nos mostram como ela pode ser transformadora.

08. Cozinhar: uma história natural de transformação — Michael Pollan / Nota: 10

Cozinhar é, ao mesmo tempo, investigação científica e narrativa pessoal, guia pragmático sobre o preparo de alimentos e reflexão filosófica sobre a transformação da natureza. Ao aprender a usar o fogo para preparar alimentos, nossos ancestrais abriram caminho para o desenvolvimento da civilização. E ele alerta: precisamos reconquistar o território da cozinha. Com isso, reforçamos vínculos comunitários e familiares e, ao mesmo tempo, damos um passo importante para tornar nosso sistema alimentar mais saudável e sustentável.

Assim como seu outro livro, Michael Pollan consegue nos mostrar como a comida é importante não só pela questão de nutrição, mas também cultural. Passando pelo churrasco, pelo pão, pelos assados e pela fermentação, temos exemplos muito legais que não só nos ensinam como fazê-los, como também os seus motivos e as filosofias que estão por trás. Mais um puta livro desse autor que tenta nos mostrar como a comida de verdade e a cozinha são importantes para nós como sociedade.

09. Quem Manda no Mundo? — Noam Chomsky / Nota: 9

O mais importante ativista intelectual do mundo oferece neste livro um aprofundado exame das mudanças do poder norte-americano, as ameaças à democracia e o futuro da ordem global. Com clareza e oferecendo diversos exemplos, Chomsky mostra como os Estados Unidos continuam sendo a voz mais forte, mesmo com a ascensão da Europa e da Ásia. O envolvimento americano com China e Cuba, as sanções contra o Irã, os conflitos no Iraque, Afeganistão e Israel/Palestina, a relação com a América Latina e África e o aquecimento global são alguns dos pontos discutidos no livro.

Eu gosto como aqui temos visões que dificilmente você vê em veículos de mídia tradicionais. Uma visão que nos mostra como os EUA é tudo menos o bastião da liberdade como ele mesmo diz ser. Ainda também nos dando insights, em 2017, sobre coisas que estão acontecendo hoje na Europa Oriental com uma acurácia assustadora. Um puta de um livro para quem quer saber quem realmente manda no mundo, e o que isso quer dizer.

10. Imune — Matt Richtel / Nota: 10

Fazendo uso de sua experiência como jornalista do The New York Times e entrevistando dezenas de cientistas renomados mundialmente, Matt Richtel produziu um livro notável: tanto uma investigação dos enigmas profundos da sobrevivência quanto uma reportagem incrivelmente humana sobre a vida a partir do ponto de vista de seus quatro personagens principais, cada um contribuindo com um detalhe essencial de nosso sistema de defesa.

Esse livro é muito bom. Consegue explicar conceitos bem complicados de maneira até que simples, ao mesmo tempo que nos conecta com os personagens que estão enfrentando tantos problemas com seu sistema imunológico. Acho ótimo para quem não entende nada e quer ter uma ideia de como ele funciona e, ao mesmo tempo, ver como a ciência tem avançado nesse quesito nos últimos anos. Puta livro!

11. Um preço muito alto — Carl Hart / Nota: 10

Hart conta a história da sua infância e juventude num dos bairros mais violentos de Miami e de como a despeito da desigualdade e da falta de oportunidades — tornou-se o primeiro professor de neurociência negro da prestigiosa Universidade Columbia e foi levado a um trabalho inovador no terreno da dependência química e das drogas. Criticando os movimentos antidrogas, Hart corajosamente analisa a relação entre drogas, prazer, escolhas e motivações, lançando nova luz sobre as ideias correntes a respeito de raça, pobreza, dependência, e explicando o fracasso das atuais políticas proibicionistas nesse campo.

Aqui temos não só uma aula sobre drogas, como também quais são os fatores de vida que, na realidade, levam as pessoas aos vícios e aos ciclos viciosos que vemos na sociedade. Mostrando isso através de pesquisas e também de exemplos da sua própria vida, já que foi desses ambientes que ele mesmo saiu. Um livraço que passa pelas drogas, pelo racismo, pela pobreza, pelo meio acadêmico e como a nossa sociedade se organiza.

12. Felicidade construída: Como encontrar prazer e propósito no dia a dia — Daniel Kahneman e Paul Dolan / Nota: 7

Ao contrário das teorias que sugerem uma mudança em nossa maneira de pensar, “Felicidade construída” se baseia na experiência do autor como economista e foca em como agimos no dia a dia. Vivemos numa época em que, a cada minuto, incontáveis estímulos disputam por nossa atenção. No entanto, é preciso saber focar no que de fato nos faz felizes. Os mesmos estímulos — dinheiro, casamento, sexo, peso, o tamanho de nossa casa — podem afetar muito ou pouco nossa felicidade: o que importa é a atenção que você presta a cada um deles.

