Florence: Como enxergamos nossas experiências?

Raira Oliveira
luizalabs
Published in
6 min readSep 20, 2022
Ilustraçãozinha feita por Mim (Vulgo, Raira)

Fala povo bonito, de buenas?

Há alguns meses, escrevi um artigo sobre ter adquirido o Nintendo Switch e começado a jogar Animal Crossing (um dos exclusivos da Nintendo).

Se você não leu, dá uma olhadinha aqui! que também tá linkada aqui na Medium

Durante esse tempo, me aventurei comprando alguns jogos, principalmente os que mencionei na lista de Cozy games no artigo e outros que chamaram minha atenção.

Com isso, percebi algumas coisas e confirmei outras:

🌼 Primeiro: Sou uma pessoa que não tem paciência para jogos complexos demais ou que me estressam. E quando digo estressar, é que me fazem pensar demais. O Switch se tornou meu escape para distrair e pasmem, sonífero (juro a vocês, tô capotando com ele enquanto jogo).

🌼 Segundo: Dando continuidade a esse primeiro ponto, eu REALMENTE, prefiro jogos que tenham uma storytelling fofa, que me divirta, que me relaxe e seja esteticamente meigo e aconchegante. Casual Games, Puzzles (até uns esotéricos e estranhos como Gorogoa), RPG e click point, são definitivamente meus tipos de jogos haha

🌼 Terceiro: Jogar sentado pra mim é a coisa mais desconfortável do mundo;

Levando esse último ponto em conta, um dos últimos jogos que adquiri foi Florence. Ele já estava na minha wishlist há um tempo. Já tinha visto na Google Play Store, mas nunca comprei por motivos que eu disperso muito fácil quando centralizo muitas atividades em um único dispositivo.

Um dos meus jogos favoritos por exemplo, é o Gris, um jogo indie 2D de plataforma com uma estética maravilhosa e uma história intimista e bela. Demorei pra zerar ele no PC por que sempre dispersava e ficava incomodada com o fato de ter que jogar sentada (não tenho controle).

Com o Switch eu meio que separei sem perceber durante o dia, uma hora pra me dedicar ao lazer. Me distrair e me divertir. Normalmente faço isso jogando Animal Crossing, mas como agora meu singelo acervo de jogos no Switch aumentou (10 joguinhos, ein), fico tentando testar os novos durante a semana.

Esse conforto é tão importante pra mim, que coloquei Gris na minha wishlist do Switch pra em algum momento comprar o jogo pro console e ter a possibilidade de jogar novamente sem ficar noiada e exausta.

Mas Rai, quem é Florence?

Florence é um casual game, multiplataforma (tem pra PC, Smartphone e agora Switch), que conta a história de amadurecimento de uma garota, Florence Yeoh, através de um storytelling gostosinho e puzzles (quebra-cabeças) que interagem com o desenvolvimento da história. Você aprende com Florence e 100% do tempo se enxerga naquilo (principalmente os jovens adultos, como eu).

Como já sabem, sou UX Research e em qualquer oportunidade estou avaliando o desempenho ou logística de algo por de trás da tela ou seu valor como produto. No caso de Florence, enquanto jogava, fiquei pensando o que o fez ser um jogo indie premiado e por que ele é usado hoje em dia como um modelo de Puzzle Casual.

E na minha visão, existe apenas uma resposta: Familiaridade.

Existe um livro, chamado Hooked — How to build habit, que apresenta um framework (tipo um modelo, fluxo de processo) de como funcionam os gatilhos de engajamento de produtos que foram pensados de acordo com o hábito do seu usuário final. Teoricamente, ele se ajusta melhor e tem alto índice de aderência e eficiência porque sua concepção gira em torno de não apenas solucionar uma dor, mas promovê-la de uma forma com o usuário se sinta, parte daquilo e crie uma rotina/vínculo com aquilo.

Florence nem de longe é um jogo para todos os gostos, no entanto, ele funciona com qualquer pessoa.

