Mudanças… De ares, de casa, de pensamento, de vida

Relatos da minha vida itinerante, mesmo não sendo artista de circo (só no coração)

Elaine Gouvea
Manual da Vida Prática
5 min readApr 6, 2016

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Anteontem me mudei. Nos mudamos. Mais uma vez! Fomos, enfim e “definitivamente” (até que os planos também mudem; sabem como nada nessa vida é definitivo, além da morte) para a cidade de San Francisco.

Antes estávamos em Martinez, um dos subúrbios depois da ponte. Não, não depois da Golden Gate: ali é Sausalito, lugar de mansões. A ponte menos famosa, a que vai pra Oakland.

Também não podemos arcar com uma casa em Martinez, mas ainda fazemos bons amigos. Guigui, pelo menos. Conheceu o Nico no DevBootcamp ano passado. Sem ele, nem sei como teria sido nossa experiência por aqui até agora. Não temos nem palavras para agradecê-lo.

Aliás, não posso me queixar: desde que resolvi embarcar nessa aventura, botando a mochila nas costas e indo atrás do meu amor em terras estrangeiras, só encontrei e tive o apoio de gente do bem.

Amigas de todas as horas me deram abrigo no ano passado: entreguei o apê antes de parar de trabalhar. Obrigada Mila e Jojô pelo mês dividido entre as casas de vocês! *Quelly gosta quando eu cito o nome delas, então vou continuar “marcando” as pessoas aqui.

Tudo tem uma explicação: a origem da inquietude & a formação da base

Esse negócio de botar a mochila nas costas é meio que viciante: desde que cheguei aqui, no fim de junho passado, já perdi as contas de quanto me mudei. Minha mãe não é fã de mudança, as de casa. De resto, ela odeia rotina: tudo diferente todo dia, por favor! “Vovis” sapeca não parava quieta em um lugar. Vovô era pescador, sempre no mar, sempre para lá e para cá.

O trauma de mamãe vem de ela não ter um Vanderson, uma Josie e nem uma Daniele na vida dela. Amigos de infância só os primos. E acho que as constantes mudanças afetaram até a relação com eles, que não são como a Débora e a Carol para mim. Obrigada “mamis”, por ter me proporcionado todas essas relações. Obrigada por mais um montão de coisas que não cabem aqui, você sabe!

Vivi 30 anos da minha vida no mesmo endereço. Sim, ainda na aba dos meus pais… Ah, essa geração X, Y… qual a minha mesmo? Mas sempre gostei de uma mochila nas costas: viajar é o meu programa favorito há muito tempo. Desde as viagens de carro do Rio ao Espírito Santo, durante toda infância. *Embora eu reclamasse de ir sempre para o mesmo lugar.

Aquele vento no rosto, vindo da janela aberta do lado do papai, fez eu me apaixonar pela estrada. Ia a viagem inteira olhando pela fresta entre a janela e o motorista, ali no ombro do banco, sabe?! Então! Seis horas de vento mais tarde e em meu cabelo não passava nem pensamento: um nó só. Eu adorava!

Lugares por onde passei

Desde que saí do Brasil, já morei em dois estados diferentes, três casas, essa é a quarta. Nada mal para nove meses. Isso porque não estou contando com as viagens, nem com o dormitório do Guigui e nem o primeiro Airbnb em San Mateo. Muito menos com as mudanças ainda no Brasil.

O número aumentaria para 8 países (considerando que as ilhas que visitei são, cada uma, um país), 8 estados (1 no Brasil, 6 nos States, 1 em Porto Rico), 11 cidades (2 no Rio, 3 aqui na Bay Area), 5 ilhas, 5 apês (1 Airbnb), 5 casas (1 Airbnb, 1 Homestay), 4 hotéis, 1 motel (dos americanos, gente!), 1 dormitório e 1 barco. Ufa!