Eu gostei do livro na parte mais expositiva sobre a felicidade. Citando alguns bons estudos e outros que me parecem um pouco duvidosos, ele consegue traçar um bom perfil sobre a felicidade. Mas acho que peca um pouco na hora de oferecer soluções para ela. Ficando um pouco raso demais na minha opinião em alguns assuntos. Mas acho que vale a pena como um início nesse tipo de tema.

13. Algoritmos de Destruição em Massa — Cathy O’Neil / Nota: 10

Vivemos na Era do Algoritmo. Cada vez mais, as decisões que afetam nossas vidas ― onde estudamos, se obtemos um empréstimo para comprar um carro, quanto pagamos pelo seguro saúde ― estão sendo tomadas por modelos matemáticos. Em teoria, isso deveria nos conduzir para um mundo mais justo: todos são julgados de acordo com as mesmas regras e o preconceito é eliminado. Mas, como Cathy O’Neil revela neste livro urgente e necessário, a verdade é justamente o contrário. Os modelos usados hoje são opacos, não regulamentados e incontestáveis, mesmo quando estão errados.

Aqui você vê como mesmo a tecnologia depende da maneira como nós vemos o mundo. São vários exemplos de como os algoritmos e sistemas muitas vezes são tão injustos ou até mais injustos do que o que possuímos anteriormente. Isso tudo ainda dando uma aula sobre como eles funcionam e até como eles podem ser corrigidos de maneira a se tornarem justos de verdade como achamos que eles são. Livraço!

14. Regras da comida — Michael Pollan / Nota: 8

Pollan elegeu os princípios básicos que devem nortear a dieta equilibrada e dividiu as regras da alimentação saudável em três categorias. A primeira, “O que devo comer? Coma comida de verdade”, destina-se a distinguir o que é comida saudável das “substâncias comestíveis parecidas com comida”. “Que tipo de comida devo comer? Principalmente vegetais” esclarece distinções entre os variados tipos de alimentos e questões como o consumo de carne — que não precisa ser banida da dieta. Na terceira parte, “Como devo comer? Pouco”, ele aborda as estratégias para se chegar à maneira correta de se alimentar com dicas que visam a evitar os excessos responsáveis pelo sobrepeso e suas consequências.

São regras simples, mas acho que para alguém que não tem a menor noção do porque tem uma dieta tão ruim são bem úteis. Nos mostrando como, na realidade, é muito mais fácil comer de maneira mais saudável do que fazem parecer a indústria alimentícia e os próprios governos. Nos atendo a 3 grandes regras e algumas dezenas de outras menores, e mostrando que conseguimos com toda certeza melhorar muito do que colocamos para dentro do nosso corpo.

15. O dilema do onívoro — Michael Pollan / Nota: 10

O autor americano fez uma espécie de genealogia da comida ao percorrer, em marcha a ré, a trajetória do alimento da mesa até sua origem mais remota. Muito além do jornalismo, dá absolutamente todas as explicações a respeito de cada ingrediente consumido diariamente. Ao contrário dos que tentam esquecer os abusos da indústria alimentícia, Michael Pollan leu o rótulo e viajou até o pedaço de terra onde cada substância foi plantada. Percebeu que identificar o desenvolvimento, a manipulação e a industrialização das comidas processadas exige talento de um detetive ecológico, munido de coragem e destreza.

Como esse cara é bom. Mais uma vez falando sobre comida e com a característica experiência em campo, Pollan vai nos mostrando como a indústria alimentícia funciona de verdade ao mesmo tempo que nos mostra caminhos alternativos do que pode ser feito para melhorá-la. Mais uma livraço desse autor, que não só nos mostra a história como também nos ensina que, talvez, devessemos fazer mais e nos importar ainda mais com o que comemos.

16. O último reino — Crônicas saxônicas — vol. 1 — Bernard Cornwell / Nota: 10

O ÚLTIMO REINO é o primeiro romance de uma série que contará a história de Alfredo, o Grande, e seus descendentes. Aqui, Cornwell reconstrói a saga do monarca que livrou o território britânico da fúria dos vikings. Pelos olhos do órfão Uthred, que aos 9 anos se tornou escravo dos guerreiros no norte, surge uma história de lealdades divididas, amor relutante e heroísmo desesperado.

É impressionante como é fácil reconhecer um bom escritor. Cornwell consegue nos envolver com uma história cativante, com descrições incríveis de acontecimentos e personagens que você gosta e/ou desgosta desde o primeiro momento que aparecem. Um livro que te deixa sempre com vontade de ler mais e que, não por acaso, tem mais uma dezena de continuações que logo vou checar.

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