E por que digo isso? Porque o ser humano está em constante processo de aprendizado e amadurecimento.

Ele não é um jogo para pensar, planejar ou criar uma estratégia. Ele é feito para observar e absorver. Sentir e aproveitar.

Hayao Miyazaki, criador e fundador do Studio Ghibli, o maior estúdio de animação (Depois da Pixar), tem essa cultura da contemplação enraizada nas suas produções.

Quem já assistiu qualquer filme do Ghibli, sendo A viagem de Chihiro, Castelo Animado, Ponyo, ou os mais antigos como Nausicaã e Meu amigo Totoro, percebem que em diversos momentos dos filmes, existem cenas que o Hayao apelida de Contemplar o vazio.

Checa esse vídeo pra entender melhor: A importância do Vazio

Florence funciona da mesma forma, só que com o diferencial de interação (Jogador <> Jogo).

A construção do jogo reflete um cuidado e esmero delicado, que por mais simples que o jogo seja, impacta na sua vida. Desde o estilo de arte, paleta de cores, trilha sonora e até os puzzles. Todos os puzzles possuem coordenadas de quais botões você precisa usar para iniciar determinada ação.

🌈 Adendo da Rai: Todos os jogos possui tooltips (balões ou pop-up com dicas e coordenadas de uso) do que precisa ser feito ou como é feito. Uma espécie de Onboarding (primeiros passos) e Florence dá um show nesse quesito.

O ícone preto no canto superior direito, indica que é necessário usar o joystick

Jogadores assíduos possuem uma memória muscular sobre esse tipo de jogatina, mas se por exemplo, eu quisesse que minha mãe jogasse Florence (ela tem 62 anos), com algumas instruções e acompanhamento ela conseguiria jogar tranquilamente.

Na educação, existe uma vertente educacional que se assemelha muito à estrutura comportamental de Florence: A Montessori.

Maria Montessori, foi a criadora do formato educacional por observação. Bem parecida com a técnica Waldorf, Montessori trás o estudante como protagonista e ao invés do professor ser um distribuidor de saberes, ele funciona como um ponto de apoio e observador.

O estudante tem autonomia para compreender e aprender com seus erros e acertos, sobre o que precisa ser feito.

A maioria dos jogos funcionam dessa mesma forma. Você observa o entorno, compreende a situação e assim toma uma decisão (ação). Esse tipo de jogabilidade é padrão em jogos do tipo RPG.

Dentro do UX, existe uma vertente específica que vem se tornando cada vez mais popular, chamada Behavioral Design (focado no Comportamento do Produto <> Usuário).

Essa segmentação foi justamente criada para que pudéssemos quebrar as fases de compreensão do que É ou Não É relevante para o desenvolvimento do produto/serviço.

Mas Rai, o que isso tem haver com Florence?

Tudo. Como falei lá em cima: esse jogo é baseado em experiência e memórias afetivas.

UX é a compreensão da experiência e gatilhos de uso.

O match perfeito. A melhor estratégia de impacto.

Florence, soube se comunicar e essa é a chave do sucesso do jogo.

Ele não tem nada de novo, nada inovador. Não reinventou a roda. Os desenvolvedores e designers do jogo apenas focaram no ponto crucial para alavancar um bom desempenho: facilidade e usabilidade.

Resumão da Rai:

Recomendo: Sim e com certeza; Baixe no celular, no PC, experimente. Perder tempo, você não vai. No máximo o que pode rolar é entrar numa crise existencial.

Mas zueiras a parte, o jogo é sensível demais para não ganhar o seu coraçãozinho.

Notinha marota: 5/5 Adas lovelace felizes e aconchegadas ❤

E aí, ficaram com vontade de jogar um Florecenzinho da vida?

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Raira Oliveira
luizalabs

Inxerida a escritora nas horas vagas, UX Research na Luizalabs, ilustradora, UX/UI na InspirAda a Computação, vegana e conscientemente insana.