Imagem da Microsoft sobre uma "IA mais humana". Não me processe, MS ;)

Explicando Inteligência Artificial para seres humanos

Pedro Rocha
Luneta
Published in
7 min readSep 15, 2017

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Recentemente tive a oportunidade de palestrar sobre o estágio atual da Inteligência Artificial(IA) e para onde ela caminha, com foco em empresas(empresas são compostas de pessoas, então isso se aplica a todo mundo), que acredito tenha rendido uma sequência interessante de perguntas e respostas.

Não sei se posso citar a empresa, então vai sem citação, mas o autor das perguntas foi muito assertivo com questões bacanas de expor opinião!

Em que estágio o desenvolvimento da IA se encontra agora e onde ele pode chegar no futuro?

A chamada Inteligência Artificial é uma área de estudos que já se desenvolve há décadas e nos últimos anos está dando grandes saltos, por conta do forte avanço em outras áreas: poder de processamento das máquinas(supercomputadores, melhores hardwares, etc) e coleta de dados(Big Data e afins). Como cada vez mais coletamos mais e melhores informações(mais organizadas e de variados tipos), novos métodos e modelos de aplicação para IA estão sendo desenvolvidos a cada instante.

Pensando em mercado, hoje em dia já temos disponíveis inúmeras ferramentas baseadas em IA que nos ajudam a observar dados históricos, avaliar padrões, fazer previsões e oferecer suporte à decisão. Esse tipo de ferramenta pode ser muito útil para indústria(prever falhas em máquinas e otimizar processos), varejo(compreender consumidores, melhorar logística e otimizar preços rapidamente), mercado financeiro(investimentos, avaliar riscos, etc), saúde(pesquisar tratamentos), educação(compreender necessidades de estudantes e moldar conteúdos de acordo), para citar algumas somente.

Pensando em futuro, a área caminha principalmente em 3 sentidos:
- menor dependência de dados para “ensinar” a máquina, a tornando mais próxima do que é uma criança, que aprende com o ambiente ao seu redor
- criar uma IA que seja generalista, pois todas as IAs que existem hoje são muito específicas no que sabem fazer
- produzir uma IA que possua “consciência”, o que é algo um tanto subjetivo, mas muitos pesquisadores buscam essa IA que consiga agir de forma independente

Uma tecnologia como a IA consegue por si só transformar uma empresa e alavancar novos negócios?

Nem de longe. Podemos dizer que IA é uma caixa de ferramentas, onde sem um objetivo claro a alcançar, um planejamento sobre quais ferramentas dessa caixa irá usar, quais restrições você tem(como quantidade e qualidade de dados para treinar a IA), a chance de produzir resultados grandiosos é pequena. No entanto, é melhor tentar, errar e aprender do que não olhar para o tema, pois IA irá afetar muitos mercados, em breve.

Se uma empresa estiver pensando em como usar IA, ela deve se perguntar o seguinte:
- qual o objetivo com seu uso?
- quais conjuntos de dados possui?
- é capaz de explorar os dados?
- equipe/fornecedor é capaz de dar suporte adequado para gerar valor dos dados?

Se a empresa não estiver pensando em como usar IA, ela deveria.

A IA já está presente em nosso dia a dia, em assistentes digitais, como Siri, Alexa e automação de atendimento ao cliente. Mas quando ela vai participar da elaboração de planos estratégicos? Isso é possível?

Esse é um ponto muito interessante, porque por um lado já é possível, tecnicamente falando, e por outro, bem distante, pela capacidade de execução. Costumo dizer que a gente, como sociedade, não aprendeu a usar a internet direito, a realmente ter nossos processos digitalizados adequadamente, com fluxos, métodos analíticos e sistemas preparados para o futuro. Dessa forma, as novas tecnologias como IA nos oferecem grandes oportunidades, mas que sem uma mentalidade que considere o digital desde o ponto zero dos projetos, não chegaremos a muito.

Um exemplo interessante é o Watson para Oncologia, da IBM, que está há anos sendo trabalhado, absorvendo conhecimento sobre sintomas, tratamentos, casos médicos antigos, tudo para aprender padrões e ajudar os médicos a avaliar novos casos de câncer, sendo um “Sistema de suporte à decisão”. Essa mesma abordagem pode ser usada por empresas para entender as informações sobre seus consumidores, clientes, fornecedores, mercados, tendências, e assim ter uma ferramenta que ajude na elaboração de planos estratégicos.

Não é do dia para a noite, mas é possível. Quem já tem seus processos e dados organizados está muitos passos na frente.

Quer saber mais sobre assistentes digitais inteligentes? Veja nosso outro post.

Com a IA automatizando tarefas que antes eram executadas pelos funcionários e até pelos gerentes, o que restará para o homem fazer em uma empresa?

Se olharmos o cotidiano de muitas empresas, muitas pessoas fazem trabalhos “robotizados”, com rotinas bem definidas, manuais, repetitivas, onde podemos ouvir várias vezes alguém dizendo que se sente um robô fazendo aquilo e que detesta. Diante disso, faz todo sentido colocarmos robôs para fazer esses trabalhos.

