O Beijo

Maria Anna Leal Martins
Maria Anna Martins
Published in
2 min readMay 7, 2019

Obs: o texto contém abuso, apesar de não ser detalhado. Quem se sentir incomodado é melhor passar para outro conto como Indiretas e um D20

Photo by Alex Boyd on Unsplash

Eu lembro do primeiro beijo , aos 14 anos, no escuro do meu quarto, com medo.

Ele era um convidado, bonito, inteligente. Pensei assim que o vi entrar pela porta da frente que talvez fosse o homem mais bonito que já tinha visto.

O amigo de meu pai sentou a mesa conosco. Não troquei uma palavra com ele, mas volta e meia, entre uma frase e outra trocadas com meu pai, eu o pegava olhando para mim. Para minha boca?

Após o jantar subi para o meu quarto e enrolei no edredom fofo, mesmo sem ter frio. Pressionei meus olhos no travesseiro. Alguma coisa estava errada. A forma como ele me olhava. A forma com que os olhos encaravam, por segundos apenas, a minha boca…

(…)

Três horas após cair no sono senti a mão passando por minha coxa. Ele, sentada na lateral da cama, no escuro, sorrindo e fitando meus lábios. Só conseguia enxergá-lo pela leve lux que vinha de fora da janela.

As mãos subiram pelo meu corpo lentamente. Como quem passeia no shopping, sem pressa, apreciando a vitrine.

Eu respirava?

Um frio percorreu meu estômago e minhas pernas estavam tensas, geladas . Ele colocou as duas mãos espalmadas nas laterais do meu rosto.

Eu queria aquilo?

Grite.

Chame.

Faça Alguma coisa!

Mas eu não consegui

Ele se aproximou e encostou seus lábios nos meus. E aí veio a língua e aí eu não sabia mais o que fazer.

(…)

Uma semana depois tentei contar ao meu pai o que aconteceu, mas ele não acreditou. Disse ter sido um sonho, seu amigo jamais faria uma coisa dessas.

Após aquela noite, demorei cinco anos até conseguir beijar alguém novamente sem me sentir enjoada.

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