A qualquer momento, qualquer coisa pode acontecer: você tem vivido como se nunca fosse morrer?

Um relato de três breves histórias que levaram a profundas reflexões sobre o que realmente importa.

Luana Reis
Releituras da Vida
5 min readApr 18, 2021

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Essa semana fui surpreendida com uma sequência de fatos impactantes. A princípio eles não seriam relacionados um ao outro. Pelo menos, não diretamente. Mas em minha mente, de alguma forma, eles apontaram para a mesma reflexão, fortalecendo a conclusão que desejo chegar e, como de costume, gostaria de compartilhar com você.

Tudo começou com o adoecimento inesperado de uma amiga médica a quem admiro muito. Ela estava trabalhando em seu plantão, quando subitamente começou a passar mal e ter algumas alterações neurológicas. Na sequência, ela precisou ser encaminhada a um hospital e ser internada. E não, ela não tinha absolutamente nenhuma doença prévia que pudesse justificar aquele ocorrido. Alegro-me em revelar prontamente que ela já está bem e medicada, em casa, para minha tranquilidade.

Contudo, vamos seguir com as histórias…

No final desta semana, uma outra colega de trabalho, que trabalha como médica no mesmo lugar que eu, se planejou para visitar seus pais em sua cidade de origem neste final de semana. Fazia algum tempo que ela não os visitava, pois eles moram um pouco longe daqui. Depois de ter a passagem comprada e estar com tudo pronto, houve uma pequena mudança de planos com relação aos horários e agendas no trabalho, que poderiam interferir no seu retorno. Ela precisaria talvez trocar o horário de sua passagem, a fim de retornar mais cedo, porém isso poderia fazer com que a viagem, por ser tão longa, não valesse tanto a pena nesse momento.

Eu quis ajudá-la. Eu posso imaginar como são essas coisas. Você adia agora e pensa que logo terá uma nova oportunidade, quando for aparentemente mais favorável, até perceber que talvez não haja um momento perfeito ou totalmente favorável, e você ficará em um ciclo vicioso de adiar, por isso ou aquilo “importante”, mas…será mesmo que essas outras coisas são tão importantes assim?

Foi assim que ofereci a ela: “Pode deixar que eu chego mais cedo e seguro as pontas por aqui. Converse com a gerente para você chegar um pouco mais tarde, vai dar certo. Mas olha só! Não deixe de ir lá ver seus pais, pois corre o risco de você adiar agora, e depois e depois…”

Sim, eu sei, aparentemente isso não é da minha conta. Mas o ser humano tem uma coisa de interferir um pouco na vida alheia, quando se importa suficientemente. O fato é que ela ficou pensativa, como se aquilo tivesse de fato mexido com ela. Ela acatou minha sugestão e para nossa sorte a gerente também concordou e, para minha alegria, ela manteve a visita à sua família.

Agora vamos seguir para a última e breve história.]

Estava eu voltando para casa ontem (sábado a noite) — sim, esse texto está saindo do forno e já sendo publicado no mesmo dia, como um processo terapêutico de catarse — e, após trabalhar duramente em um plantão de 12h, em um enfermaria de COVID19 — esgotada e desejando grandemente comer, beber água, tomar banho, ver Netflix e dormir em minha casa — me deparei no caminho de volta para casa com um acidente muito grave que obstruiu toda a passagem no meio da estrada, um acidente que parecia ter envolvido cerca de 6 ou 7 vítimas e a perda total de uns 2 carros. A obstrução no meio da rodovia foi de tal forma, que uma fila kilométrica de carros se fez, sem previsão de liberar, a princípio, pois eles estavam aguardando resgate para retirar as vítimas das ferragens, e acredite, isso é uma coisa nada fácil de ser feita.

Assim, após sair do hospital às 19:30h (meia hora atrasada por ter chegado uma emergência logo no final do plantão) e completamente exausta, precisei aguardar cerca de 1h e meia, até chegar o resgate e liberar metade da passagem na via, possibilitando que o trânsito fluísse novamente e eu finalmente pudesse retornar sã e salva ao meu lar (diferentemente daquelas vítimas…).

Agora, você pode estar pensando: Meu Deus! Como esses fatos podem se relacionar de alguma forma? Ou até mesmo, pode estar pensando: Já sei onde você quer chegar…

O meu texto da semana passada apresenta a seguinte pergunta no título: Você tem dado adequado valor às suas prioridades? E eu aqui complemento: Você sabe me dizer quais são as suas prioridades?

Confúcio, filósofo, tem uma frase que diz:

“Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver o presente e nem o futuro. Vivem como se nunca fossem morrer, e morrem como se nunca tivessem vivido.”

Ou em palavras atuais, vivem descuidadamente como se nunca fossem pegar COVID19, ou se não fossem ficar graves… até que alguns… bem, sem terrorismo, ok.

Organizando a reflexão, a verdade é que nunca saberemos quando vamos passar mal no trabalho, mesmo estando bem de saúde. Nunca saberemos qual será a última chance de desfrutar um tempo precioso com quem amamos. Nunca saberemos quando seremos surpreendidos por um acidente no meio da estrada em que nós somos as vítimas.

Mas então, nos pergunto:

Eu preciso achar que vou morrer semana que vem, ou ficar pensando que algo muito ruim pode acontecer a qualquer momento, para passar a dar valor ao que realmente importa na vida?

Ou será que, por outro lado, não deveríamos simplesmente valorizar essas coisas e tratá-las como prioridade a cada dia de nossas vidas, no momento presente, aqui e agora, desfrutando o máximo que pudermos?

Como na música Oração ao Tempo, do Caetano Veloso:

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Ouve bem o que eu te digo
Tempo, tempo, tempo, tempo

(…) De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo, tempo, tempo, tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo, tempo, tempo, tempo

E foi assim que acontecimentos inusitados e não aparentemente relacionados me levaram a uma manhã reflexiva de domingo… espero poder inspirar seu dia e sua semana com essas reflexões. E, quem sabe, promover alguma melhoria em sua jornada.

No fim do dia: o que mais importa para você? Como você deseja levar seus dias?

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Luana Reis
Releituras da Vida

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.