*Sim, aqui estou tentando descaradamente competir com a Jojô, mas ela ainda ganha e sem forçar! 😉

O que observei pelo caminho

Muitas mudanças de ares. Muito lar “invadido”. Muita gente nova conheci. Tive ainda a possibilidade de conviver e descobrir um lado diferente daqueles que conheço há anos. Experimentei gente.

Gente que cozinha, que come inhame no café da manhã, que namora um pouquinho todo dia (bonito de se ver). Gente doente, preocupada em ter que operar, entrar numa dieta e que dorme agarradinho.

Gente que joga video game. Gente que ama cachorro. Gente que odeia cachorro. Gente que dá banho todo dia no filhotinho. Gente que parece que nunca deu banho em nenhum de seus cachorros, gente que não lava suas panelas, as limpa com papel.

Gente que guarda ovos no vinagre (ou sei lá o que) expostos na cozinha em um pote de vidro (que me faz lembrar olhos em filmes de terror ou as peças e órgãos da faculdade no formol).

Gente que viaja de avião pela primeira vez e vai logo pro exterior. Gente de letra bonita, que fala japonês e que gosta do Neymar. Gente que faz de tudo para que nossa estada seja aconchegante como a nossa própria casa, mas que não deixa de lado as amenities de um hotel.

Gente que chora quando o filho vai embora, mesmo eles não morando junto faz tempo, mesmo tendo feito o mesmo com seus pais em sua época. Gente nova que vou conhecer (dividimos a casa com mais 3 pessoas). Gente de todos os tipos, várias cores e nacionalidades. Nem mais nem menos: gente.

O que aprendi até aqui

Mudar de lugar é fácil para alguns, para mim sempre foi bem divertido: me sinto criança com um brinquedo novo, doida para explorar! Mudar motiva, gera energia nova automaticamente. Mudar aciona meu lado bipolar: vou da euforia ao estresse como uma Ferrari chega a 100km em 3 segundos.

Mudar de casa também é bom, tirando a parte de organizar a mudança e quando voce abandona sua cama. Eu nem lembro mais como era a minha (so de escrever isso, senti o fofinho dos seus gominhos, com a rigidez ideal para a minha coluna torta e aquele cheirinho de roupa limpa). Do meu edredom preferido eu ainda sinto falta!

Observar gente diferente, aleatoria ou intencionalmente, faz com que olhemos mais para dentro, buscando nos encontrar. Nos vemos nos outros. Observamos mais facilmente no outro os nossos próprios defeitos. Copiamos os exemplos bons. Deixamos um pouco do nosso melhor (assim espero) nos outros também.

Surge a necessidade de mudar de pensamento, no sentido de atitude. É mais trabalhoso, envolve mudança de hábitos. Já falei sobre isso aqui. Mudar por fora nem sempre significa mudar por dentro. Mudar de ares e de lugar é mudar por fora. Mudar de pensamento é um processo interno.

Mudar de pensamento por si só não é pontual, é constante. Pensamos várias coisas, a todo o tempo. Mudamos sempre de pensamento, de ideias. Eu então que sou indecisa, nem te digo! Nesse texto mesmo podemos ver que minhas ideias vagam de um lado para o outro, a todo instante, mudando o rumo da narrativa.

Soube de um livro que trata do processo criativo de artes e tenta explicar a relação da velocidade do pensamento/ideia com sua execução. Para que o projeto saia, devemos gastar menos tempo pensando nele e mais executando o que foi pensado.

Mudar a mentalidade exige mais esforço. Acredito que reconhecer que precisamos mudar é o primeiro passo. E depois é encarar a vida diferente, buscando tornar as coisas mais leves. Falar é fácil. Por isso vou falando, agora até escrevendo. Estou me evangelizando mesmo. Botar em prática esse discurso é o caminho para a mudança real de vida!

E vocês, de onde estão vindo? Para onde estão indo? O que têm encontrado no caminho? E as suas mudanças? E as faces novas que andam encontrando? E as pessoas que estão sempre ao lado? O quanto vocês andam observando do mundo ao redor? E as lições aprendidas? E para dentro, estão lembrando de olhar? Contem aí!

Ou, ao menos, pensem…

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