(Crítica) Da tua Rosa

Maria Anna Leal Martins
Maria Anna Martins
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4 min readAug 8, 2019

O que dizer sobre “Da tua Rosa”? Acabar de ler foi como sair de um sonho encantador, até encostei o livro no peito e suspirei. Acredito que fadas têm esse poder: mesmo em suas versões apavorantes, conseguem nos deixar entorpecidos com magia. No caso de “Da tua Rosa”, da autora paraibana Laís Lacet, as fadas não eram assustadoras ou más, como são retratadas em algumas lendas.

Na verdade, os humanos do livro, presos nas crenças de suas religiões, acreditavam justamente nisso: que as fadas são bruxas malignas. Rosa, no entanto, nos mostra que cada uma das mulheres com asas têm tantos sentimentos e confusões pessoais (ou até mais) quanto os humanos.

O livro conta a história de uma fada que troca cartas com um rei. Rosa narra a aventura que viveu em Ealin, desde os momentos mais doces de sua vida até os mais amargos. Cartas de outros personagens também preenchem o livro revelando informações que, aos poucos, completam o belo quebra-cabeças que Laís construiu para seus leitores.

As cartas nem sempre estão em ordem cronológica e por vezes precisei voltar para ler relatos no início do livro, lembrar de um detalhe, descobrir, com surpresa, que uma personagem na verdade era outra.

Ao mesmo tempo, a delícia da narrativa, uma prosa tão bonita e reflexiva, lhe transporta completamente ao mundo criado pela autora. Nossa, cada palavra desse livro é saborosa para as nossas mentes!

O mundo é bem descrito e nos faz viajar por suas florestas e cidades. Laís ambienta muito bem sua história e, mesmo eu não sendo fã de grandes descrições em livros, me apaixonei pelas da autora.

Os personagens também são singulares. Suas jornadas são intensas, seus psicológicos bem trabalhados e o livro deve trazer uma centena de reflexões. Uma sabedoria implícita espetacular para uma autora jovem, mas com personagens tão profundos e maduros.

Não há outros adjetivos para “Da tua Rosa” além de encantador e delicado.

Mas, apesar da maior parte ser maravilhosa, é preciso pontuar algumas coisas que, em minha humilde opinião, poderiam ter melhorado.

A começar pelo romance: se você é uma pessoa tão romântica quanto eu, com certeza vai passar boa parte do livro esperando que narrem o início do envolvimento amoroso. E, quando enfim a relação surge, e você se prepara para os suspiros… bem, não é muito envolvente. É até estranhamente rápido, e meio sem fundamento. Eu não vi a relação começando a nascer, ela só caiu lá. Muito tempo depois de um conflito, os personagens se apaixonaram por razão nenhuma aparente além de culpa e beleza. Talvez um pouco de empatia e curiosidade. Mas nada profundo.

No entanto, é preciso dar o crédito: o início do envolvimento pode não ter sido tão embasado, mas as cartas revelam o amor que os personagens passaram a sentir um pelo outro. Novamente, as palavras encantador e delicado se aplicam.

Ela só deveria ter caprichado um pouquinho mais no início do romance do casal e talvez um pouco mais no meio dele também.

Além disso, a edição que tenho possui alguns errinho de revisão, os quais a autora disse que seriam resolvidos na próxima edição. Se você adquiriu o exemplar antigo, não se preocupe: você não leu errado, de fato há algumas informações conflituosas no livro.

Mas, honestamente, como culpá-la? Laís criou um mundo maravilhoso e são de fato pequenos detalhes que em nada arruínam a história e que qualquer ser humano que fosse fazer esse livro estaria passível de erro.

Entenda, leitor, essa não é uma obra para se ler rápido: é um livro de detalhes que devem ser apreciados, saboreados e sentidos. É um livro que cresce sua imaginação e com certeza merece mais destaque no cenário literário brasileiro.

Leia com atenção, sinta o que os personagens têm a dizer e viaje nas cartas de Rosa. É só o que posso desejar a você.

Sobre a diagramação e a capa

A capa é linda e a diagramação também. Rosas permeiam os inícios dos capítulos, já dando a sensação mágica do livro.

A autora também usou do itálico como recurso para identificar quando os personagens estão falando em línguas diferentes e isso foi muito bom. O mapa de Ealin ( o mundo de Rosa) também saúda o leitor em sua entrada no livro.

Muito bom e muito bonito. E a nova edição, que receberá algumas mudanças, promete ser ainda mais bonita, estou ansiosa para ver.

Sinopse:
VENCEDORA DO PRÊMIO INTERNACIONAL WATTYS 2017

Majestade,

Dizem teus sábios que para cada história, há três versões: a sua, a minha e a verdadeira. Ouso discordar. Todo evento em nosso mundo possui infinitas versões, cada uma com sua própria dose de veracidade e fantasia.
Gosto de pensar que as mentiras que contamos foram necessárias — às vezes, é preciso mentir para proteger. Algumas me afligem, mas sei bem que chegará o tempo de nossa história ser revelada com cautela.
Quando este dia chegar, Ealin não guardará mais segredos. As águas das fontes sagradas banharão nossos povos. Haverá sabedoria e cura. E, finalmente, poderemos caminhar lado a lado, em paz.
Até lá, é preciso me despedir.
De ti. De nossas aventuras.

Com carinho,
Da tua Rosa.

Sobre a nova edição de “Da tua Rosa”

O livro está para sair novamente na próxima Bienal de Pernambuco. Para isso, no entanto, é preciso ajudar a autora com uma nova tiragem. O projeto está em financiamento no Catarse, por este link.

Acredite, essa é uma obra que vale a pena ter em casa.

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