Olhando pelo lado de “o que sobrará para os humanos”, podemos pensar que o ser humano não precisava criar novas ferramentas, novas cidades, expandir seus horizontes(culturais, econômicos, etc), ir à Lua, entre tantas outras coisas que nós inventamos porque enxergamos em algum momento que era legal fazer. O receio da mudança, algo biológico do ser humano, nos leva a pensar inicialmente nessas “potenciais ameaças imediatas à nossa zona de conforto”, mas se superarmos isso, começaremos a olhar tudo que podemos criar, evoluir, inventar, ao nos liberarmos dos trabalhos manuais, repetitivos e chatos que a IA nos ajudará.

Novos projetos serão mais baratos, experimentar mais prático e conveniente, riscos serão conhecidos mais facilmente, entre tantos potenciais benefícios que tão logo nós percamos o medo da mudança, poderemos começar a pensar “E se…. eu fizer isso agora, com meu tempo que a IA liberou?”. A ferramenta do “E se” é muito poderosa para pensarmos um futuro positivo e, a partir dai, caminharmos em direção a ele.

E isso tudo serve para a vida pessoal também, não se restringindo ao ambiente de trabalho.

O medo relacionado à IA e aos às supostas teorias de revolução ou descontrole de máquinas tem razão de ser?

Receio do desconhecido é algo positivo, pois nos aponta possibilidades(boas e ruins) e nos faz pensar sobre quais caminhos realmente queremos tomar. O risco de a IA sair do controle é real, mas não algo ruim, necessariamente.

A forma como a IA busca otimizar certas situações é diferente da que os humanos pensam. Os humanos estão criando IAs esperando que pense como humano, mas o que tem acontecido é que muitas vezes elas otimizam certas situações, fazendo diferente do esperado, porém totalmente de acordo com os objetivos traçados para ela. Esse é o ponto crucial: a IA faz o que lhe é pedido. As vezes, descobre uma forma muito melhor de fazer do que nós humanos conhecemos, ai dizemos que “saiu do controle”. O ponto é que isso pode ser também descobrir como curar uma doença ao encontrar padrões que nós não encontramos ainda, por exemplo.

O mais importante é o debate estar acontecendo agora, no começo. Quando vemos grandes mentes debatendo a questão de pôr limites às IAs, questões éticas sobre sua utilização(como impedir armamento automático baseado em IA), estamos em um caminho bom para evitar que algo ruim aconteça futuramente.

Se uma tecnologia habilita novas áreas de negócios, quais seriam essas áreas no caso da IA?

A área de IA se baseia muito na existência de dados coletados e bem organizados(em alguns anos, isso não será tão crítico, com o surgimento de novos métodos que aprendem sem dados prévios), assim como uma boa compreensão de como usá-los. Dessa forma, o surgimento de empresas que sejam capazes de organizar dados(Ciência de Dados), entender das áreas de negócios e montar modelos estatísticos para criar uma IA específica para uma empresa/projeto, será um mercado muito valioso.

Pensando que a maioria das empresas está defasada no que diz respeito a “se digitalizar”, um pré-requisito para trabalhar com IA, esse mercado que já existe tende a crescer também, a reboque do interesse das empresas em utilizar IA.

O que você diria para o empresário que está lendo essa matéria e está achando que tudo não passa de ficção científica?

Corre! (atrás do prejuízo ou para as montanhas, para se isolar)

Brincadeiras a parte, há cerca de 1 ano e meio eu tomei um baque ao ver que minha carreira(Eng. de Software/Empreendedor), que eu julgava estar muito confortável(isso considerando que já não gosto de rotina e calmaria), seria chacoalhada de uma maneira não prevista por mim, em poucos anos, pelo que chamamos de 4a revolução industrial. Essa mudança, onde muitas tecnologias estão se combinando, em um movimento chamado de “Exponencialidade”, e alterando nosso cotidiano de formas dramáticas, já está mostrando resultados hoje. O que o senso comum nos apresentava como algo a acontecer em décadas, está aqui, agora, com muito mais chegando em poucos anos.

IA/Robótica, Internet das Coisas, Realidade Virtual/Aumentada/Mista, Biotecnologia, Nanotecnologia, todas são áreas enormes, vistas até pouco tempo como ficção-científica, que possuem partes já amplamente disponíveis para serem usadas por pessoas e empresas, e outras partes ainda em pesquisa, chegando em breve.

Aqui entra a parte realmente fundamental ao empresário: começar a se mover, mesmo que devagar, é melhor do que ficar parado. O momento agora é de, no mínimo, experimentar, estudar, conhecer o que está por vir, para quem sabe, nos próximos meses ou em poucos anos, já ter uma estratégia mais clara e poder caminhar nesse novo mundo.

Ignorar as mudanças, ficar parado e fingir que nada está acontecendo é garantia de muitas dificuldades em um horizonte de 5 anos ou menos.

Espero que esse "Perguntas e Respostas" ajude a dar uma visão mais ampla sobre o que a Inteligência Artificial pode nos entregar agora e como podemos nos preparar para os próximos passos.

O que achou? Deixe sua opinião nos comentários!

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Pedro Rocha
Luneta

On digital experiences, business, commons and the future